Capítulo 29

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Zahara

Nunca demorei tanto para escolher o que vestir. Em outra ocasião eu entraria no closet e pegaria a primeira coisa que parecesse confortável. Hoje eu quero algo confortável, mas que me deixe bonita.

Questionei minha aparência hoje umas dez vezes ao dar de cara com o meu reflexo nessa casa. Normalmente eu não penso nisso e não escolho a roupa que eu vou usar para o dia seguinte, mas estou nesse closet há 20 minutos procurando o que eu vou vestir amanhã para a Páscoa.

Isaque me convidou, se lembrando de quando eu comentei que Naiha e eu passaríamos o dia sozinhas. Ele parecia nervoso, mas também muito animado com a ideia. Eu disse não, que Naiha e eu ficaríamos bem, porém, antes mesmo que Isaque pudesse insistir eu mudei de ideia. Eu precisava me colocar no mundo, eu precisava resgatar as minhas próprias teorias sobre essa essência que há dentro de mim. Eu precisava viver, então eu disse sim já sabendo que Naiha adoraria.

Vim para o meu quarto porque não podia mais olhar para a minha mãe dando ordens e lista de afazeres para Otto e os empregados para os dias que ela estaria na Califórnia. O voo dela sai em quatro horas, mas ela ainda está em casa fazendo ligações e sendo seguida de perto pela sua nova assistente.

Queria que ela fosse embora de uma vez. Já que ela não poderia ficar, que fosse logo e deixasse que eu consolasse Naiha quando a ausência dela atingisse de verdade minha irmãzinha que até agora está reagindo muito bem. A ideia de passar um dia com Isaque está distraindo nós duas.

— Zahara? — Quase derrubo vários cabides quando Melissa entra no cômodo. Achei que a veria de novo só na semana que vem quando ela voltasse.

Van Gogh se desespera ao vê-la. Ele estava andando de um lado para o outro no carpete do closet, mas agora está arisco, procurando uma forma de sair. Só que Melissa está bem na porta. Ela olha para o gato e não diz nada.

— Estou indo para o aeroporto.

Ela está vestindo algo que não tem muito a ver com uma viagem longa como a que está prestes a fazer, porém é menos formal do que a que ela usa diariamente. Pelo menos está de tênis ao invés de salto alto.

— Certo. Boa viagem.

Minha mãe olha para as peças de roupa que eu seguro. Um cardigã vermelho velho e uma saia jeans preta. Van Gogh mia e olha para mim gritando por ajuda. Eu passo meu pé descalço na barriga dele para acalmá-lo.

— Naiha me disse que vocês vão para a casa de um amigo seu amanhã.

Ela está sem bolsas e com uma blusa elegante, mas bem solta e que deve ser o mais perto de algo confortável que ela achou. Seus braços estão para fora e eu noto como eles são finos como os meus. Será que ela se acha bonita ou fica se perguntando constantemente sobre isso quando se vê em algum lugar? Eu sempre a achei linda.

— Não precisa se preocupar. Ele é de confiança. Não vai acontecer nada com ela — digo, pois, sei que ela está preocupada com a possibilidade de eu estar levando Naiha para um maníaco. Como se eu fosse capaz de fazer isso.

— Eu sei, Zahara. — Ela suspira e uma mexa do seu cabelo toca o seu rosto. — Naiha está muito animada.

Confirmo com um aceno e volto a colocar as roupas no lugar, frustrada por de repente sentir que nada do que eu tenho é bonito o bastante.

— Vai me falar sobre ele? — Minha mãe pergunta em voz baixa.

— Quem?

— Esse garoto.

Olho para ela sem entender.

— Ele não é nenhum psicopata. Ele é muito legal e bondoso. Educado também. — Van Gogh está mais relaxado, lambendo as patas. Olho para ele enquanto falo. — Relaxa, o.k.? Ele já veio aqui, Otávio o viu. Pergunte o que ele achou.

Brilho e EspumaOnde histórias criam vida. Descubra agora