Parte XI - Os pesadelos e os sonhos que nos engolem

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Preferimos chamar o médico à Capsule Corporation, em vez de levarmos Vegeta ao hospital. Haveria menos explicações a dar e o saiya-jin seria melhor acompanhado se recuperasse em casa do que num quarto anónimo. Ou talvez o que o meu pai tinha em mente, quando fez a sugestão, ao mesmo tempo que marcava o número do nosso médico pessoal, fosse mais vigiar o saiya-jin. Tinha a consciência de que albergávamos no nosso lar um potencial assassino, uma bomba prestes a rebentar. Quanto menos exposto ao mundo exterior, melhor seria para nós, para ele e para as outras pessoas.

Assisti impaciente às explicações do meu pai sobre o que tinha acontecido. Um acidente envolvendo uma experiência com um protótipo. O rapaz era seu assistente, estava a ajudá-lo na experiência. Gostei da forma protetora como o meu pai tratou Vegeta. O rapaz...

Acomodámo-lo no quarto de hóspedes. Foram colocadas garrafas de oxigénio ao lado da cabeceira a alimentar uma máquina que o médico requisitara do hospital local, para ajudar o paciente a respirar. Uma trupe de enfermeiras limpou e ligou os ferimentos, foi medicado e manuseado como um boneco. Durante os tratamentos, Vegeta não recuperou a consciência. O prognóstico não era muito favorável, mas com o repouso adequado e cumprindo as ordens médicas, seria possível recuperar totalmente e sem mazelas significativas.

Aguardei no exterior do quarto. Quando o médico saiu, após as enfermeiras e os técnicos de laboratório que tinham montado a máquina, entrei. Senti um nó na garganta ao ver o orgulhoso saiya-jin prostrado naquela cama, completamente indefeso. A máscara de oxigénio cobria-lhe o nariz e a boca entreaberta, ligaduras brancas envolviam-lhe a fronte, tinha os cabelos suados. Estava tapado até ao pescoço, o corpo magoado escondido do olhar. A minha mãe impou atrás de mim, aconchegada pelo meu pai que lhe passava um braço pelos ombros.

- Pobre Vegeta-chan...

- Vamos, okaasan – disse o Dr. Brief. – É melhor deixá-lo. O rapaz precisa descansar.

Os meus pais saíram do quarto, encostando a porta atrás deles.

Mas eu fiquei.

Observei Vegeta condoída, enquanto procurava desatar o nó que me estrangulava e engolir a saliva que guardara na boca. Yamucha tinha-se ido embora com Puar, assim que o meu pai chamara o médico. Ajudara a carregar Vegeta para o quarto e ainda bem que tinha estado ali, pois nos instantes iniciais, após o acidente, o saiya-jin debatia-se, queria pôr-se de pé e regressar aos treinos. Agradecera a Yamucha pela ajuda e a nossa despedida, antes de ele partir para a sua longa viagem de recolhimento, foi estranha e fria. Eu só pensava no saiya-jin.

Vegeta respirava devagar, oxigenado pela máquina, abandonado num vazio onde eu não podia ir para o ajudar. Bem, consolei-me com o facto de já o estar a ajudar bastante. Dei meia volta, suspirando, vencida pelo seu estado inconsciente. Não faria mais nada ali e o meu pai tinha razão – devíamos deixá-lo descansar. O tempo, os remédios, os nossos cuidados e a sua força física haveriam de o curar. Por agora, bastava o tempo...

Ele reagiu, finalmente. Falou, abafado pela máscara de oxigénio. Acerquei-me, esperançada, mas continuava inconsciente. Falava, porque sonhava. Da forma como tremia, de pálpebras bem cerradas, era mais um pesadelo.

- Ka... Kakaroto!

Apalpei-lhe a testa. Ardia em febre. Fui buscar uma bacia com água e alguns panos que utilizei para refresca-lo. Não despertara, mas permanecia agitado, preso no pesadelo. Chamei pelo nome dele, tentei sossega-lo como se faz aos bebés.

- Shsss... Está tudo bem...

Tenho a certeza que não me ouvia. Lutava dentro do pesadelo, possivelmente querendo escapar desse terror sombrio, mas querendo igualmente enfrentá-lo e vencê-lo. Repetiu muitas vezes o nome saiya-jin de Son-kun.

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