ALISSAMãos geladas seguram minha cintura, é o mesmo toque ousado de sempre. Tão bom no começo, divertido e audacioso. Começo a me soltar, curtindo o momento. Mas em um piscar de olhos, esse mesmo toque se torna um incômodo, queima minha pele mesmo por cima das roupas. Só me aperta mais, e mais.
Meu corpo agora é estranho pra mim mesma, desconfortável, e selvagem. Mas não importa o quanto eu grite ou tente me salvar, ele só cresce e cresce, pra cima de mim. Meu desespero não vale de nada pra ninguém. Não me escutam, não me veem, não sabem sobre mim.
Antes que eu percebe, estamos totalmente sem roupa e eu sei exatamente o que vai acontecer. Fecho os olhos com força, como se fosse me livrar de algo. Mas não vai. Não posso fugir, não consigo me esconder.
Então... nada. Ele sumiu, me deixando sozinha. Mas não posso comemorar, estou por conta própria em uma escuridão sem fim. Talvez esse seja o meu lugar, monstros pertencem às sombras. Nunca vou sair.
Abro os olhos em pânico quando não consigo respirar, e a primeira coisa que agarro são os lençóis grossos da Academia. Nada faz sentido nos primeiros segundos, a não ser meu coração disparado e meu fôlego travado na garganta. O quarto está em um movimento rápido e confuso demais pra acompanhar.
Mas no meio desse turbilhão consigo ver o rosto sereno e relaxado de Rose, o que clareia as coisas pra mim. O mundo não está acabando, é só o meu que está acabado há tempos e nunca realmente chegou a nenhum fim.
Pesadelos não deviam mais ser uma novidade, mas ainda são suficientes pra virar minhas emoções bagunçadas ainda mais de cabeça pra baixo. Tudo está exatamente no mesmo lugar de quando fui dormir, mas de uma coisa tenho certeza, não vou mais me encostar em nenhum travesseiro essa noite nem que forcem.
Meio sem rumo, pego um casaco pesado e saio do quarto sem fazer barulho. Preciso de ar fresco, nem que seja uma fresta nublada e opaca do céu, só preciso de algum lugar que não me deixe sufocada assim.
Sabendo da quantidade de criaturas habitam esse lugar, dentro e fora dos portões de ferro, eu pensaria muito antes de sair sozinha. Mas ultimamente? Me sinto muito mais disposta a enfrentar qualquer monstro do lado de fora da minha cabeça, só para não lidar com os que estão aqui dentro.
As escadas estão totalmente desertas e meus passos ecoando por todos os corredores me dão tantos calafrios quanto o ar gelado a minha volta. O inverno não perdoa, e do lado de fora do prédio o vento está congelante. Não qualquer vento frio, é congelante de verdade deixando as pontas dos meus dedos dormentes e as minhas bochechas doendo só de tentar passar cinco minutos ali, tentando me recompor.
Não encontro a paz que estava procurando, é como se as sombras estivessem me encarando, como se alguma coisa estivesse só esperando para aparecer e me raptar. Ninguém se lembraria de me procurar. Alissa perdida, sabe-se lá onde, pra sempre.
Derrotada volto pra dentro, mas não para minha ala. As luzes ligadas da cafeteria, me chamam a atenção, nem sonhava que ainda estaria funcionando a essa hora. Ainda estou perturbada demais para questionar minha sorte, então vou pra lá e me sento em uma mesa no canto do lugar, tentando passar despercebida no ambiente deserto.
Fico sozinha por poucos minutos, mas logo ouço os passos de alguma outra pessoa que não gosta da ideia de descansar. Por não ter pra onde correr, encolho os ombros e tento passar despercebida. No começo penso que funciona, pois os passos passam direto por mim e se aproximam do balcão.
O garoto parece concentrado, mas não sonolento. Parece bom, ele lida com o que quer que esteja se passando em sua vida pra trazê-lo aqui uma hora dessas, enquanto espero amanhecer para continuar fazendo tudo o que está planejado no meu horário, como se tivesse motivos pra isso.
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Criaturas da Noite
FantasyDizem que os olhos são a janela da alma, e os de Alissa Montiel sempre se destacaram ao longe. Brilhantes como pedras preciosas, misteriosos como uma galáxia desconhecida, são uma mentira. Mentira que Alissa odeia. Não vê nada de luminoso em si mes...