Crowley suspirou e esperou as pessoas se afastarem enquanto o caixão de Rachel era enterrado. O corpo de Rachel ficara ao lado dos corpos dos avós. Ela sempre dissera que quando morresse — pois sabia do emprego arriscado que tinha — queria ser enterrada ao lado dos avós porque sabia que seus pais teriam vidas longas. Eram fortes demais para morrerem antes dela.
Ainda de longe, Crowley suspirou e tentou parar para pensar sobre tudo o que havia acontecido. Rachel, a única mulher que amara, estava morta e, agora, enterrada. Aquilo o deixava... Com raiva ou até mesmo medo e arrependimento. Medo de não conseguir amar outra pessoa ou conseguir e acabar da mesma forma; arrependimento porque ele poderia, sim, ter ajudado Rachel e a tirado do país antes.
Decidiu, então, se aproximar lentamente ao notar que só ficara os pais da mulher. Até mesmo Charlie e seus agentes estiveram por ali. Mas Crowley não podia ser notado por eles. Sabia que se William o visse, arruinaria todo o enterro de Rachel e não era isso o que ele queria, queria que sua amada tivesse paz pelo menos em seu enterro.
Poucos minutos depois, os pais de Rachel saíram do local abraçados, um consolando o outro. Crowley soltou mais um de seus suspiros e se aproximou do túmulo da mulher. Sentou-se ao lado e deixou as lágrimas caírem livremente por seu rosto. Estava sozinho naquele cemitério. Ventava. O frio começava a tomar conta de seu corpo, mas não se importava. Só queria fazer companhia para Rachel.
Crowley deixou seu corpo se deitar de uma vez sobre o túmulo de Rachel e fechou os olhos com força, encolhendo mais o corpo. Deus! Como ele queria aquela mulher de volta! Como ele... A amava. Mesmo não querendo assumir, Crowley sabia que já pensara em desistir de tudo por ela. Aquele pensamento não era recente. Era de sete anos atrás. Ele pensara em desistir de absolutamente tudo e voltar para a Inglaterra apenas para encontrá-la e... Poder contá-la o que realmente sentia, implorar por seu perdão, dizer que tudo o que ele fez foi um lapso de ódio e que largaria tudo por ela.
— And I remember all those crazy things you said... You left them riding through my head... — Crowley sussurrou e secou a lágrima que escorria lentamente por seu rosto. — You're always there, you're everywhere, but right now I wish you were here... — continuou, sentindo-se um completo idiota por sussurrar uma música da Avril Lavigne para Rachel. Mas aquilo não importava mais, ela não voltaria nem sequer o escutaria em seu momento altamente depressivo. — All those crazy things we did... Didn't think about it, just went with it, you're always there, you're everywhere... But right now I wish you were here. — Crowley sussurrou a última frase e fungou, ficando de barriga para cima e encarando o céu nublado. Apertou mais o casaco contra o corpo e respirou fundo, pensando como tudo teria sido diferente se ele tivesse escutado todas as vezes que Rachel disse que aquilo era errado e um dos dois acabaria morrendo. Neste caso, fora ela. Não que ela tenha morrido propositalmente como ele irá morrer, mas... De qualquer forma, ela estava certa. Alguém teria que morrer para ele cair na real, para notar que a equipe de Charlie não estava de brincadeira, que eles fariam qualquer coisa para pegá-lo e mostrar para todos que ele era sim um criminoso e tinha contato com as pessoas que iniciaram os assassinatos em Londres. Crowley precisava agir. Rápido. Precisava deixar mais claro ainda que também não estava ali para brincadeiras.
Em um estalo, uma ideia invadiu sua cabeça, fazendo-o sorrir e ignorar as lágrimas que ainda tinha nos olhos. Virou-se para a foto de Rachel e suspirou.
— Eu te amo, Rachel. Sua morte não sairá barata — ele murmurou. — Volto amanhã para te ver. Preciso agir agora. Desculpa por tudo — ele finalizou com um sorriso triste nos lábios e se levantou de uma vez. Seu dia seria longo. Não que ele fosse matar alguém ou algo do tipo. Ele apenas... Deixaria claro para uma certa pessoa que não estava ali para brincar.***
Ernesto jogou a fumaça do cigarro para o alto e encarou Lucy em seguida. Ele pôde notar que a ruiva tinha os olhos lacrimejantes. Não superara a morte de Rachel. Não que fossem melhores amigas, mas se conheciam há muito tempo.
— Não acredito que ainda está assim por causa da Rachel — ele revirou os olhos.
— Não foi você que precisou examinar todo o corpo dela e descobrir que... — Lucy não conseguiu terminar sua frase. — Eu posso ser qualquer coisa, Ernesto. Mas nunca desejaria aquilo para ninguém — ela suspirou. — A Rachel tinha muito o que viver.
— Ela era uma vadia. — Ernesto rebateu, calmamente.
— Desde quando você é tão idiota? — ela perguntou se aproximando mais e puxando o cigarro de sua mão, jogando-o no chão em seguida.
— Já se passaram dois dias, Lucy! — ele disse alto. — Dois malditos dias! A Rachel morreu! Você quer ser a próxima? — ele diminuiu o tom de voz.
— Vai me matar? — ela perguntou e se aproximou mais. — Vai dar uma de Crowley e usar quem você gosta só para a pessoa morrer? Ernesto, você tem ideia do que a Rachel tinha pela frente? Você sabe o que é ver uma mulher morrer...
— Grávida? — ele a cortou. — Não sei e nem quero saber! — ele exclamou. — Foda-se se ela morreu grávida ou amando o Crowley ou qualquer porra dessa! — ele a encarou nos olhos. — Deixe a dor para a família dela. Você era só uma colega de trabalho.
— O que o Castellamare fez com você? — ela perguntou baixo e o encarando nos olhos.
— Por que você sempre coloca a culpa no Castellamare? — Ernesto perguntou revirando os olhos.
— Porque ele é sempre o culpado de tudo. Você nunca me tratou assim — ela murmurou e fitou o chão. — Eu não esperava isso de você. Até mesmo do Jesse eu podia esperar algo assim! — ela exclamou revirando os olhos e Ernesto deu uma risada fraca, empurrando-a para a parede mais próxima.
— Você não me conhece como pensa que conhece, Lucy — ele murmurou bem próximo à ela. — Não tente me entender, não tente me controlar, não tente adivinhar o que penso ou o que quero fazer — ele diminuiu o tom de voz. — É melhor para você.
— Por que está agindo assim? — ela insistiu e Ernesto juntou seus lábios em um selinho agressivo.
— Não importa — respondeu e se afastou da mulher de uma vez, indo em direção ao prédio. Tinha coisas mais importantes para fazer. Lucy estava em um momento sensível que ele preferia não presenciar. Não queria perder a cabeça com a mulher que amava por mais que às vezes fosse necessário. Lucy é o tipo de mulher que o tira do sério em poucos minutos de conversa.
Após um suspiro pesado, Lucy prendeu os cabelos extremamente vermelhos em um coque frouxo e se preparou para caminhar. Porém, uma voz desconhecida atraiu sua atenção. Virou-se para trás devagar e pôde ver um homem alto a encarando com um sorriso no canto dos lábios.
— Me chamou? — ela perguntou alto pela distância e o homem olhou para os lados.
— Sim — ele respondeu abrindo um pouco mais seu sorriso e caminhando em sua direção.
— Em que posso ajudá-lo? — Lucy perguntou educadamente.
— Você provavelmente conhece Fátima Bernardes, certo? — ele perguntou e Lucy estreitou os olhos, confirmando com a cabeça em seguida. — Pode me fazer um favor e entregá-la isso? — ele estendeu um envelope pequeno e Lucy o segurou, achando aquilo extremamente estranho e arriscado. Se tem uma coisa que ela aprendera muito bem com Charlie, fora isso: nunca aceite entregar algo para um colega se não conhece a pessoa quem pediu o favor. Mas Lucy não estava mais preocupada com aquilo. Quanto mais riscos Fátima se meter, melhor. Não que ela gostasse daquela parte, mas era paga para aquilo e não tiraria de Fátima algo perigoso.
— Claro. — Respondeu baixo e encarando o papel em suas mãos.
O homem sorriu.
— Obrigado — ele murmurou e encarou Lucy de uma forma estranha.
Lucy retribuiu o sorriso, sabia que aquilo era algo para colocar Fátima em mais alguma burrada. Estava na cara! Mas quem seria ela para tirar Fátima de uma besteira?
Mordeu o lábio inferior e se preparou para abrir o envelope cuidadosamente quando o homem já estava longe, porém, antes de conseguir, seu celular vibrou em seu bolso fazendo-a levar um pequeno susto. Revirando os olhos, puxou o aparelho para ler a mensagem que chegara.
"Pediram-lhe que entregassem à Fátima Bernardes, não que lesse para ela."
Era o que dizia o bilhete. Lucy olhou em volta e deu uma risada fraca. Guardou o celular no bolso e se preparou para abrir o envelope mais uma vez. E novamente seu celular vribrou.
"Entregue o envelope desta forma ou... Morrerá.
Após reler a mensagem, Lucy engoliu em seco e olhou em volta mais uma vez. Pensou em gritar e perguntar quem estava fazendo aquela brincadeira inútil, mas não podia fazer isso em plena luz do dia. Ainda sentindo um pequeno medo correr por suas veias, caminhou em direção a entrada do prédio. Que se foda!, pensou enquanto encontrava Fátima conversando com Emma em frente ao elevador.
— Fátima! — Lucy disse alto.
— Sim? — Fátima se virou para a outra.
— Oi, Emma — Lucy sorriu. — Ah, um homem estranho me pediu para lhe entregar isso. Sei que não se aceita nada de estranhos para entregar as colegas, — ela murmurou revirando os olhos ao sentir o olhar de Emma sobre si. — mas... Sei lá, na situação que estamos tudo é bem vindo, não?
— Um homem? — Fátima perguntou, pegando o envelope das mãos de Lucy.
— Yep — ela mordeu o lábio inferior. — Ele não disse do que se trata. Apenas pediu para que eu entregasse para você.
— Bem... Obrigada — Fátima deu um sorriso fraco para Lucy que apenas sorriu e saiu de perto. — O que deve ter aqui?
— Não sei. Abra, descubra e me conte depois — Emma respondeu piscando um dos olhos e Fátima riu. — Preciso trabalhar.
— Certo... — Fátima mordeu o lábio. — Bom trabalho.
— Está à toa de novo? — Emma perguntou segurando a porta do elevador.
— Infelizmente, não — Fátima respondeu soltando um suspiro. — Tenho que terminar de escrever uma matéria para a redação, tenho que ir lá falar com a Claire porque ela disse que tem algo que irá nos ajudar e... Bem, você sabe, — fez uma pausa para revirar os olhos — Jack me chamou para tomar um café mais tarde e eu aceitei.
— Boa sorte, garota! — Emma exclamou dando uma curta gargalhada e entrando no elevador de vez.
— Obrigada, vou precisar! — Fátima exclamou de volta e abriu o envelope enquanto caminhava na direção oposta do elevador.
Segundos depois, Fátima já estava sentada em sua mesa encarando o papel em suas mãos. A mensagem era curta e clara: "Ligue para esse número e marque um encontro".
Fátima deixou uma risada fraca escapar e releu o bilhete, achando aquilo extremamente estranho. Mas seu instinto jornalista estava falando mais alto, ligaria mais tarde ou qualquer outro dia que tivesse tempo. Mas... Aquilo não deveria ocupar tanto seu tempo assim, não é mesmo?
Encarou o papel e o celular em cima da mesa. Após suspirar e morder o lábio inferior, se preparou para pegar o celular. Teria pego e discado os números o mais rápido que pudesse se William não tivesse entrado na sala feito um furacão, assutando-a. Fátima escondeu o papel em meio à outros e William a encarou arqueando uma das sobrancelhas e a olhando estranho. Claro, óbvio, evidente... Ele havia notado que ela escondera algo. Mas quem se importa? Aquilo ela não podia compartilhar enquanto não tivesse certeza do que era.
— O que é isso que você escondeu de mim? — ele perguntou enquanto ia até sua mesa e procurava algo em meio a sua bagunça.
— Se eu escondi, é por que não te interessa. — Ela respondeu dando de ombros em seguida e William revirou os olhos.
— É sério que você vai esconder? — ele perguntou novamente, parando para encará-la. Com um sorriso sapeca no canto dos lábios, Fátima respondeu tranquilamente:
— Sim.
— Por que você é tão irritante assim? — William perguntou e Fátima arqueou uma das sobrancelhas.
— Você quer saber da minha vida e a irritante sou eu? — ela rebateu, fazendo-o dar uma risada fraca. Ambos sabiam que aquela discussão idiota era só para não falarem dos últimos acontecimentos.
— Você está melhor? — William perguntou, apoiando-se na mesa e cruzando os braços em seguida. Ele não a encarava desta vez. Não conseguira segurar a vontade de perguntar como ela estava depois da morte de Rachel e aquilo o deixava... Envergonhado, por falta de palavra melhor. Ele não queria se preocupar, até porque não... Não devia. Eles... Se detestavam e... Só se "pegavam" às vezes.
— Estou — ela respondeu baixo com um sorriso tímido nos lábios.
William teria dito mais alguma coisa se o celular de Fátima não começasse a tocar loucamente.
Fátima pegou o celular e o atendeu de uma vez, pedindo, de certa forma, desculpas à William através de um olhar.
— Sim, Claire? — ela murmurou indo para o canto da sala.
— Preciso que venha aqui, Fátima. Estamos com problemas e você não vai gostar de saber disso em outro lugar. — A garota murmurou um tanto quanto desesperada do outro lado da linha.
— Tem que ser agora? — Fátima perguntou.
— Sim, porque só você vai poder resolver o que está acontecendo. Elizabeth Johnson está de volta, isso é tudo o que posso te adiantar por telefone. — Claire respondeu tentando manter a calma na voz e Fátima arregalou levemente os olhos.
— Elizabeth? De volta? Como assim? — Fátima perguntou.
— Apenas venha, Fátima. — Foi tudo o que Claire disse antes de desligar o telefone.
Fátima respirou fundo. Sabia que havia algo maior que um problema para Claire ligar naquele estado e falar sobre Elizabeth.
— Algum problema? — William perguntou, fazendo-a acordar para a vida novamente.
— Pelo jeito, algo maior que isso — ela respondeu enquanto pegava o papel que escondera de William e jogava dentro de sua bolsa. — Avise à Charlie que vou precisar sair antes de vocês? Estou com problemas na redação e não pode ser adiado — ela murmurou puxando as chaves do carro.
— Certo. Boa sorte. — William murmurou encarando-a com os olhos estreitos.
— Obrigada, vou precisar. — Ela murmurou e saiu da sala apressada.
William soltou um suspiro pesado e bagunçou os cabelos, saindo da sala em seguida. O assunto era de Fátima, ele não deveria ficar curioso nem com vontade de segui-la para evitar que ela passasse mal novamente. Deus! O que diabos ele estava pensando?