Capítulo 12

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— Não está tão bom assim. — Tainá diz. — Não quanto eu imaginei que ficaria. Seu sofrimento foi por nada, Hugo.

Os últimos cinco minutos foram passados em silêncio para que Tainá, Joaquim e eu pudéssemos analisar pela primeira vez o mais novo site da Universidade de Santa Clara, feito exclusivamente por alunos, na sua maioria da área de comunicação. Eu não fazia ideia de que o Holofote já tinha ido ao ar, mas Hugo fez questão de nos avisar antes que tivéssemos a chance de perguntar o que estava acontecendo, porque a expressão dele quando nos encontrou na sala de estudos do prédio de direito era de uma pessoa no mínimo transtornada.

— É, não está tão bom assim se você ignorar esse layout ultra profissional — Joaquim comenta.

Lanço a ele um olhar repreensor e ele apenas dá de ombros.

— Sou muito mais o seu jornal, Hugo — falo para o garoto ao meu lado que mexe com um canudo o líquido de cor esquisita do copo que segura. — Os textos não estão bons. Tem gente aí que eu achei que nem sabia escrever.

— E a maioria das matérias é inútil. — Tainá complementa se afastando do notebook. — Ninguém quer saber sobre as engenhocas que o pessoal de engenharia inventa. Tenho certeza de que, seja lá o que for, alguém no Japão já pensou a respeito antes e já deve ter patenteado.

Hugo dá um gole ruidoso na bebida e eu olho para o salão que está mais lotado do que costuma estar àquela hora do dia. Os alunos costumam dispersar depois do almoço. Saem do refeitório e voltam para casa, ou se espalham pelo campus, se ocupando com a diversidade de atividades curriculares extras que a USC oferece. O jornal é uma delas, assim como oficinas de artes, grupos de estudo e pesquisas, os esportes e agora o site de notícias.

Mas está chovendo hoje e isso fez todo mundo se agrupar dentro dos prédios.

— Obrigado, Joca. — Hugo diz com um suspiro de alívio.

Joaquim ergue os olhos azuis para o outro garoto.

— De nada, apesar de não fazer ideia do que eu fiz.

— Obrigado por ter se recusado a escrever para o jornal quando eu, em um momento de desespero, te pedi ajuda. — Ele coloca o copo na mesa, abrindo espaço entre o computador e os livros que Tainá trouxe para Joaquim e eu. — Pelo menos posso me orgulhar do nível dos nossos textos e do conteúdo. Se você tivesse entrado para equipe com certeza o nível teria caído.

— Então agora você vai parar de surtar cada vez que falarem desse site? — pergunto para Hugo.

— Sim, porque eu percebi que a concorrência é fraca.

Um trovão faz as vidraças da sala de estudos chacoalharem. Está garoando desde manhã, mas nada que justificasse um trovão desses.

— O que aconteceu com a história de sem previsão de chuvas para o mês, T.? — Joaquim questiona só para provocar a garota que o olha irritada.

— Março não é um mês exatamente de chuva, mas pode ter pancadas mais fortes aleatoriamente.

— Acho que você deveria ter feito jornalismo e virar a mulher do tempo da CNN — digo para ela sorrindo.

— Ou da TV municipal de Santa Clara. — Joaquim dá uma gargalhada.

— Talvez você possa pedir um espaço no Holofote — Hugo continua. — Uma coluna sobre meteorologia.

Tainá nos olha com a expressão neutra.

— Às vezes eu me pergunto por que eu falo com vocês. De verdade.

— Deve ser por pena — sugiro.

— Ou porque nós três somos os caras mais legais desse campus — Joaquim diz — E você quer andar com os descolados.

Brilho e EspumaOnde histórias criam vida. Descubra agora