Parte XVIII - As surpresas inesquecíveis

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Trovejava lá fora. O som dos trovões chegava abafado ao laboratório onde trabalhava em mais um dos protótipos do meu pai. Fazia-o para me distrair, para me manter ocupada, quando estar grávida não era ocupação que bastasse. Entre as visitas ao médico, as compras de roupinha para o bebé e a decoração do quarto havia muita coisa a fazer, o que me deliciava. Frequentava ainda aulas de ginástica apropriada, que incluía exercícios físicos e natação. Uma canseira. Mas, por vezes, tinha de fazer mais do que concentrar-me na nova vida que aí vinha. Então, retomava o meu lugar na equipa de projetos inovadores do Dr. Brief, ou trabalhava nas minhas próprias ideias.

Apertava devagar os parafusos, unindo duas placas de circuitos, escutando distraída a trovoada. Sentava-me de costas para a porta e algum trovão mascarou o barulho que fizera a abrir-se e a fechar-se, porque não me dei conta dele ter entrado no laboratório.

- Já tens o meu equipamento pronto?

A voz de Vegeta perto de mim deixou-me sem fôlego, num primeiro momento. Tinha saudades da voz dele, percebi... Saudades dele, pronto. Desde o verão que não nos víamos. Tinham passado cinco, quase seis meses. O prazo que eu tinha dado a mim mesma para lhe fazer o tão desejado equipamento. Ah, ele lembrava-se... No segundo momento, endireitei as costas e, sem me voltar, disse com um toque de desprezo:

- Ao fim deste tempo todo sem nos vermos, é assim que me cumprimentas?

O silêncio dele foi esclarecedor. Apanhara-o desprevenido.

- O que é que queres dizer? – Perguntou verdadeiramente surpreendido.

- Continuas a tratar-me como se eu fosse a tua criada. Para com isso... Odeio que o faças! Eu não estou aqui apenas para te servir.

Voltei-me e espetei a chave de fendas que empunhava como um punhal e gritei:

- Se eu disse que fazia o equipamento, é porque te faço o raio do equipamento!

O rosto dele crispou-se enraivecido.

- E porque é que me estás a gritar?

Avançou com um punho erguido, mas eu não recuei. Mantinha a chave de fendas entre mim e ele, à laia de defesa. Mas Vegeta estacou como se tivesse batido numa parede invisível. Vi os olhos dele diminuírem como se acabasse de ver o fantasma de Freeza ao reparar na barriga redonda que sobressaía da minha bata de trabalho.

Ah! Chegara finalmente o dia de fazer o grande anúncio!

Mas fiz-me de desentendida... Estava aborrecida por ele se mostrar tão frio comigo, ao fim daqueles meses todos sem nos termos visto, quando o que eu mais desejava era que ele irrompesse pelo laboratório adentro, me tomasse nos braços, me beijasse e confessasse que precisava da minha companhia para aquela noite. Mesmo estando eu disforme e gorda.

Com a chave de fendas estendida, dei um estalo com a língua e disse de forma afetada:

- O teu equipamento está pronto, falta apenas alguns ajustes. Não o consegui fazer exatamente igual, mas tem a configuração necessária e é aquela a que estavas habituado. Fato inteiro de tecido, couraça, luvas e botas de material indestrutível.

A boca dele moveu-se. Engoliu, a custo. Disse a seguir:

- Ah... Sim? Está pronto?

- Está. Quero que o experimentes. – Baixei a chave de fendas, atirei-a para a bancada. – Quero que o testes na nave, com a máquina da gravidade. Se passar o teste, considero o protótipo aprovado e passo à produção. A partir desse, farei um conjunto de equipamentos, para quando os estragares nos treinos ou em cenário real de batalha, teres outro para vestir. Vais ter um guarda-roupa do qual te irás orgulhar. Um pouco monótono, mas ao teu estilo. Concordas?

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