Parte IX - A obsessão do príncipe

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Apesar de ter comido o senzu, a moleza do fim de um dia demasiado comprido e cansativo abateu-se sobre mim. Afundei-me no sofá do salão da Capsule Corporation, espreguiçando-me ostensivamente. Recostei-me sonolenta, a ceder à mais absoluta das preguiças. A televisão estava ligada num programa animado de início da noite, mas o som de fundo, em que se misturava música, com exclamações entusiastas e gargalhadas contagiantes, não foi capaz de me arrancar do casulo onde me encerrava para esquecer o pesadelo que tinha vivido nas montanhas.

Bocejei ruidosamente, espreitando o monte de revistas pousado na mesa junto ao sofá. Poderia distrair-me com uma leitura leve, mas estava demasiado cansada até para folhear uma revista. Marquei mentalmente uma ida à manicure no dia seguinte, tinha as mãos numa desgraça, avaliei mirando-as com os olhos semicerrados. O cabelo estava salvo. Lavado e escovado, modelei os caracóis com espuma e gostei de ver como tinha recuperado a minha orgulhosa nuvem azul em redor do rosto. Assustei-me com a cara que vi refletida no espelho – tinha umas olheiras de meter medo. Haveria de dormir, naquela noite, com rodelas de pepino para acabar com elas.

Alisando a barriga por cima do tecido da blusa, recordei que Kuririn tinha dito que a metade do feijãozito que me tinha curado as mazelas não engordava mas, pelo sim, pelo não, no dia seguinte, para além da manicure, faria também uma visita ao ginásio. O que sabiam os homens sobre calorias?

Escutei vozes e vi os meus pais entrarem no salão. Estendi-me no sofá, cobrindo os olhos com os braços. Cruzei as pernas. Como previsto, a minha mãe bombardeou-me com perguntas, às quais não me apetecia responder. Detestava a maneira condescendente como ela me abordava quando estava preocupada comigo, tratando-me como uma adolescente em vez da mulher adulta que eu, efetivamente, era.

- Mama! – Interrompi. – Está tudo bem comigo. Só preciso descansar.

- É verdade que Son-kun regressou?

- Sim, mama... - suspirei.

O meu pai, que percebia melhor as minhas atitudes e que vinha sempre em meu auxílio, pediu à mãe que fosse ver a estufa e salvou-me do bombardeamento. A Sra. Brief estava agitada e eu percebi que não era apenas por causa da minha aventura nas montanhas quando ouvi o meu pai dizer, sentando-se na ponta do sofá que eu deixara livre, enquanto acendia um cigarro:

- Espero que o saiya-jin fique bem alojado. A tua mãe anda tão preocupada com ele, especialmente por causa da roupa. Não faz a mínima ideia do que veste um saiya-jin e já me disse que amanhã vai ao Centro Comercial para renovar o armário do quarto dos hóspedes. As mulheres têm com cada preocupação!

Espevitei-me. Sentei-me no sofá.

- Vegeta está aqui?

- Sim. Veio ter comigo esta tarde e pediu-me que o ajudasse nos treinos. Queria uma câmara de gravidade, igual àquela que eu tinha feito para Son-kun.

Bem, fazia sentido. Para onde iria ele treinar? Havia muitos lugares possíveis na Terra, sítios místicos, desafiantes, solitários, extremos. Mas nada como a Capsule Corporation, catedral da mais alta tecnologia do nosso mundo, onde poderia beneficiar dos conhecimentos do génio que era o meu pai, o Dr. Brief, ou do meu próprio génio.

Fazia duplamente sentido. Talvez a Capsule Corporation fosse semelhante a um lar, um porto de abrigo. Ele não conhecia outra casa. Estivera connosco e com os namekusei-jin, após o regresso de Namek. Chegara ali naquele dia, depois da viagem anual e infrutífera pelo espaço.

Fazia triplamente sentido! Fora o meu pai que desenvolvera a nave que Goku utilizara para viajar até Namek e que fora equipada com um convés especial onde se podia controlar a força da gravidade até um máximo de cinquenta vezes essa força. E fora por causa desse treino especial, mais umas poucas voltas do destino, que Goku atingira o nível dos super saiya-jin.

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