ALISSAOuvi muitas vezes que Harvey Morningstar é o instrutor mais severo desse lugar, e de todos os outros lugares. Agora tenho certeza disso por mim mesma. Pensei que estivesse sofrendo nos treinos do diretor Simon, mas parecem bem menos assustadores depois do que tenho passado no horário extra. É mais fácil de acreditar que Harvey está tentando me matar, do que me ensinar alguma coisa, e tenho certeza de que daqui a pouco ele vai conseguir.
Mesmo assim, foi a melhor decisão que tomei em muito tempo. Meus traumas ficam esquecidos enquanto estou ocupada tentando parar em pé, sentindo dor em músculos que eu nem sabia da existência antes semana passada. Até quando vou aguentar já não sei, pois cada dia parece pior. Mas de qualquer forma, limites existem para serem desafiados não é?
Harvey me derruba pela milésima vez, com um baque alto que deixa minha visão embaçada.
Sou péssima atirando com quaisquer armas, minha velocidade é uma piada, e não consigo me concentrar o suficiente para ser estrategista. Não tenho talentos. E o vampiro disse que eu não aguentaria mais de oitenta segundos antes de ser destroçada se me colocasse em um simulador de adversários que fica ao lado da arena de treinos.
Sim, até inimigos de luz me liquidariam com facilidade. Talvez porque eu não preciso de mais inimizade do que já tenho em mim mesma, mas nunca falei sobre isso, o Original já me acha patética o suficiente.
E de novo. Apenas alguns instantes depois de ter me levantando, bato contra o chão em uma pancada surda que abafa um gemido de dor. Morningstar continua em pé na minha frente, inatingível e sem uma gota de suor visível. A maior ameaça que faço é contra sua paciência. Já até deixei de me preocupar com sua expressão sempre descontente, e o fato de não existir uma gota de piedade ou remorso correndo por suas veias milenares.
Forço meus joelhos a me sustentarem quando fico em pé novamente, levantando minha guarda inútil. Não abro a boca para reclamar, nem demonstro o quanto as últimas pancadas me deixaram zonza. Estou pronta para ser atacada de novo, para falhar ao tentar me defender e continuar assim até o fim do horário. É o que mereço afinal, por ser uma incompetente.
Mas ao invés disso, os olhos escuros de Harvey são o que me atacam cheios de decepção e desdém:
–Basta, Senhorita Montiel. – palavras que me desestabilizam mais do que qualquer golpe que ele poderia ter desferido – Não vou mais treiná-la.
–Disse que podia me ajudar. – indago, ignorando o bolo que se forma na minha garganta toda vez que falo com ele –Você me prometeu.
–E eu posso. – coloca os braços atrás do corpo, inabalado – Não significa que vou.
Dou um passo pra trás, ofendida mas sem forças para reclamar.
Decepção é a palavra. A única vez que alguém me estende a mão, recolhe com a mesma velocidade, como se não fosse nada. A única saída que eu consigo ver, não é importante para ele.
–Eu ajudo aqueles que querem melhorar, Alissa. Não é seu caso.
–Não é o meu caso?! O senhor tem ideia do - – Harvey balança os ombros, mostrando não se importar com o que quer que eu tenha a dizer.
–Não tenho. Me baseio apenas no que sei, eu sei de muitas coisas. Estou farto desse sacrilégio! Está se machucando e gastando meu tempo. – explica, assim, simples enquanto traz os braços pra frente – Você não vai a lugar nenhum, Alissa. Se eu te colocar naquele simulador que nem é letal, vai sair carregada. Shade não tem experiência com o equipamento e consegue tirar de letra saindo com um arranhão ou dois, inúmeros vampiros saem intactos... mas se eu te pôr ali, você não aguenta nem meio minuto em pé.
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Criaturas da Noite
FantasyDizem que os olhos são a janela da alma, e os de Alissa Montiel sempre se destacaram ao longe. Brilhantes como pedras preciosas, misteriosos como uma galáxia desconhecida, são uma mentira. Mentira que Alissa odeia. Não vê nada de luminoso em si mes...