Capítulo 11

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— Eu amo basquete. — Joaquim berra do meu lado, derramando um pouco de Coca-Cola no chão. Apesar da garoa fina que começou a cair no meio da tarde o campus continua cheio de alunos que decidiram estender o dia para ver o jogo de basquete do time da USC contra o da Bureau. É quase um clássico universitário da região apesar dos dois times serem apenas razoáveis.

— Você ama qualquer coisa que não tenha a ver com ter aula.

Ele não responde.

— Cadê aquele idiota do Hugo?

— Já deve estar lá dentro, Joaquim.

Na maioria das vezes Joca ou qualquer outra pessoa da natação não se animava muito pra assistir torneios de basquete e eu com certeza não estou pulando de alegria, mas não tenho muito o que fazer além de ir para casa ler sobre teorias jurídicas.

— Eu acho bom esse time de esquina jogar de verdade hoje. — Joaquim volta a falar assim que nos aproximamos da entrada da quadra coberta. — Não aguento mais ouvir aquele seu chefe enchendo o saco em cada festa das atléticas.

A quadra já está cheia e nós demoramos a identificar a cabeleira de Hugo na arquibancada. Não entendo como basquete chama tantos alunos sendo que o time nem é tudo isso.

Lucas está ao lado de Hugo, parecendo nervoso com algo. Jogos como esse não fazem parte dos interesses do meu colega de quarto e eu não faço ideia do que ele está fazendo aqui.

— Onde você estava? — Joaquim pergunta para Hugo que apenas o olha por cima do saco de pipoca que segura. — Achei que o combinado era esperar na entrada da quadra e não dentro.

Hugo arqueia as sobrancelhas.

— Se acalma, Joaquim.

— Vocês dois parecem um casal — resmungo, me sentando.

O olhar de raiva de Joaquim quase me faz rir. Hugo volta a comer e a encara a quadra em silêncio e Lucas não diz nada quando eu me sento ao lado dele. Apenas acena com a cabeça para mostrar que está ciente da minha presença. Ele realmente está nervoso com algo, dá para notar pela forma com que ele enfia as mãos nos bolsos do moletom do Pantera Negra que está usando.

É engraçado como Lucas é todas essas coisas em uma pele só. Seus óculos quadrados e seu amor por HQs dão a ele um ar de inteligente e de quem sempre tem um livro na mochila, mas as tatuagens que quase fecham o seu braço direito e estão espalhadas pelo seu tórax e abdômen poderiam muito bem pertencer a um dos caras do time de basquete que estamos prestes a ver.

Joaquim e Hugo começam a criar uma aposta entre eles sobre o resultado do jogo quando os jogadores dos dois times saem do vestiário. No meio deles está Fernando que vai direto até um grupo de garotas. Não estou interessado em participar da aposta porque Joaquim é um mal perdedor, então apenas observo a movimentação das arquibancadas, procurando Zara sem perceber. Não preciso procurar muito, pois ela aparece na minha frente e por pura ilusão eu me deixo achar que ela está aqui por mim, mas a garota do lado dela me mostra que não. Elas vieram por Lucas.

Assim que ele coloca os olhos na amiga de Zara eu entendo que ela é o motivo do nervosismo dele. Guardo a imagem da expressão dele ao olhá-la para usá-la nas nossas próximas discussões que com certeza aconteceriam. Mas, ao pensar melhor a respeito, acabo deixando pra lá. Não devo estar muito diferente olhando para Zara.

O cabelo dela está solto e cheio, brilhando em volta do seu rosto. Ela sorri um pouco antes de cumprimentar Lucas. Um tic toc dentro de mim aparece. Eu sou deprimente.

— Zara! — Hugo nota a presença dela. — Nossa colunista preferida. O Isaque adorou o seu último texto.

Olho para Hugo e divago pensando se conseguiria afogá-lo no próximo treino. Ele é uns cinco centímetros mais alto do que eu, então pode ser difícil, mas eu estou disposto a tentar.

Brilho e EspumaOnde histórias criam vida. Descubra agora