— Certo, Charlie. Cadê as câmeras? — William falou dando uma risada forçada.
— Charlie... Você pirou? — Ernesto se meteu.
Fátima mordeu o lábio inferior ao notar que, de fato, não era bem vinda ali.
— Por isso me pediu para entrar em contato com ela? — Emma se meteu. — Se eu soubesse que era pra isso eu não entraria — ela disse entre os dentes. — Não percebe que isso é perigoso?
— Porra, Charlie! Ela não vai durar um dia! — William disse alto. — Ela é uma jornalista! JORNALISTA!
— Já pararam com a cena? — Charlie disse encarando Emma, William e Ernesto.
— Eu avisei, Charlie — Fátima disse indo se sentar ao lado do rapaz de olhos azuis.
— Por que aceitou essa besteira, Fátima? — Emma perguntou se virando para ela.
— Charlie é insistente — ela deu de ombros.
— Eu não vou trabalhar com ela — William disse. — Ela não vai durar, Charlie. Ela não vai saber fazer nada certo! Que droga!
— Então sai, William — Charlie disse cruzando os braços na frente do peito e todos os presentes arregalaram os olhos. William era o melhor dali.
— Então é assim? Eu não concordo com uma burrada que você faz, aceito todo mundo me olhando torto e você simplesmente me coloca pra fora para dar preferência a uma jornalista que não tem noção nenhuma de como é trabalhar aqui? — William cuspiu as palavras com raiva. — Se for assim, eu saio.
— William, para! — Emma disse se aproximando e segurando seu braço, já que ele ameaçava a sair da sala.
— Você não manda aqui, Bonner — Charlie se virou para ele novamente. — Eu mando em tudo aqui. Você só mandava na merda da tua equipe.
— Merda? — ele perguntou encarando Charlie com fúria. — Merda de equipe que sempre foi a melhor. Merda de equipe que sempre pegou todo mundo. Merda de equipe que tem os melhores policiais.
— E que não pegou o assassino do meu filho — Charlie rebateu.
— Da mesma forma que você não pegou o assassino do meu pai — William disse entre os dentes e todos ali engoliram seco. A discussão não era mais por causa de Fátima. Aquilo já era pessoal.
— Parem com isso agora! — Emma disse alto e parou no meio dos dois. — O que vocês têm na cabeça? Acham mesmo que brigar vai resolver? — ela balançou a cabeça negativamente e suspirou. — Vamos ouvir o Charlie, William.
— Eu não quero ouvir nada — ele murmurou ainda encarando os olhos tristes de Charlie. — Eu não vou trabalhar com a mulher que só sabe falar merda de mim. Eu não vou ficar engolindo sapos só porque ele quer.
— William... Por favor — Emma se virou para o rapaz e pegou seu rosto com as mãos. — Vai lá fora, toma um copo d'água e volta pra cá.
— Emma, deixe ele fazer o que quiser — Charlie disse, finalmente, tirando os olhos de cima do rapaz e se sentando ao lado de Fátima que tinha a cabeça baixa.
— Querem saber? — Fátima começou e todos olharam para ela. — Eu tô fora. Não vou fazer vocês perderem o melhor policial porque Charlie me quer aqui — ela finalizou sem encarar Bonner.
— Você é a favorita aqui, Bernardes — William disse baixo e sem encarar ninguém.
— Mas você é o melhor — ela rebateu. — O contrário de você, eu não tenho medo de assumir as coisas.
Fátima se levantou e saiu da sala. Os outros suspiraram, inclusive Charlie.
— Satisfeito? — Charlie perguntou. — Ela ia ajudar bastante. Mas parece que você não se importa.
— Pare de falar que eu não me importo, Charlie. Pare — ele disse entre os dentes.
— Chame a Fátima de volta, Charlie. — Emma disse baixo e William a encarou. — E você senta ali quieto.
— Mas...
— Vai, William. — Emma revirou os olhos.
O rapaz bufou e obedeceu Emma. Se tem uma coisa que ele jamais faria, essa coisa seria contrariar Emma.
Todos ali estavam tensos, chocados. Não tinha uma palavra exata para defini-los.
Charlie saiu da sala e bateu a porta com força. Andou pelos corredores perguntando onde Fátima estava.
— Ela disse que ia tomar um café — disse uma mulher de cabelos extremamente negros e olhos verdes.
— Obrigado — Charlie disse dando um sorriso torto e saiu em busca da mulher, que não foi difícil encontrar já que o Café ficava ao lado do prédio.
Logo Charlie avistou Fátima em uma das mesas tomando seu café quase que tranquilamente.
— Oi — ele disse se sentando na frente da mulher, que revirou os olhos.
— Eu disse que ele não aceitaria. Eu disse, Charlie — ela disse bufando.
— Vamos voltar. Emma já o colocou na linha.
— Não, Charlie, não. — Ela disse passando a mão pelos cabelos. — Não vai dar certo.
— Vamos logo, Fátima. Sei que está louca para escrever sobre como é estar na melhor equipe já formada por Charlie Raymond — ele deu um sorriso de canto fazendo a mulher suspirar. De fato ela queria escrever sobre aquilo, queria participar, queria investigar novamente... Queria sentir aquela adrenalina de ir atrás de bandidos novamente... Sentir a adrenalina de fingir ser quem não é para conseguir informações...
— Ele não vai topar com o que você me propôs — ela murmurou.
— Ele sabe muito bem quem manda naquilo — Charlie suspirou. — Vamos logo, Fátima. Não temos muito tempo.
— Certo, certo... — ela suspirou e pagou seu café.
Caminharam em silêncio até o prédio. A cabeça de Fátima girava. Ela sabia que Bonner não a aceitaria muito bem lá, por mais que Emma o colocasse na linha. Ele era orgulhoso demais para admitir que tinha sido grosseiro, que ela não tinha total culpa da matéria que fora divulgada... E, pior ainda, para aceitá-la na equipe. Ele era a pessoa mais orgulhosa que ela já lidara.
Charlie parou em frente a porta e a abriu, após Fátima entrar na sala novamente, ele entrou e fechou a porta.
William bufou e passou a mão pelos cabelos.
— Vai se controlar agora, não vai, Bonner? — Charlie perguntou num tom debochado, fazendo o rapaz revirar os olhos. — Enfim. Todos se conhecem, mas é bom reapresentá-los. Começando pelos que vieram de fora... — Charlie fez uma pausa e se virou para o rapaz de olhos azuis. — Brian Harper, 32 anos. Veio de Los Angeles. Trabalha com esse tipo de coisas há... — Charlie encarou o papel em suas mãos — Sete anos. Era, também, chefe de equipe onde trabalhava e sabe muito sobre armas. Ou seja, ele ficará encarregado de cuidar delas. Entendido? — Charlie finalizou encarando um por um e parando por uns segundos a mais em Bonner, que balançou a cabeça afirmativamente. — Ryan Kane, 29 anos — ele apontou para o rapaz de olhos negros, porém lindos, e cabelos castanhos claro, também muito bonitos. — Veio de Chicago. Trabalha com esse tipo de coisa há cinco anos. Sua especialidade é essas coisas de sistemas. Informática e códigos, para ser mais exato. Ele cuidará dessas coisas junto à Emma, como já era de se esperar — ele fez uma pausa e passou os olhos pela sala novamente, parando em Fátima, mas não falaria dela agora, a deixaria por última. — Lucy Baker, nossa querida Lucy Baker — Charlie sorriu. — 27 anos, nascida na Flórida. Trabalha com esse tipo de coisa há...
— Cinco anos — ela o interrompeu, com um sorriso orgulhoso nos lábios. Começara cedo por seu pai ter seguido a mesma profissão.
— Isso — Charlie sorriu novamente. — Nossa médica legista. Ajudará Ernesto no laboratório. E, já que falamos nele... Ernesto Paglia, 27 anos. Trabalha aqui desde o início de sua carreira — Charlie alargou o sorriso se virando para o rapaz. — A qual começou aos seus vinte e três anos, certo?
— Certo — Ernesto respondeu.
— Ele é o perito criminal. Nasceu por aqui mesmo... E, hum... Não temos tanto o que falar de Ernesto por ele já ser daqui e todos o conhecerem, como os que faltam... Enfim. — Charlie se virou para o outro lado, onde se encontrava Emma. — Emma Cobain. 36 anos, nascida por aqui também. Trabalha comigo há dez anos. Ela é do tipo mil e uma utilidades. Sua especialidade é sistema, porém ela ajuda na perícia e nas invasões a mão armada. Entende muito sobre tudo — Charlie finalizou com um sorriso nos lábios e os outros presentes – menos William, Ernesto e Lucy, claro – ficaram de olhos arregalados por Emma saber tanto. — E, finalmente, William Bonner — Charlie se virou. — 28 anos. Nascido por aqui. O conheço desde sempre, comecei a treiná-lo para vir trabalhar conosco quando ele completou seus belos dezoito anos, quando entrou para a faculdade de Direito. Ele é tão bom quanto Emma. Além de formado em direito, tem uma base sobre tudo o que precisamos aqui. Não era a toa que ele era o chefe em todas as equipes que participou. Não tem uma especialidade certa, esse infeliz consegue ser bom em tudo — ele fez uma pausa para dar uma risada fraca, fazendo William dar um meio sorriso. Por mais que os outros não notassem, era uma pequena forma de Charlie pedir desculpas e se mostrar arrependido por ter o colocado para fora na hora que estava de cabeça quente. — Eu sempre o deixo no comando pelo simples motivo dele saber exatamente a hora que deve agir, então, como já era previsto, ele ficará encarregado de cuidar dessa equipe também. Porém — Charlie levantou a mão direita ao notar que William já estava sorrindo feito um idiota — quando eu disser o que é para fazer, será do meu jeito, Bonner. Vai me obedecer da forma que fazia com seu pai há cinco anos atrás — ele encarou o rapaz nos olhos. — Entendido?
— É claro — ele murmurou sem tirar o sorriso dos lábios.
— Para finalizar, vamos às informações da nossa querida Fátima Bernardes. Vocês devem estar totalmente perdidos por não entenderem bem o motivo pelo qual a chamei — ele se sentou. — Ela ajudará. E muito. Ela é sim uma jornalista. Mas é uma jornalista investigativa. E ela ajudará demais na nossa investigação. Ela é tão inteligente quanto vocês, entende tantas coisas quanto vocês. Podemos chamá-la de William Bonner na versão feminina — ele disse mordendo o lábio para segurar uma risada ao ver a cara de William. — Tudo bem, talvez uma versão feminina mais simpática... — ele soltou uma risada, fazendo todos os outros – menos William e a própria Fátima – rirem. — Tudo bem, voltando a explicação... O que é o jornalismo investigativo, afinal? É a prática de reportagem especializada em desvendar mistérios e fatos ocultos do conhecimento público, especialmente crimes e casos de corrupção, que podem eventualmente virar notícia — Charlie explicou fazendo Fátima sorrir. — Eu não quero enfiá-la em confusão como vocês pensaram que eu queria. Eu quero fazê-la participar da investigação como se fosse, sim, uma policial. Porém — ele continou ao ver William abrir a boca — ela ficará encarregada de arrancar informações de alguns dos nossos alvos. Ninguém a reconhecerá quando precisarmos fazê-la seguir ou entrevistar alguém. Para todos de fora ela será apenas uma jornalista. Já para nós ela será muito mais do que isso. Como andei falando com algumas pessoas que já trabalharam com ela desta forma... — ele pegou alguns papéis e deu nas mãos de William, fazendo um sinal para que ele entregasse aos outros. — Descobri que ela tem um certo conhecimento sobre armas... Certo, Fátima?
— Certo — ela respondeu dando um meio sorriso. — Meu pai era atirador profissional. Cresci vendo ele mexendo em armas. Fiquei curiosa e aos meus dezessete ou dezoito anos pedi para que ele me ensinasse algumas coisas. Eu sempre soube que queria atuar nessa áera de investigação. Ele concordou e me ensinou várias coisas.
— E ela, inclusive, fez o trabalho de uma "policial", digamos assim, em Las Vegas. Ela tinha ido para fazer uma entrevista com um dos caras responsáveis pelas bandidagens e acabou sendo descoberta — Charlie riu. — Mas ainda conseguiu ferir um bandido e o fez ser preso. Preciso explicar mais o porquê de chamá-la para fazer parte da equipe?
William era o mais chocado entre todos ali. Nunca pensara que Fátima sabia e tinha feito tanto, ele realmente achou Charlie um retardado por querê-la ali. Mas após ouvir toda a explicação e deixar certas partes do que Charlie disse ecoar por sua cabeça, ele notara que de inútil ela não tinha nada. Ela realmente tinha tudo para fazer aquilo ali dar certo, mas, claro, ele não assumiria isso assim tão fácil.
— Então é isso — Charlie disse se levantando e tirando William de seus pensamentos. — Começaremos na segunda.
— Certo — William disse mordendo o lábio e se virou para Charlie. — Posso fazer outro interrogatório com aqueles caras que tentaram me matar?
— Outro? — Charlie estreitou os olhos e o encarou.
— É... — William deu um sorriso malicioso. — Um mais... digamos que... especial.
— Vocês podem ir — Charlie disse para os outros e William abriu mais seu sorriso.
Em silêncio, todos os outros saíram.
— Quero começar a arrancar informações deles — William passou a mão pelos cabelos. — Um deles vai abrir a boca de você liberar...
— A tortura? — Charlie perguntou dando uma risada fraca. — Não sou a favor disso. Mas se você acha que vai resolver, eles são todinhos seus.
— Eu vou tirar deles quem tá fazendo isso tudo — William disse firme e encarando os olhos de Charlie.
— Eu sei — Charlie concordou sorrindo. — E...
— Tá tudo bem. E me desculpa também, Char — o rapaz interrompeu o mais velho, dando um sorriso de canto. Já sabia porquê Charlie o deixou para sair por último. Era sempre assim.
— Eu não deveria ter dito aquelas coisas — Charlie murmurou arrependido.
— Eu também não. Mas é sempre a mesma coisa — William deu uma risada. — Vamos logo, Charlie. Você tem que ir para casa agora.
— Já está querendo mandar em mim, pirralho? — Charlie perguntou em tom de brincadeira, fazendo William revirar os olhos. — Enfim. Quero vocês aqui amanhã. Vocês vão atrás de alguém pra mim antes de focarmos nesses assassinatos. Quero ver como será o trabalho de vocês juntos.
— Amanhã é sábado, Charlie. Tu prometeu uma folga e...
— Sem reclamações. Você disse que trabalharia, então... — Charlie sorriu e piscou um dos olhos. — Avise a Emma e peça para ela avisar aos outros, já que ela ficará aqui pelo resto do dia, e aí, sim, pode ir para casa.
— Sim, senhor — ele disse de forma debochada e revirou os olhos.
— Vai logo, moleque — Charlie disse balançando a cabeça negativamente.
William suspirou e saiu da sala de Charlie. Essa 'missão' seria longa... Muito longa.
****
William finalmente encontrou Emma, que estava conversando com Fátima do lado de fora do prédio.
— Finalmente te econtrei! — ele bufou. — E que bom que ela está junto.
— O que houve agora? — Emma perguntou revirando os olhos.
— Charlie quer ver como vamos trabalhar juntos. Amanhã a gente vai atrás de alguém para ele — William disse encarando as duas mulheres.
— Mas amanhã é sábado e...
— É, eu sei, Bernardes — ele a interrompeu. — Usei o mesmo argumento. Mas não adianta, vamos todos trabalhar amanhã. E você, Emma — ele se virou para a amiga —, tem que ir avisar aos outros porque eu vou para casa agora.
— Por que você vai embora e eu tenho que correr atrás dos outros pra falar? — Emma perguntou inconformada.
— Ordens de Charlie. Tenho nada com isso dessa vez, juro — ele levantou as mãos dando um meio sorriso. — Agora vou embora.
— Não quer me esperar? — Emma perguntou.
— Não, vou de táxi hoje. Obrigado — ele abriu um sorriso sincero e beijou a bochecha da amiga, que retribuiu. — Até amanhã, Bernardes — ele disse baixo, por educação. Fátima apenas acenou.
— Me ajuda a encontrar os outros? — Emma perguntou sorrindo.
— Claro — ela respondeu retribuindo o sorriso.