Parte III - Nas montanhas do fim do mundo

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- Não estás a falar a sério, Bulma-san! – Exclamou Puar.

Roía as unhas, a combater a parte racional de mim mesma que tentava impedir-me de avançar, mas tinha tomado aquela decisão e não iria voltar atrás. Oolong agitou as mãos, meneando a cabeça e afastando-se.

- Não contem comigo! Não irei atrás de vocês nessa loucura.

- Bulma-san?

- Puar, não vou perder esta oportunidade – escutei-me a dizer.

- Mas é demasiado perigoso.

- Neste momento, não existe nenhum lugar seguro na Terra com Freeza a aproximar-se. Se ninguém o impedir, ele vai matar-nos a todos e destruir este planeta.

- Precisamente, se ninguém o impedir. Yamucha e os outros foram ao encontro dele para evitar que ele destrua a Terra.

- Quero vê-lo!

Abri a caixa das cápsulas e escolhi um pequeno veículo aéreo de transporte, fácil de conduzir e relativamente rápido.

- Mas, para que queres tu ver Freeza? – Indagou Puar admirado.

- Não o consegui fazer em Namek. Apareceu uma segunda oportunidade e não a vou desperdiçar. Calculo que não haverá uma terceira...

Oolong berrou, escondido atrás de umas plantas:

- Estás louca, Bulma! Freeza vai matar Yamucha, Vegeta e todos os idiotas que se atravessarem na frente dele. E vai matar-te a ti também! Não vás com ela, Puar!

Mas Puar flutuava atrás de mim.

- Ouviste Oolong? Ele tem razão, sabias?

Soltei uma gargalhada demente.

- Eu sei! Só existe uma pessoa capaz de derrotar Freeza. E essa pessoa é Son-kun.

- Mas Goku-san ainda não regressou.

- Talvez tenha regressado entretanto e nós não o sabemos.

Atirei a cápsula para diante que se abriu com um estampido e fumo branco. Por detrás da nuvem surgiu um monolugar voador, de cor amarela. Saltei para o lugar do piloto, agarrei nos comandos e liguei a ignição.

- Tem confiança, Puar! Yamucha e Vegeta vão proteger-nos.

***

Venci a curta distância que nos separava do sítio onde aterraria a nave de Freeza mais depressa do que estava à espera. Não pensava no perigo em que me metia, à medida que deixava o conforto e a segurança da grande metrópole ocidental onde morava e me dirigia para norte, para um local montanhoso e agreste. Fora nessa direção que vira partir Vegeta e depois Yamucha e estava certa que iria encontra-los rapidamente.

Puar acalmara-se e mantivera-se sossegado, pousado no meu ombro, enquanto eu pilotava o monolugar. Distraía-me a pensar que seria aborrecido estragar a minha permanente que ostentava com tanta vaidade e que me fazia ainda mais bonita. Nunca visualizei corretamente a situação que iria enfrentar dali a uns poucos minutos. Julgava que iria ser rápido. Uma explosão, uma luz incandescente e tudo terminaria sem muito sofrimento, eu, o meu penteado e o planeta, sem estragar nada, para me apresentar igualmente bonita no Outro Mundo.

Avistei primeiro o cor-de-rosa berrante da camisa de Vegeta, que contrastava com o castanho da rocha que cobria a paisagem. Acenei um adeus esfusiante chamando primeiro por ele:

- Yuhu!! Vegeta!!

Depois, chamei pelo meu namorado:

- Yamucha!

Voltou-se para me ver aterrar o monolugar. Desliguei o motor do veículo pressionando o botão da caixa de comandos e saltei para o chão com agilidade. Puar deslizou pelo ar alegremente, mas deteve-se ante o berro indignado de Yamucha:

- Mas o que raio fazem vocês aqui?

- Viemos ver Freeza – respondi num tom casual.

- Estás louca, Bulma!

- Não.

E repeti as minhas razões:

- Não o vi em Namek, quero vê-lo aqui. Duvido que tenha outra oportunidade. Ele não vai fazer explodir a Terra?

- Este lugar é perigoso!

Cruzei os braços, amuada.

- Daqui não saio – anunciei.

De costas para nós, Vegeta espreitava a conversa, de mãos enfiadas nos bolsos.

Yamucha não conseguiu responder-me. Chegava Ten Shin Han, acompanhado de Chaozu e desviou a atenção para eles. Trocaram algumas palavras preocupadas, Ten Shin Han disse a Vegeta que não gostava da presença dele, Vegeta insultou-o. Yamucha interpôs-se entre eles, a dizer que não deveríamos lutar entre nós, o inimigo era outro. Vegeta ignorou Yamucha, gritou-lhes para camuflarem o ki, pois os soldados que acompanhavam Freeza possuíam scouters que os conseguiriam detetar facilmente, se não o fizessem. Apontou para o namekusei-jin que estava a camuflar o seu ki desde que chegara ali, há algum tempo. Vi a capa branca de Piccolo a adejar atrás dele, que se erguia gigantesco sobre um rochedo.

Os últimos a chegar foram Kuririn e Son Gohan. Voltei-me para o miúdo e perguntei entusiasmada:

- E o teu pai? Onde está Son-kun?

Gohan abanou tristemente a cabeça.

- Ainda não voltou.

Um formigueiro nasceu-me na boca do estômago. Senti-me a desanimar, os meus ombros descaíram. Se estivera confiante, já não conseguia repetir esse sentimento.

O berro de Piccolo aterrou-me.

- Eles chegaram!!

No céu, por cima dos picos das montanhas mais longínquas, na linha do horizonte, surgiu uma nave redonda e imensa, um disco voador titânico, a voar num silêncio aterrador. Agarrei-me a Puar e Puar agarrou-se a mim. Fechei os olhos à medida que a nave se aproximava, deslocando enormes porções de ar, quase arrancando-me do chão no vácuo criado pela sua aproximação e voo rasante ao local onde estávamos todos. Mas o medo não era um exclusivo meu e do gato azul – os guerreiros estavam amedrontados e tensos, rangiam os dentes, apertavam os punhos, crispavam a testa.

A nave passou por cima das nossas cabeças e desapareceu atrás das montanhas, onde iria pousar. Vegeta comandou as operações. Reiterou a ordem de esconderem o ki e indicou que deveriam continuar a pé, vencendo o terreno irregular que os separava do local de aterragem da nave. Estremeci, mas decidi-me a não dar parte de fraca – iria onde todos eles fossem.

Gohan ajudou-me em parte do caminho, enquanto escalávamos uma parede íngreme de um rochedo. Pela primeira vez, enquanto fincava os pés nas saliências exíguas da rocha, comecei a sentir ligeiras dúvidas sobre a minha presença naquele lugar. Sabia que a minha escolha não tinha sido muito racional, mas todas as minhas escolhas tinham esse cunho de desafio. Sacudi a cabeleira azul, limpei a testa e suspirei satisfeita comigo própria, reconquistando a confiança perdida. Tinha terminado a escalada, vencido o primeiro obstáculo e continuava empenhada em ver o terrível Freeza com os meus próprios olhos. Vegeta seguia na dianteira, Yamucha acompanhava as passadas cautelosas de Kuririn. Não havia que ter medo. O saiya-jin haveria de me proteger.

Sorri, com novo suspiro. Vegeta iria salvar-me, sabia-o!

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