Epílogo

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Dedico a todxs vocês, que me pediram bastante pelo epílogo, pra quem me deu idéia lá no insta, pra quem me acolheu e gostou dessa escrita que é nova para mim... Querem outra fic??? Mandem dm no insta, falem que são daqui e me deem idéias de casais!!!

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Fátima caminhava calmamente pelos corredores daquele hospital. O cheiro já não a incomodava mais, as pessoas doentes espalhadas por todas as partes também não.
Sorriu para uma criança que passava por ali e parou em frente ao quarto de número 323. Um suspiro pesado e cansado escapou do fundo de sua garganta e abriu a porta logo em seguida, dando de cara com o corpo de William completamente ligado a aparelhos. Segurou as lágrimas ao lembrar-se que ele estava naquele estado — há meses — por sua causa e entrou de uma vez por todas no quarto, fechando a porta em seguida.
Mais de três meses havia se passado desde aquele dia infernal. O dia em que William fora gravemente baleado... Por sua causa, porque ela o deixara lá. Mas toda aquela culpa servira de algo: seu trabalho para Charlie estava feito, sua carreira ficara melhor, trabalhos melhores e maiores apareceram. Mas, entre todos eles, o que mais gostara fora escrever um livro. Contara tudo — com a permissão de todos que participaram daquilo, claro — o que acontecera naqueles meses de trabalho ao lado de Charlie e sua equipe, claro que modificando os nomes e alguns fatos para parecer uma história fictícia. Mas todos daquele país sabiam que aquilo tinha mais realidade que ficção. O livro era um sucesso! O que ela mais queria e precisava era de William acordado para apreciar aquele trabalho, claro que o queria acordado também para se desculpar; se desculpar por ter deixado ele levar aqueles tiros, se desculpar por não ter conseguido segurar o filho que ele deixara claro que queria que ela tivesse, se desculpar por ter sido uma burra e idiota a ponto de acreditar em Crowley e colocá-lo em perigo, se desculpar por ter sido besta o suficiente de entregar os documentos para Charlie e dizer olhando-o nos olhos que não o amava. Enfim, gostaria de se desculpar por tudo, gostaria que ele estivesse consciente o suficiente para acompanhar seu crescimento não só como jornalista, gostaria dele consciente o suficiente para discutir com ela ou para simplesmente beijá-la de surpresa e acabarem sem nenhuma peça de roupa.
Fátima secou as lágrimas que deixou cair e jogou as coisas no sofá de qualquer jeito, poderia escrever depois. Contaria para William como estava sendo aquilo tudo sem ele, contaria que Charlie e Emma sentiam falta, contaria que Nicholas arrumara uma amiguinha colorida e queria que ele a conhecesse, contaria tudo o que estava acontecendo nos mínimos detalhes.
— Ei, William — ela começou com um sorriso no canto dos lábios e segurando-o pela mão. — Não acha que já está na hora de acordar? Não aguento mais ficar me desculpando com você assim, desse jeito — ela mordeu o lábio inferior e deu de ombros. — Acredita que os idiotas dos médicos vieram dizer para Emma e Charlie que deveríamos desligar os aparelhos e te deixar... Morrer? — ela riu fraco. — Eles acham que é assim... Uma pessoa entra em coma, não levanta dentro de uns meses e devemos desligar os aparelhos. Mas não é assim, certo? — ela o encarou, sentindo-se uma louca por alguns segundos. — Não é assim quando se trata de um dos melhores policiais de Londres. A propósito, você está fazendo falta lá no prédio. Todos os dias perguntam para a Emma ou para o Charlie se você teve alguma melhora ou algo do tipo. Você pode ser esse brutamontes que sempre foi, mas faz falta. Não sei até hoje como Charlie consegue se virar sem você. Enfim — ela soltou um suspiro pesado. — Vamos tentar de novo o que eu tentei todos os dias desde que você veio parar aqui... — ela deu uma risada fraca, sentindo-se boba. — Se estiver me ouvindo, aperte minha mão, William. — Ela fechou os olhos e suspirou ao não sentir nada. — Vamos, William! — exclamou com a voz abafada pelas lágrimas e encarou suas mãos entrelaçadas. — Dê um sinal de que está aí, Bonner! — ela insistiu, sentindo seu estômago embrulhar de ansiedade e medo. — William, por favor... — ela murmurou uma última vez, não segurando as lágrimas que queriam escapar seus olhos. — Por favor, por favor... — ela pediu de novo, secando as lágrimas com as costas da outra mão. Preparou-se para falar de novo, mas sua boca apenas se abriu, não emitindo som algum. Um choque se apossou de seu corpo e ela engoliu em seco.
Estava ficando louca de vez ou William havia mexido os dedos devagar?
— William? Está me ouvindo? — ela perguntou baixo, sentindo-se uma louca. Mas estava pouco ligando para o que parecia ou deixava de parecer. Vira os dedos de William se mexerem e não desistiria de provar aquilo. — Por favor, se sim, tente mexer os dedos de novo, aperte minha mão, sei lá! — ela exclamou, mostrando-se mais desesperada agora.
Aos poucos, fora sentindo os dedos de William envolverem sua mão. Seu coração acelerou automaticamente e ela fitou suas mãos entrelaçadas, agora, por iniciativa dele. Ela podia ver que ele ainda estava sem força, mas aquilo fora um avanço. Oras! Ele segurou sua mão, finalmente! Ele estava escutando-a o tempo inteiro! Deus, como ela estava feliz! Como sentia-se melhor agora, sabendo que William estava bem e podia escutá-la e apertar sua mão.
— Tente abrir os olhos, William. — Ela murmurou, segurando-o pela mão com mais força. William não se moveu mais. — Vamos, William! — ela insistiu e nada aconteceu. Nenhum movimento. Mas não importava, as lágrimas já caíam desesperadas de seus olhos, William estava ali, consciente, escutando-a. — Se não tem forças o suficiente para abrir os olhos, aperte minha mão, William. — Ela pediu baixo e, novamente, William moveu a mão lentamente, apertando a de Fátima. — Se eu fechar as cortinas e não deixar muita luz por aqui para não machucar você quando abrir os olhos, você tenta de novo? — Fátima perguntou com um sorriso no canto dos lábios, esperando William respondê-la com mais um aperto de mão, o que não demorou muito. — Um minuto, então. — Ela murmurou e, sem esperar William segurar sua mão de novo, soltou-o de uma vez e caminhou até a janela, fechando as cortinas do quarto.
Numa velocidade que nem mesmo ela sabia que tinha, sentou-se novamente ao lado de William e segurou sua mão. — Já está tudo fechado, tem pouca luz. Vamos, tente. — Ela pediu e encarou seu rosto com ansiedade. — Vamos, William. Você consegue, vai. — Ela pediu novamente, enquanto, com a mão livre, acariciava o rosto de William.
Uns segundos depois, Fátima pôde notar as feições de William mudarem devagar, como se estivesse tentando abrir os olhos e não conseguisse. William apertou-a pela mão novamente, mostrando que não conseguia.
— Vamos, William! Você consegue, sim — ela sorriu fraco, segurando-o pela mão com firmeza. — Eu... Eu sinto tanta falta de encarar seus olhos... — Ela murmurou, sentindo seu rosto corar em seguida. William teria sorrido de uma forma debochada e fofa ao mesmo tempo se já estivesse bom. — Vamos, William. — Ela murmurou novamente, notando que ele se esforçava mais.
Aos poucos, William fora conseguindo abrir os olhos. Nos primeiros segundos, ele não enxergou mais que um borrão colorido. Porém, logo depois, conseguira ver claramente a imagem de Fátima em sua frente. — Ah, meu Deus! — Ela murmurou sentindo as lágrimas inundarem seus olhos novamente. Não demorou tanto assim para elas escorrerem e William se esforçar para esticar a mão até o rosto de Fátima para secá-las. — Eu senti sua falta, William — ela murmurou, segurando a mão dele contra seu rosto e fechando os olhos em seguida. William não conseguia falar, mas Fátima não se importava. Ele estava ali, com os olhos levemente abertos, com uma das mãos espalmada em seu rosto e acariciando-a devagar, mostrando que também sentia falta daquilo tudo. Ela sabia que ele sentira falta! Antes de tudo acontecer ele havia dito que a amava! Com todas as letras necessárias, e ainda fizera questão de repetir que mesmo depois de tudo o que ela fizera, ele a amava. Ela via saudades em seus olhos, via a felicidade de poder estar acordado de novo.
Fátima abriu os olhos e piscou mais algumas vezes, tentando parar as lágrimas. William, ao perceber o que raios estava acontecendo, tentou mexer os lábios para formar um sorriso fraco. Estava... Feliz por conseguir ver o rosto de Fátima novamente e não só escuridão como antes. Estava feliz por estar acordado novamente. Mesmo confuso, conseguia perceber que estava em coma por algum tempo. Porém, naquele momento, tempo era uma coisa que ele não tinha noção nenhuma. Não fazia ideia de que horas eram, não fazia ideia de quanto tempo ficara dormindo, não fazia ideia de quanto tempo Fátima estava ali com ele, não fazia ideia de quanto tempo se passara desde quando levara os tiros e ficara naquele estado. De fato, tempo era uma coisa que ele não fazia a mínima ideia naquele momento.
— Preciso chamar o médico — Fátima disse de repente, dando um sorriso fraco e secando as lágrimas que deixara cair com as costas da mão. — Não demoro — ela finalizou e se levantou, mas William não soltou sua mão, fazendo-a parar de andar.
Fátima arqueou uma das sobrancelhas e encarou o homem deitado, como se esperasse algum tipo de explicação. William deixou um suspiro fraco escapar e fechou os olhos por alguns segundos, abrindo-os em seguida.
— O que... — ele começou a falar, mas uma tosse fraca o atingiu, fazendo-o cortar a própria frase.
— Não diz nada agora — Fátima pediu, se aproximando novamente e acariciando levemente o rosto ainda pálido de William.
— O que aconteceu? — ele perguntou tão baixo que Fátima precisou estreitar os olhos e se aproximar mais dele para entender a pergunta, já que os aparelhos ligados também não ajudavam.
— Vou chamar o médico primeiro, William. Você terá tempo para falar disso, tudo bem? — ela sorriu e se afastou de uma vez, saindo do quarto em seguida.
William, ainda confuso, deixou seu corpo relaxar sobre a cama e fechou os olhos, deixando com que um sorriso fraco brincasse no canto de seus lábios.
Havia coisa melhor que acordar e dar de cara com Fátima murmurando coisas e segurando sua mão como se você pudesse sumir a qualquer momento? Para ele, não.
Alguns segundos ou minutos se passaram e a porta do quarto se abriu, William não se deu o trabalho de tentar abrir os olhos novamente. Sabia que Emma estaria ali também, mas não pôde evitar que seu coração acelerasse de pura ansiedade, fazendo os aparelhos apitarem mais altos.
Uma risada fraca ecoou pelo quarto e William abriu os olhos devagar, fitando Emma e Fátima que estava logo atrás dela falando no celular e com um enorme sorriso no rosto.
William deixou um sorriso sincero brincar no canto dos lábios e Emma não evitou que algumas lágrimas teimosas escorressem pelo rosto.
— Finalmente, rapaz — o médico murmurou enquanto pegava as coisas necessárias para examinar William. — Sabe há quanto tempo está aqui?
William não respondeu, apenas encarou o médico com uma das sobrancelhas arqueadas.
— A única coisa que ele conseguiu pronunciar foi "O que aconteceu?", doutor — a voz de Fátima ecoou pelo quarto, fazendo com que William a fitasse de uma forma agradecida, deixando claro que não se daria o trabalho de falar. Pelo menos não com o médico.
O mais velho suspirou e encarou William por alguns segundos.
— Farei o procedimento padrão e prometo liberá-lo para vocês contarem as coisas. Aos poucos. Ele não pode sofrer tantas emoções, tudo bem? — o médico se virou para Emma e Fátima, que apenas confirmaram com a cabeça.
Não era certo nem autorizado, mas ambas ficaram ali assistindo a série de exames que William passava. Emma ainda estava em choque e não largara a mão de Fátima nem por um segundo. Estava feliz, só não sabia como demonstrar ainda.
Uma hora se passara e o médico finalmente acabou todos os exames. William estava visivelmente cansado, mas não queria que Emma e Fátima saíssem, queria saber o que acontecera naquele tempo, queria, pelo menos, ter certeza de quanto tempo dormira.
William deixou um suspiro escapar e se virou, lentamente, para Emma.
— Emma... — ele murmurou fracamante e, finalmente, chamando a atenção da amiga. Fátima sorriu levemente e se levantou, eles precisavam daquele tempo. Emma assistira tudo de perto, ficara com ele no pior momento.
— Ei, William — ela caminhou devagar, até a beira da cama dele. — Senti sua falta.
— Eu também — ele respondeu baixinho. — Quanto tempo estou aqui?
— Pouco mais de três meses — ela respondeu baixo e devagar para ele entender bem.
William piscou os olhos e juntou as sobrancelhas, claramente assustado pela resposta.
— Como? — ele perguntou, tentando se sentar e Emma o segurou pelos ombros, fazendo-o continuar deitado.
— Você ouviu, William — ela suspirou. — Ah, que merda, estou tão feliz por te ter de volta! — ela finalmente sorriu. — Você quase nos matou de susto, mas eu sabia que você seria forte de novo, William.
— Como está o Nicholas? — William perguntou sorrindo e brincando com os dedos da mão de Emma.
— Ótimo e louco para te ver. Ele veio aqui uma vez, aliás — ela sorriu e segurou a mão de William com firmeza. — Ele estava com medo de te perder, William. Muito medo. Assim como eu, o Charlie e a Fátima... — ela mordeu o lábio e fitou o chão. — Charlie está arrependido e disse que virá te visitar logo. Hoje não tem como ele sair do prédio, ele ficou aqui esse tempo todo junto com a Fátima.
— O Charlie é como um pai, Emma — William praticamente sussurrou e levantou os olhos para a amiga. — E a Fátima... Bem — ele deu uma risada fraca e deixou a frase morrer por ali.
— Você a ama, não é? — Emma perguntou sorrindo e William permaneceu em silêncio, apenas fitando o teto. — Certo, não vou perturbar você hoje. Mas só por que não posso ficar aqui por tanto tempo. Tenho sistemas para invadir, códigos para quebrar, preciso ajudar Ryan em algumas coisas. Aliás, ele conseguiu mesmo ficar aqui. Charlie, por gostar do trabalho dele, o deixou. Mas, bem, você sabe, né? Ele me ajudou a tirar você da cadeia. Charlie ficou bem bravo com isso e vem nos enchendo de trabalhos esse tempo todo. — ela suspirou e William riu fraco. — Ah! Graças a você o Richard está fora. Mas isso eu te explico quando você sair daqui. Agora... Como já quebramos leis demais, vou deixar Fátima entrar para vocês conversarem melhor mesmo não sendo horário de visitas. Eu e Charlie conseguimos um esquema nada honesto para conseguirmos ver você todos esses dias por mais tempo que o normal. Foi difícil, mas conseguimos.
— Vocês realmente me amam — William murmurou dando uma risada fraca em seguida. Sentia-se cansado, mas não tinha coisa melhor que ouvir aquelas coisas. Não existia coisa melhor que saber que estava consciente de novo, simplesmente não existia. Era bom voltar a sentir as coisas normalmente, era bom ouvir a voz de Emma claramente, era bom conseguir falar — mesmo que pouco.
— Volto amanhã — Emma murmurou e depositou um beijo na testa de William, fazendo-o soltar uma risada fraca já que ele que sempre dava beijos assim nela.
— Obrigado, Emma — ele murmurou com um sorriso no canto dos lábios. — Por tudo, você sabe.
— Não agradeça — ela piscou um dos olhos. — Eu te amo e sempre irei cuidar de você.
— Eu sei — ele abriu mais o sorriso. — Aliás, te amo também.
— Eu sei — ela piscou um dos olhos e caminhou calmamente até a porta, parando apenas para acenar para William e saiu logo em seguida.
William suspirou e fechou os olhos. Não para dormir, apenas para esperar por Fátima. Sentia-se na obrigação de esperá-la acordado. Ela já o vira dormir demais. Era hora de finalmente acordar e encará-la depois de tudo o que passaram. Seu coração acelerou automaticamente ao escutar o barulho da porta se abrir e ele tinha certeza que Fátima estava sorrindo por causa dos malditos aparelhos que apitavam sem parar, fazendo seu rosto corar levemente.
— Não vou te morder, Bonner — a voz dela soou de uma forma calma que ele nunca tinha escutado. — Não precisa ficar nervoso.
— Não estou nervoso — ele murmurou e abriu os olhos, fitando-a de uma vez e sentindo seu coração acelerar mais. — Não tenho culpa se você causa isso em mim, antes dava pra esconder. Agora, bem... — ele deu um sorriso fraco e apontou para os aparelhos, fazendo-a rir e balançar a cabeça negativamente.
— Senti sua falta — Fátima praticamente sussurrou assim que se sentou ao lado de William. — No início eu pensei que... — ela fez uma pausa para suspirar e continuou em seguida: — Você morreria. Eu acho que nunca senti tanto desespero na vida quanto eu senti quando te vi passando carregado naquele dia.
— Esquece isso — William pediu baixo.
— Não dá, William — ela o encarou nos olhos. — Não dá para esquecer. Não sabendo que a culpa foi minha.
— Sua? — ele arqueou uma das sobrancelhas. — Eu fui lá, Fátima. Eu quis. Agora será que dá para calar a boca e me beijar?
Fátima riu baixo do jeito de William e ali teve a certeza que tinha seu Bonner de volta. Balançou a cabeça negativamente e desistiu de enrolar, curvou-se com cuidado e juntou seus lábios por alguns segundos, fazendo-o suspirar com o contato. William levou uma das mãos para a nuca de Fátima e aprofundou o beijo. Céus! Como diabos ela aguentou ficar mais de três meses sem beijar aqueles lábios?
Afastaram-se após alguns segundos e William suspirou pesadamente.
— Não quer me contar o que realmente aconteceu? — ele perguntou baixo, enquanto brincava com uma das mãos de Fátima, que permaneceu em silêncio. — Estou dormindo há três meses, certo?
— Pouco mais que isso — ela respondeu dando de ombros e William a fitou.
— E o nosso bebê? — ele perguntou receoso. Não sabia quais palavras usar, talvez aquelas tivessem sido as certas. Fátima prendeu a respiração e sentiu seu estômago afundar. Não encarou William nos olhos, apenas fitou suas mãos entrelaçadas.
— Eu... — ela tentou falar, mas não conseguiu e suspirou. Tentou novamente, mas sua voz saiu trêmula: — Eu não consegui, William. Simplesmente... Não consegui — ela fechou os olhos para evitar que as lágrimas viessem. — Foi o mais longe que eu fui, sabia? — ela abriu os olhos e fitou William que tinha o semblante abatido pela notícia. — Ele chegou a mexer — ela sorriu fracamente. — Enfim. Está tudo bem agora. Você está acordado e eu já me conformei com isso. Podemos seguir normalmente.
— Teremos tempo para tentar de novo, Fátima... — ele murmurou enquanto encarava o teto. Quando levara os tiros, já tinha se acostumado com a ideia de ser pai. Apagara nos braços de Emma com esse único pensamento: seria pai caso acordasse. E, bem, ele acordara. Mas Fátima não conseguira segurar a criança, e ele não a culpava. Jamais culparia, aliás! Depois de tudo o que ela passara, o sofrimento, a tortura de ter que caminhar por vários minutos enquanto tentava salvar o bebê... Não era culpa dela, talvez tudo tivesse dado certo se ela tivesse tido a proteção que merecia.
Fátima o encarou enquanto aquelas palavras ecoavam por sua cabeça. Ele estava pensando em continuar naquilo?
Apenas em pensar isso, Fátima sorriu.
— O que quis dizer com isso? — ela perguntou baixinho, apenas para confirmar seus pensamentos.
— Podemos tentar, Fátima. Você sabe sobre o que estou falando — ele riu fraco e apertou os dedos em volta da mão fria de Fátima. — Não me faça falar em voz alta, por favor.
Ela riu mais uma vez e balançou a cabeça negativamente.
— Não tem que fazer as coisas por se sentir obrigado, William — ela murmurou encarando-o nos olhos.
— Se ainda me lembro bem, três meses atrás, antes de entrar naquele saguão... — ele fez uma pausa e se sentou devagar, com a ajuda de Fátima, continuando em seguida: — Eu te disse três palavras, Fátima. O sentimento não mudou só por que fiquei em coma.
Fátima sentiu seu coração parar e piscou os olhos algumas vezes, enquanto William não desviava os olhos dos dela, fazendo-a corar levemente e abaixar a cabeça. William estava... Assumindo mais uma vez que a... Amava? Era isso, então? Aquelas malditas três palavras que ficaram ecoando em sua cabeça por todos aqueles meses... Ele estava... Repetindo-as interamente?
Automaticamente, Fátima sorriu e balançou a cabeça negativamente.
— Diga, William. É tudo o que peço — ela pediu sorrindo fracamente e William deu uma risada fraca, fazendo os aparelhos apitarem mais uma vez. Revirou os olhos sem jeito e supirou em seguida, rendendo-se de uma vez por todas.
— Eu amo você — ele soltou baixo, fazendo-a abrir mais o sorriso. — Vamos tentar fazer isso dar certo? — ele perguntou, suspirando mais uma vez. — Eu acho que preciso disso, sabe? Um tempo. Uma tentativa. Um pouco de felicidade. Paz... — ele fez uma pausa para brincar com os dedos dela novamente — Você me traz isso — levantou os olhos novamente. — Paz, felicidade, vontade de tentar ser alguém novo... Eu só... Preciso de um tempo longe disso tudo. Mas com você.
— Charlie está te devendo férias — ela murmurou e suspirou, fitando-o nos olhos em seguida.
— Eu tenho um apartamento livre em Bournemouth — ele sorriu fracamente. — Não vou lá desde que meu pai morreu.
— Isso é um convite? — ela perguntou mordendo o lábio inferior.
— Talvez seja — ele deu de ombros. — Você aceitaria?
Fátima o fitou por alguns segundos com um sorriso bobo nos lábios. Após soltar um suspiro — talvez aliviado, talvez por nervosismo, talvez por medo... — pesado, respondeu firmemente:
— Sim.
Não se importavam com o que viria depois. Os corações de ambos gritavam implorando por aquilo, não negariam mais. Ambos queriam a felicidade — o amor, o carinho e, acima de tudo, a verdade — e aquela talvez fosse a última chance que teriam de recomeçar, de correr atrás, de tentar.

"No fundo acho que a amor ainda vale a pena.
O masoquista espera se sentir melhor se torturando,
E o apaixonado se sente melhor quando a tortura acaba.
E enquanto não encontramos cura para essa dor não física,
Prefiro acreditar que em um tempo não tão distante,
Essas minhas lágrimas vão se secar e a dor logo vai passar."
Masoquismo por Bianca Geisler (Leitora que se inspirou no capítulo 29 para criar esse poema, quem quiser lê-lo inteiro, aqui: )


***



Bill sorriu ao ouvir o momento ternurinha de William e Fátima através de seus aparelhos e virou-se para seu mais novo companheiro que o havia ajudado a colocar as escutas espalhadas pelo quarto de William.
— Parece que Bournemouth é nossa próxima parada — ele disse enquanto acendia um cigarro e tragava-o com vontade, sentindo, então, o gosto da vitória e não o leve gosto de menta que o cigarro tinha.
Sua próxima parada é Bournemouth — o outro rapaz respondeu sorrindo. — Minha próxima parada é Palermo. Itália, meu caro.
— O que faço com eles, então? — Bill perguntou tirando o cigarro da boca por uns segundos e esticando as pernas sobre a mesa do escritório em que estavam.
— Deixe-os vivos — o outro respondeu calmamente.
— Por quê? — Bill estreitou os olhos. — Não era sua maior vontade matá-los?
— Porque assim eles sofrerão mais, doerá mais, pequeno Bill — ele sorriu. — Tortura prolongada é sempre a melhor.
— Tudo será de acordo com o plano que o Crowley queria usar — Bill relembrou ao mais novo companheiro. — Sem tirar nem pôr.
— Temos tempo, Bill — o rapaz sorriu. — Eu disse que seria tudo de acordo com seu irmão, então será. Apenas continue observando os pombinhos e espere a poeira abaixar.
— Como quiser — Bill deu de ombros e sugou seu cigarro novamente. — Até daqui a três anos, meu caro.
— Até daqui a três anos, se estiver vivo, Bill. Foi bom fazer negócio com você.
Após dizer isso, o rapaz saiu em passos rápidos. Atravessou o portão da grande casa abandonada que usavam só para aquelas coisas e suspirou.
Hora de dar tchau!
Balançando a cabeça negativamente de uma forma debochada, puxou o pequeno controle do bolso e atravessou a rua vazia. Olhou em volta e esperou alguns segundos, ajeitou o chapéu preto que usava e apertou o botão de uma vez por todas. Pobre Bill.
Boom!
Uma grande explosão fora ouvida e logo gritos desesperados ecoaram das casas vizinhas. Sem se importar com o que aconteceria a seguir, o rapaz guardou o controle de volta ao bolso e sorriu.
Ainda com um grande sorriso alegre nos lábios, voltou a caminhar calmamente. Parou em frente ao seu carro e adentrou o mesmo, jogou o chapéu para longe e ligou o carro em seguida, como se nada tivesse acabado de acontecer. Aliás, nada realmente aconteceu. Oras, ele não tinha nada a ver com aquela gente! Era outra pessoa.



Eu comecei a 2ª fase dessa fic sabe? Mas acho que vou parar por aqui, a titia já não digita tão bem quanto antes...

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