Capítulo 15

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Capítulo 15

Isaque

Quando eu tinha 13 anos uma família se mudou para a nossa rua. Nessa época, as únicas coisas que eu fazia além de ir obrigado para a escola, era ir para natação e ficar sentado na grama do jardim da frente de casa olhando o movimento.

Só que quase não havia movimento. Domingos Martins é uma cidade pequena comparada com outras da região e a área em que eu moro sempre foi cercada de muito verde, muita montanha e campos.

O que aconteceu é que em uma dessas minhas observações eu vi um caminhão de mudança parar na casa em frente à minha. Naquele dia vi o que achei ser na época a criatura mais linda do universo. O cabelo loiro caía até o meio das costas e olhos eram azuis como uma piscina limpa. Logo a minha mais nova vizinha se viu obrigada a falar comigo já que não havia muitas crianças naquela rua e cada vez que conversava com ela eu sentia uma coisa estranha no estômago.

Contei para minha mãe e ela me disse que eu estava apaixonado. Não era idiota, sabia o que isso significava e por isso neguei com todas as forças. Minha mãe disse que um dia eu entenderia aquilo, mas eu já entendia e tinha certeza de que não estava apaixonado. Agora eu posso dizer com muita convicção que eu estava certo. Claro que eu não estava apaixonado com 13 anos, eu estou agora.

Por isso foi tão difícil aceitar que Zara havia sumido assim, sem mais nem menos. Primeiro eu achei que ela só tinha saído para tomar um ar, aproveitar que a chuva parou depois de horas de temporal. Mas ela demorou e depois de esperar quase duas horas, eu saí do apartamento dela e fui para o meu.

Liguei e ela não atendeu. Ainda assim pensei que ela aparecia em algum momento, mas Zara sumiu e foi só no domingo que eu entendi que ela havia ido embora. Ela estava me evitando depois de eu ter dito o que eu disse.

Aquela foi a segunda vez que eu pronunciei a frase "estou apaixonado por você" e assim que eu a disse para Zara descobri que a primeira vez foi uma completa mentira. Na época eu achei que eu estava mesmo apaixonado, mas comparando os sentimentos agora eu vejo que eu só estava sentindo falta de estar com alguém.

Eu estou apaixonado. Mas também estou irritado e com o orgulho ferido por ter sido descartado depois de me declarar. Não esperava que ela respondesse que sentia a mesma coisa, mas aqueles beijos e sorrisos me fizeram acreditar que talvez ela pelo menos gostasse um pouco de mim.

Sempre soube que meu conhecimento na área romântica era nulo. Não entendo as garotas em geral, então nunca entenderia Zara. É mais fácil fingir que nada tinha acontecido. É mais fácil também silenciar o meu relógio interno que entra em colapso toda vez que eu penso nela, coisa que eu estou decidido a evitar fazer, mas é quase impossível tendo Hugo e Joaquim como amigos.

Não estava nos meus planos contar nem mesmo a eles que eu levei um chute, mas foi impossível não falar. Lucas não consegue vencer a vontade de expor tudo o que eu faço para os meus amigos, então ele deixou escapar para Joca a ligação que me ouvir ter com Zahara.

Mas por mais que eu tente evitar, vejo Zara na segunda-feira à tarde quando estou a caminho do ginásio. Ela está segurando uma tela embrulhada em papelão e conversando com alguns alunos.

Seu rosto parece normal. Os cabelos crespos estão presos em dois coques, um de cada lado da cabeça. O rosto parece um pouco cansado, mas nada fora do normal. Estou fazendo todas essas análises quando ela se vira pra mim. Mas não dura muito, pois ela desvia o olhar depressa.

Ela não vir falar comigo é só uma prova de que realmente eu levei um fora. E tudo bem, não vou ficar insistindo. Ficar a observando não é o caminho para esquecê-la, então eu vou para o meu treino e no vestiário encontro Joaquim cantarolando.

Brilho e EspumaOnde histórias criam vida. Descubra agora