Capítulo 19

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Nicholas adentrou o elevador e apertou o botão para o terceiro andar. Era o andar mais vazio e calmo do prédio, Emma sempre o deixava ficar lá para o pequeno ler seus gibis. Ela sabia que ele estaria seguro ali, porque, além de estar no mesmo lugar que ela, estava cercado de policiais e ninguém sequer chegaria perto dele, por todos conhecê-lo. Nicholas normalmente ficava numa salinha no fim do corredor, onde era a sala que David costumava ficar também. A sala não era muito grande, mas também não era tão pequena e Charlie toda hora ia até ela para pegar algum documento e olhá-lo. Não havia motivos para preocupação ou medo. Além do mais, Nicholas era esperto o suficiente para sair de lá, caso alguma coisa estranha acontecesse.
Ao chegar ao andar desejado, Nicholas saiu do elevador e cumprimentou algumas das poucas pessoas que andavam por ali. Todos já estavam cientes da situação, portanto, ficavam sempre de olho no pequeno, que era considerado o "mascote" do local. Isso deixava Emma mais tranquila e relaxada, fazendo-a ficar mais concentrada no trabalho.
Nicholas parou de andar, no meio do corredor, ao escutar alguns barulhos e olhou para trás. Não havia mais ninguém ali. Talvez os barulhos que tinha escutado tenham sido do outro lado ou até mesmo do andar de baixo. Continuou a andar sem se importar, mas o barulho estava ficando mais próximos. Que diabos estava acontecendo?
Nicholas suspirou e deu meia volta. Estava começando a ficar com medo daquele lado tão vazio, voltaria para onde todos estavam.
O garoto parou de andar assim que viu uma silhueta entre as sombras no início do corredor. Era provavelmente um homem. Alto, ombros largos... Isso fora a única coisa que Nicholas quis observar, estava mais assustado agora. O corredor estava vazio, completamente vazio agora, oras! Ele não ficaria ali para tentar reconhecer uma silhueta que parecia tão desconhecida. Charlie não era tão alto, William tinha ombros largos mas não tanto, Ernesto estava com Lucy terminando de ajeitar algumas coisas, Brian era, com toda certeza, mais alto e mais forte, Ryan estava com sua mãe... Quem diabos seria aquele homem parado o encarando entre as sombras? Ele que não ficaria ali para ver. Apertou os passos e voltou a seguir para a sala onde normalmente ficava. Porém passos além dos seus ecoaram pelo corredor silencioso, o garoto olhou para trás e não havia mais nada. Nem sequer a silhueta do homem estranho. Nicholas sentia medo de estar ficando louco ou de ainda estar traumatizado pela invasão em sua casa, por mais que agisse bem com tudo aquilo para não demonstrar medo para sua mãe, ele ainda se assustava com certas coisas. Mas tinha certeza que trauma não havia mais nenhum. Porém, ainda sentia medo de que um dia isso voltasse, sentia medo de que, um dia, aquele medo extremo tomasse conta de seu corpo a ponto de fazê-lo querer gritar e chorar feito um bebê.
Nicholas olhou para trás de rabo de olho e pode ver uma sombra atrás dele. Provavelmente a mesma silhueta de antes. Sentiu seu coração acelerar de medo e apertou os passos, quase começando a correr. Porém, o contrário do que ele pensava, os passos atrás dele também apertaram, fazendo barulhos mais altos. Sem se importar com mais nada, começou a correr, sentindo a adrenalina de antes correr por suas veias. Sabia que não tinha muita chance com aquela pessoa pelo simples fato de ser uma criança, mas era esperto o suficiente para entrar em uma das salas e tentar se esconder.
Nicholas virou à esquerda, direção oposta da sala que costumava ficar, abriu uma porta qualquer, entrando ali e se jogando atrás das grandes caixas com arquivos velhos. Não se importava se tinha alguém atrás dele de verdade ou não, apenas queria sentir-se seguro e afastar aquele medo de uma vez por todas.
Ouviu a porta se abrir lentamente e fazer um barulho estranho, se encolheu mais atrás das caixas e pôde ver um pouco do homem que estava atrás dele. Nicholas não sabia o que estava acontecendo, nem o porquê. Só sabia que queria sair logo dali e não queria ficar sozinho nunca mais.
Enquanto o homem rondava a sala, Nicholas andava devagar, abaixado, tentando chegar próximo da porta para finalmente sair correndo e ganhar vantagem.
— Eu sei que você está por aqui, pequeno Nicholas. — O homem disse baixo, por causa do silêncio que havia no local. — E eu vou te encontrar...
Nicholas respirou fundo, devagar, engolindo as lágrimas de medo e correu em direção a porta, deixando o homem ali de boca aberta com sua pequena esperteza.
O menino corria sem olhar para trás e sem se importar se o homem vinha atrás dele ou não.
Nicholas parou em frente ao elevador e apertou o botão loucamente, ele sabia que o homem estava se aproximando, mas o elevador simplesmente não vinha. Engoliu as lágrimas novamente e voltou a correr, indo em direção as escadas. Fechou a porta atrás de si e desceu as escadas correndo o mais rápido que conseguia e tropeçando nos próprios pés. Uns segundos ou minutos - ele não sabia bem - depois, vendo que já havia tomado uma boa distância do homem, parou para respirar e procurou rapidamente com os olhos onde estava. Soltou o ar com mais tranquilidade ao notar que já havia chego à metade do segundo andar. Podia ir mais devagar agora... Se a porta não tivesse sido aberta e ele não tivesse que recomeçar sua corrida, já deixando as lágrimas escorrerem devagar por suas bochechas rosadas. A única coisa que Nicholas queria no momento era sua mãe ou William para lhe dar um abraço e dizer que tudo estava bem. Ele não queria ficar correndo de um - suposto - bandido. Apenas queria estar em segurança.
Ao chegar, finalmente, no térreo, ignorou a dor que deu em seu tornozelo e correu mais rápido, esbarrando em várias pessoas — já que aquele era o lugar mais agitado do prédio — e abriu a porta da sala de Charlie onde sua mãe provavelmente estaria. Ao encontrá-la conversando com Charlie, correu até ela e a abraçou com força, deixando as lágrimas caírem livremente. Emma o apertou mais contra si e sentiu o quanto seu filho tremia. Ainda sem saber o que estava acontecendo, pegou-o no colo e o sentou na mesa de Charlie, que também não entendia nada.
— O que houve, Nicholas? — Emma perguntou puxando-o pelo queixo para encará-la.
— Eu não sei, mãe. Eu... — Ele tentou falar, mas engasgou com o próprio soluço de desespero.
— Se acalma, eu estou aqui, meu anjo. — Emma murmurou puxando-o para mais um abraço.
— Tinha alguém atrás de mim, mãe. — Ele levantou os olhos vermelhos e ainda lacrimejantes para a mulher à sua frente.
— Alguém atrás de você? Aqui dentro? Nicholas, não é...
— Tinha! — Ele a interrompeu e Charlie o encarou sério. — Um cara alto, de ombros largos! Eu não o conheço, mãe. Por favor, acredita em mim! Ele correu atrás de mim até o meio do corredor do terceiro andar, depois eu corri até a sala onde ficam as coisas velhas daqui e ele disse que me pegaria e... — Ele parou de falar e engoliu o choro novamente.
Charlie, ainda em silêncio, puxou a arma que sempre deixava em sua cintura e a arrumou, deixando-a carregada.
— Até aonde a pessoa te seguiu, Nicholas? — Charlie perguntou sério e Nicholas se encolheu nos braços da mãe. — Você precisa contar tudo o que sofreu, garotão.
— Ele foi atrás de mim até as escadas. No segundo andar, eu não sei, Charlie. Eu não prestei atenção. Eu só corri e torci o pé. E isso tá doendo pra caramba. — Ele deu de ombros e tirou o tênis de uma vez, jogando-o no chão.
— Certo. Não sai daqui. Fica com sua mãe o tempo inteiro, ok? — Charlie o encarou nos olhos e o menino apenas concordou. — Chame a Lucy para dar uma olhada no pé dele, pode não ser grande coisa, mas ela tem conhecimento nisso. — O mais velho finalizou e saiu da sala com sua arma em mãos. Iria virar os dois andares que Nicholas citara se fosse necessário para pegar o maldito que tivera coragem de tentar pegar uma criança.
E Só ali Charlie notara o quão sério todas essas coisas estão ficando.

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