Capítulo 21

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Fátima estava no meio do caminho, mas sua cabeça estava no bairro que acabara de sair. Para falar a verdade, sua cabeça estava em William. Sim, nele. Na valentia, na forma que a defendera — porque, obviamente, aquilo fora para defendê-la, ele a colocara para fora se esquecendo totalmente dos microfones que ela usava — e na forma em que ele encarava Crowley, como se já soubesse o que aconteceria a partir de agora. 
Fátima parou o carro em um dos sinais e, com as mãos trêmulas, pegou o celular. Deixaria Charlie informado do que estava acontecendo, pelo menos.
— Atende, Charlie, atende. — Ela murmurava enquanto encarava as ruas vazias e conferia pela milésima vez se todas as portas estavam trancadas. 
Alguns segundos se passaram e Charlie atendeu ao telefone.
— O que você quer a essa hora, Fátima? — A voz de Charlie, do outro lado da linha, perguntou. Charlie tinha a respiração acelerada e um tanto quanto falha, parecia... Ocupado, mas, ao mesmo tempo, preocupado com alguma coisa... Fátima não sabia explicar como realmente estava a voz de Charlie.
— Estou te atrapalhando em alguma coisa? — Fátima perguntou, mordendo o lábio inferior e apertando o volante do carro com a mão livre.
— Para falar a verdade, está sim. — Charlie suspirou. — Desembucha, mulher.
— O William encontrou com o Crowley .— Ela foi direta. — Mas foi um encontro... Estranho. Não tinha sido programado. Digo, não por nós. — Ela disse e Charlie ficou em silêncio por uns segundos.
— Onde está o William? — Charlie perguntou. — Me deixa falar com ele. 
— Mas...
— Anda, Fátima. — Charlie insistiu.
— Ele não está comigo. — Fátima engoliu seco. — Ele ficou lá, Charlie.
Silêncio. Silêncio de ambos os lados. Fátima apenas sentia o desespero tomar conta de seu corpo. Já Charlie, do outro lado da linha, sentia a preocupação e os piores pensamentos possíveis subir a sua cabeça.
— Vá para o prédio, Fátima. — Charlie murmurou e desligou o telefone.

***

William sentia seu rosto latejar, mas ignorava a dor o máximo que podia. Tinha que continuar andando até encontrar Eric. Havia conseguido escapar de Crowley. Não, ele não fora covarde porque saiu correndo de lá, ele apenas foi esperto. Sabia que se não segurasse Rachel e caminhasse com ela em sua frente — por mais que isso pareça covarde, ele se defender através de uma mulher —, morreria. Teria que dar um jeito de sair dali. E o jeito que conseguira fora este: Caminhar com Rachel até ficar próximo a Crowley, empurrá-la com força em cima do homem e correr o máximo que conseguisse, ignorando os disparos da arma de Crowley que iam a sua direção. Jogou-se no primeiro barranco que ficava atrás de onde estavam e acabou machucando o rosto com a queda, não era um barranco alto, era o suficiente para Crowley não acertá-lo e, quando fosse procurá-lo, não encontraria por causa escuridão.
Uma buzina ecoou do outro lado do lugar e William soltou um suspiro pesado. Logo em seguida, subiu o barranco o mais rápido que conseguiu e correu em direção o carro que buzinava sem se importar se Crowley ainda o procurava ou não. Abriu a porta e entrou.
Eric o encarou perplexo. Não acreditava que William realmente tinha achado que conseguiria alguma coisa com Nate, sendo que o rapaz sempre fora um pau mandado, estava completamente ao lado de Crowley e faria qualquer coisa para protegê-lo.
— Achei que não fosse vir. — William murmurou sem encarar Eric, que arrancou com o carro em silêncio. — Qual é, Eric...
— Cala a boca e escuta. — Eric o interrompeu e pisou no acelerador. — Você está agindo feito um moleque filho da puta! — Eric exclamou alto, fazendo William revirar os olhos. — Eu disse para você não vir!
— Eu sei que disse! — William admitiu. — Mas quem foi que disse que eu ligo para o que dizem para mim? — Ele diminuiu o tom de voz e encarou Eric de relance. — Quem foi que disse que eu me importo se em uma dessas eu vou morrer ou não?
Eric parou o carro sem se importar com o impacto que aconteceria. William soltou um gemido de dor e Eric o encarou sem se importar se ele havia acabado de bater com a cabeça no vidro pelo impacto que acontecera.
— Não é porque seu pai morreu que você tem que agir assim. — Eric disse firme e William engoliu seco. Eric começaria sua tortura. — Não é porque você sabe ser bom que tem que agir assim, William. Não é porque você cresceu sem uma mãe que você pode agir assim, como se ninguém se importasse com você. — Eric diminuiu o tom de voz. — Não é porque você não sabe engolir o seu orgulho que você pode agir como um adolescente rebelde. Coloca na porcaria da sua cabeça que você já passou da fase de fazer o que quer só por ser inteligente. — O mais velho finalizou e William continuou em silêncio. Não brigaria com Eric sabendo que ele estava certo. Aliás, todos estavam certos naquela noite. Menos ele. Justo ele que sempre fora o foda de tudo. 
William Bonner havia falhado. Havia feito cálculos errados. Planos errados. 

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