O dia já estava amanhecendo, William ainda sentia seu coração na garganta e o estômago afundar. O que diabos faria da vida agora? Prometera a Emma que com apenas um motivo largaria tudo e iria atrás de Fátima, mas não esperava como movito uma... Gravidez. Céus! Ele engravidou a mulher que jurou ódio e distância para o resto da vida. Não sabia se ficava feliz, chocado, desesperado, triste... Nem sequer conseguira se acalmar, imagine descobrir o que estava sentindo naquele momento!
Um suspiro alto escapou de seus lábios e ele fechou os olhos novamente, tentando pegar no sono por pelo menos uma hora. Precisava daquele sono, precisava ter um pouco de paz. Só um pouquinho, o suficiente para clarear sua mente e ele conseguir pensar em alguma coisa certa.
— Droga... Droga, droga, droga, droga! — Ele murmurava loucamente, enquanto se sentava na cama e puxava os próprios cabelos. Não conseguia relaxar, não conseguia dormir, não conseguia fazer nada a não ser pensar em Fátima e na criança que, agora, estava dentro dela. Queria poder abraçá-la e dizer que ficaria ao seu lado, mas não podia simplesmente bater na porta dela e dizer isso, ou talvez pudesse e não tinha coragem. Mas com que cara chegaria em Fátima e diria tais coisas? Oras, ela o queria na cadeia!
William jogou as cobertas para o alto e caminhou devagar até a cozinha, afinal, quem sabe um copo d'água ou de café não resolvesse?
Ligou a cafeteira e esperou que o café ficasse pronto sentado na cadeira e com o rosto enterrado entre as mãos. Por que sua vida tinha que ser tão complicada? Estava cansado daquilo tudo, estava cansado de sempre se ferrar por pouca coisa, estava cansado de se envolver com jornalistas (por mais que tivessem sido apenas duas), estava cansado de viver daquele jeito, estava cansado de focar sempre na felicidade dos outros e na sede de vingança contra o assino do pai, aquilo não o levaria a lugar algum e ele sabia disso. Mas ficava ali, sempre batendo na mesma tecla. Quando ele cairia na real e iria desistir de tudo? Quando iria voltar a focar em si mesmo e pensar no orgulho que seu pai sentiria se ele fosse totalmente honesto?
William riu ironicamente de si mesmo.
Honestidade.
Quem ele era para falar sobre honestidade?
— Acordado tão cedo? — a voz calma e baixa de Emma ecoou por toda a cozinha, fazendo William levantar o rosto devagar e encarar a amiga.
— Nem sequer dormi — ele respondeu suspirando em seguida. — Como vai ser agora, Emma?
Emma fitou o chão e não respondeu, apenas caminhou devagar para a cafeteira ligada. O que ela responderia? Que Fátima tem um problema e a criança corria riscos de não viver? Aquilo não era assunto dela. Já fizera muito em dar um motivo bom para William desistir de todas as suas loucuras e correr atrás de Fátima. Não podia se meter mais, falar mais. Aquilo não era de sua conta.
— Agora não é mais comigo, William — ela mordeu o lábio inferior e se virou para ele. — Não posso simplesmente te contar o que está acontecendo. Não é da minha conta, por mais que eu seja sua amiga e te conheça há muito tempo. O assunto é entre vocês. A Fátima precisará ir em um evento da Redação hoje, lembra? — ela caminhou devagar e se sentou na cadeira de frente para William. — Ela nos deu convites. Eu e Charlie não vamos, posso te dar o meu.
— Eu não vou saber como agir — ele suspirou de novo. — Eu não vou e...
— Você disse que só precisava de um motivo para ir atrás dela, William. Não jogue essa chance fora — Emma segurou a mão do rapaz sobre a mesa. — Já está querendo desistir? Cadê o William que insiste no que quer? Sinto falta dele.
— Não sei se é isso que eu quero — William murmurou encarando a mesa. — Realmente não sei, Emma. Mas... Tem uma criança em jogo agora e...
— Se você a ama, William, vá — Emma apertou mais a mão do amigo. — Apenas não desista agora. Faça o que o seu coração mandar.
— Não venha falar de amor comigo agora, Emma — ele riu forçadamente e puxou a mão para trás. — Eu não sei o que é o amor há muito tempo.
— Não vamos começar de novo — ela murmurou. — Tenho uma notícia para você. Só não sei se é boa ou ruim.
— Desde que não diga que mais alguém está grávida de mim... — ele deu de ombros e Emma riu baixo, mesmo naquela situação William fazia piadas. Isso sim era uma coisa admirável nele.
— Vou morar com Charlie — ela soltou de repente, dando de ombros e virando-se para o outro lado da cozinha.
— Você o quê? — ele perguntou enquanto se esticava para puxar o rosto de Emma em sua direção. — Como assim? Já vai me largar?
Emma riu fraco e fitou a mesa, suspirando.