Fátima tinha passos apressados enquanto cruzava os corredores da Redação. Tinha uma hora para publicar uma matéria que era um tanto quanto delicada. Tinha a autorização de Charlie para aquilo, o povo londrino esperava explicações. Queriam saber da verdade, queriam entender os assassinatos. Havia parentes revoltados tentando falar com Charlie e o resto da equipe a todo custo. Claro que não deixavam aquilo vazar e tentavam manter o controle, mas estavam ficando numa situação... Crítica.
Após soltar um suspiro leve e desejar um "bom dia" quase inaudível para Claire, Fátima adentrou sua sala e fechou a porta atrás de si, sentou-se em sua cadeira confortável e deixou-se afundar nela. Precisava escrever, mas não sabia o que escrever. Charlie não a deixara usar as pistas que tinha entregado para ele antes. Não podiam divulgar aquilo nem mesmo para os outros da equipe, imagine para toda a população inglesa! Desde que começara a trabalhar para Charlie, a coluna de Fátima era a mais procurada e pedida em todos os cantos da Inglaterra. Até mesmo propostas de novos empregos recebera! Por que diabos não podia simplesmente escrever com o que tinha? Ela não podia esconder que — mais que machucada e magoada com tudo o que soubera — estava excitada com aquilo tudo. Era uma excitação diferente; precisava compartilhar aquilo! Precisava mostrar a verdade para o povo, precisava que eles opinassem, precisava de... Ação. Pelo menos mais uma vez. Uma confusão não faria diferença para o que estavam vivendo. Mas não tinha autorização para causar tal desordem. Também não tinha o direito de fazer aquilo com Charlie, que era um homem tão bom para ela.
Suspirou mais uma vez e sentou-se numa postura reta, de frente para o computador e pronta para começar a digitar, porém, duas batidas na porta a interromperam, fazendo-a bufar.
— Entre! — exclamou com uma leve irritação, que sumiu logo em seguida ao ver o rosto sereno de Claire aparecer na sala.
— Licença — Claire murmurou mordendo o lábio inferior. — Não quero atrapalhar, sei que tem pouco tempo para escrever. Mas preciso falar com você — a mais nova disse calmamente enquanto fechava a porta atrás de si e caminhava devagar até a mesa de Fátima.
— Fale — Fátima apoiou os cotovelos na mesa e o rosto nas mãos, enquanto encarava Claire com um sorriso simpático nos lábios.
Claire mexeu as mãos e abriu a boca algumas vezes, deixando claro seu nervosismo.
— Você... — ela fez uma pausa para engolir a seco — Eu não faço ideia de como te perguntar isso, mas preciso. Também gostaria que não me perguntasse o porquê disso. Eu simplesmente não posso contar nada agora, Fátima. Só preciso que... — ela fitou o chão e levantou o olhar em puro nervosismo e medo para Fátima novamente — Traga o Bonner para cá. Tenho uma coisa que é do interesse dele. Você é a única pessoa que tem contato com ele por aqui e eu sei o quanto deve estar difícil pela delegacia. Então, não quero simplesmente chegar lá e pedir para falar com ele.
— Você quer falar com o William? — Fátima deu uma risada fraca e revirou os olhos discretamente. — Eu realmente gostaria de saber o porquê.
— Como eu disse, Fátima, não posso contar nada agora. Perdoe-me por isso. Mas é assunto dele — Claire murmurou soltando um suspiro pesado em seguida.
— Se não me disser o porquê, não poderei trazê-lo aqui. Você sabe e viu o quanto é difícil lidar com ele, Claire — Fátima soltou um suspiro. Odiava fazer aquilo, mas que escolha tinha?! Claire havia aguçado sua curiosidade, ela sabia que não podia fazer aquele tipo de coisa com uma jornalista. Ainda mais uma investigativa!
— Tenho certeza de que se você tentar, você consegue, Fátima. — Claire a encarou esperançosa. — Te prometo que se trazê-lo para cá e fazê-lo aceitar a conversar comigo nem que seja por cinco minutos, quando tudo se ajeitar, você será a primeira a saber o motivo disto tudo com os mínimos detalhes. Tenho certeza de que o que tenho para o Bonner fará sua carreira decolar ainda mais — Claire finalizou, colocando o cabelo para atrás da orelha.
— Claire...
— Por favor! — a loira exclamou. — É a única coisa que te peço, Fátima. Prometo explicar tudo quando conseguir conversar com ele.
— O que você quer conversar com ele, Claire? — Fátima perguntou com a voz firme. — Não consigo imaginar o que seja tão importante assim.
— Desculpe, não posso contar! — Claire exclamou, bufando em seguida. Sentia sua paciência ir para os ares com a falta de confiança e curiosidade de Fátima. Aquilo a irritava profundamente. Claro que entendia toda aquela coisa de Fátima, já que era uma jornalista. Mas ainda assim. Deus! Para que ser tão desconfiada?
— Claire, pelo amor de Deus! — Fátima revirou os olhos. — O que diabos...
— Tudo bem, Fátima. Já notei que não pode ajudar — Claire a interrompeu, dando um sorriso forçado. — Qualquer fim de semana desses, eu o procuro, por mais que o assunto que preciso tratar com ele tenha pressa. Enfim. Obrigada e desculpe te perturbar com pouca coisa. — Após dizer isso, Claire se levantou e caminhou em passos largos e apressados até a porta, saindo de uma vez por todas.