ALISSARespirar.
Eu posso respirar.
Depois de meses trancada na escuridão dentro e fora de mim, enfim sinto que posso respirar.
Ainda existe um grito agoniado preso na minha garganta e ela ainda quer tomar o controle, mas preciso acreditar que o pior já passou. Se eu não acreditar, não vou conseguir sair daqui. Mas esse é o último lugar onde devo ficar.
A sensação de estar do lado de fora não tem preço. O mundo continua bem aqui, diante dos meus olhos. Mesmo que tenha acabado pra mim várias vezes, está aqui.
A brisa é como música para os meus ouvidos, juntando-se ao sol que luta para brilhar entre as nuvens no fim da tarde, e faz fagulhas deliciosas se espalharem pela extensão da minha pele.
Não deveria, mas tudo em mim vai contra a natureza da minha, suposta, 'espécie'. Contra o monstro que devia ter me tornado. Eu não sou ela, e não pretendo me deixar vencer, por mais doloroso que seja.
Até meu último segundo, serei eu.
Uma pequena mala emprestada me espera ao lado das duas das únicas pessoas a quem consigo dirigir a palavra neste lugar, e mesmo que eu não veja a hora de sumir daqui, parece que tem chumbo nas solas dos meus sapatos enquanto caminho até eles.
–Nunca vou esquecer o que fizeram por mim. Nunca. – digo com sinceridade, tentando exibir uma voz firme – Nem sei como agradecer.
Michael e Evy são mais duas das várias criaturas sanguinárias do Clã, mas quando penso neles só consigo vê-los como meus anjos da guarda, enviados sei lá por quem. Se não tivessem cuidado de mim, estaria morta agora.
Ou pior, condenada a passar o resto da eternidade -da forma mais literal possível- no meu maior pesadelo.
–Montiel, você só precisa prometer que nunca mais vai colocar os pés nesse lugar. Já é mais que suficiente pra nós. – Michael abre seu sorriso gentil, que eu realmente nunca vou tirar da minha cabeça.
–O mais longe que puder. –Evy completa –Você merece ser feliz, Ali.
Assinto, mas o bolo na minha garganta me impede de responder qualquer coisa coerente. Me aproximo e a abraço apertado, murmurando mais um agradecimento.
–Desculpa por ele, mas foi o único acordo que consegui com o Fletcher. –Michael inclina a cabeça para um brutamontes mal encarado, que me espera ao lado do carro.
Braços largos cobertos por uma jaqueta grossa de couro, tatuagens visíveis em suas mãos e pescoço, com uma barba e cabelos volumosos no mesmo tom claro. E a principal característica: os olhos maldosos e impiedosos que todos aqui compartilham.
–Só quer confirmar que você foi mesmo, não vai fazer nada com você. – explica diante do meu olhar inseguro –Sabe como é, só confia nos caras dele.
Considerando que estou escapando disso, jamais me atreveria a reclamar
–Tudo pra sair daqui.
–Boa sorte, Ali! –o loiro finaliza, me dando coragem pra pegar a mala e seguir rumo ao carro.
–Quem sabe a gente se vê por aí um dia! – Evy diz por último, me fazendo virar para trás por breves segundos.
Seu rosto esboça um sorriso gentil, mas ela é a única que consegue, sua atitude tranquila é quase assustadora. Enquanto volto minha atenção para frente, juro por tudo que vejo um vulto a alguns metros. Está me observando com seus olhos gélidos, capazes de gelar minha espinha e travar minha respiração.
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Criaturas da Noite
FantasyDizem que os olhos são a janela da alma, e os de Alissa Montiel sempre se destacaram ao longe. Brilhantes como pedras preciosas, misteriosos como uma galáxia desconhecida, são uma mentira. Mentira que Alissa odeia. Não vê nada de luminoso em si mes...