Prólogo

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ALISSA

Existem muitas coisas que eu nunca pensei em ver, ou viver durante meus dezoito anos, nem depois deles. Coisas extremamente loucas e que qualquer pessoa acharia insano, mesmo que só a ideia de algo assim acontecer todos os dias. Debaixo de seus narizes.

Discretas, ou nem tanto assim, mas que há milênios passam despercebidas.

Quando meu avião pousa na Transilvânia, posso finalmente respirar fundo e admitir o quanto senti saudades de casa. O quanto senti falta desse ar gélido cortante, e da sensação de surpresa, nostalgia e esperança que esse lugar consegue me proporcionar todas as vezes em que piso aqui.

Os prédios antigos e modernos conectados me dão a sensação familiar de que passado e futuro andam lado a lado. -E como eu sei disso.

Tudo se ajeita e funciona da forma mais violenta e galanteadora possível. Ferro e madeira em uma briga eterna pelo poder...como os olhos profundos e intensos dos quais eu sinto ansiedade para reencontrar.
O bem e o mau, perigo e segurança, esperança e preocupação. Humano e sobrenatural. Tudo nesse lugar tem duas naturezas opostas que se enlaçam como fios de uma mesma corda, sem chance de separação.

–Sabe se... – me viro para perguntar para o meu fotógrafo e companheiro de aventuras.

–Reunião. – Tyler responde sorrindo – Ele disse que queria muito ter ido te buscar no aeroporto, mas precisou participar de uma reunião com os advogados para resolver aquele problema com os convênios.

–E quando é ele que ele não tem que participar, né? – desbloqueio meu celular olhando as mensagens de desculpas e promessas que sei que serão cumpridas com mérito.

–É, Ali. Você deu a sorte grande. – Ty pisca quando sai do elevador, me deixando, para seguir até seu próprio apartamento.

O corredor no qual muitos apartamentos estão alocados parece enorme até eu alcançar minha porta, puxando a mala pesada até o espaço amplo no qual vivo na maior parte do tempo.

Casa.

O cheiro de limpeza, e do perfume marcante, significa que eu não estou em um lugar qualquer, mas sim em casa. Lugar que não foi fácil de encontrar, muito menos de conquistar.

–Oi meus amores! – pego os dois cãozinhos no colo indo até a varanda panorâmica e espaçosa – Vocês estão bem?

Às vezes, eu nem acredito em tudo o que aconteceu até chegar aqui, em tudo o que enfrentei para ter isso.

É muito fácil esquecer das dores quando se está em um momento estável e feliz, mas não é como se eles fossem tão constantes assim. O mundo sempre dá um jeito de aumentar as ondas, para garantir que a gente saiba o quanto é bom estar no barco.

Não consigo imaginar que eu encontrei refúgio e segurança em quem jamais imaginei. Em alguém que me viu quando nem eu mesma enxergava o que estava me tornando, que confiou em mim quando eu já não confiava, no momento mais difícil e importante da minha vida. Que me mostrou um mundo novo, uma segunda chance de viver. E de viver mesmo, uma vida completa. Uma vida com aventura, ás vezes com discussões e o mais importante, repleta de amor.

E como tudo isso aconteceu?

Foi bem aqui na Transilvânia, atrás de um campo de acônito e cercado de uma floresta de carvalho branco e pinheiros.

Se tiver que procurar, jamais vai encontrar.

Se quiser, só precisará pedir.

E se tiver ao menos um resquício de bondade no coração... Parabéns! Você encontrou seu novo lar.

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