Zahara
Já faz algum tempo que eu estou olhando a avenida pela janela, prestando atenção no barulho dos carros, nos passos e nas vozes que vem da rua. Sei que deve estar parecendo estranho então olho para Isaque. Como imaginei, ele está me observando com preocupação. Sorrio para dizer que está tudo bem, mas não adianta muito. Ele ainda está esquisito. Eu me inclino sobre ele e o beijo, pressionando seus ombros nus. A pele dele está quente e eu fico trêmula ao lembrar do que aconteceu. Mas de uma forma boa. Acho que não vou esquecer tão cedo o jeito que ele me olhou e me fez me sentir segura.
Não queria preocupá-lo com esse meu silêncio, mas não consegui me conter. Eu só queria ver se o mundo continuava o mesmo lá fora. Se a Terra continuava girando e as pessoas continuavam sendo as mesmas porque eu me sinto diferente. Eu estou diferente.
— Qual era o segredo dessa receita? — Isaque volta a comer e eu rio.
Nos vestimos, descemos pra cozinha e não falamos muito enquanto tentávamos colocar em prática a receita de Naiha. Mas não foi um silêncio ruim. Foi cheio de beijos e abraços. E risadas.
— Você não prestou atenção em nada, né?
— Eu estava pensando em outra coisa — ele dá um meio sorriso significativo e eu reviro os olhos.
Depois de pronta, voltamos para o quarto com a pizza. Não queria sujar nada, mas também não queria sair desse cômodo tão cedo. Sei que teríamos que fazer isso em breve, mas por enquanto eu só queria lembrar um pouco.
É engraçado. Sempre me perguntei como esse momento seria ou se eu nunca deixaria ninguém se aproximar de mim. Eu sempre tive medo. Não só do sexo, mas de tudo. A ideia de estar com alguém é apavorante quando você duvida de tudo em si mesmo.
— Por que você não me contou antes? — ele pergunta baixo, passando o dedo pela ponta de um cacho que caí sobre o meu ombro. — Que você era virgem.
Olho para Isaque e vejo que ele está tenso. Se eu não tivesse sussurrado para ele em meio aos beijos que nunca tinha transado com alguém, ele descobriria sozinho. Minha total inexperiência estava estampada em todas as partes de mim. Ainda está.
Eu o deixei guiar tudo, mas quis me aventurar um pouco também. Posso ser inexperiente, mas isso não me impediu de querer tocá-lo.
— Não achei que fosse importante.
— Zara...
— Fiquei com vergonha. Falar despertaria dúvidas, por exemplo, por que o campus todo acha que eu sou prostituta ou algo assim.
Falo tudo muito rápido, um pouco chateada por esse pensamento estar estragando a minha felicidade. Nunca deixei ninguém se aproximar muito de mim porque nunca fiquei confortável o bastante com alguém pra me mostrar por inteiro. Não é muito fácil ter que viver escondendo quem você é, escondendo que uma parte de você é quebrada.
— Fui a uma festa no meu primeiro final de semana em Santa Clara. Eu ainda estava mal e minha vontade era de me trancar no apartamento e sair só para as aulas, mas Sandra disse que eu tinha que viver. Um passo de cada vez. Fui com a Bia que foi a primeira pessoa que me aceitou. Um garoto se aproximou de mim no meio da festa, me agarrando sem eu ter dado permissão pra ele encostar em mim. Ele disse que me achou bonita e perguntou se eu queria ir pra um lugar com ele. Eu disse que não, ele não gostou. Acho que ele não estava acostumado a levar fora de uma garota. — Dou uma risada seca. — A próxima coisa que eu sei é que no dia seguinte a USC toda estava falando sobre como a novata de Santa Clara transou com o capitão do time de basquete da Bureau em troca de dinheiro. — Encaro fixamente o lençol branco da cama. — Ele até inventou um valor.
Eu sorrio para amenizar a história e controlar o desprezo na minha voz, mas o estrago já está feito. Isaque está paralisado do meu lado, me olhando quase em choque.
— Capitão do time...?
— É. — Eu o interrompo. — Um tal de Mateus, eu acho. Encontrei com ele naquela festa em que você me deu uma carona de volta pra faculdade e fiz o que eu deveria ter feito antes.
— Você deu um soco nele — ele fala sem mexer muito os lábios.
— Você ficou sabendo! — Rio, mas Isaque está sério.
Ele coloca as bandejas de lado e eu já prevejo o que ele vai dizer. Algo sobre como ele vai arrebentar a cara do Matheus, mas eu não quero que ele faça nada então eu me antecipo.
— Tem coisas que não valem a pena — digo. — Não importa o que você faça, as pessoas vão acreditar no que elas querem.
Isaque parece frustrado com o que está ouvindo. Eu me ajoelho na cama e mexo no cabelo dele que está totalmente bagunçado e lindo.
— Você não merecia isso — Isaque resmunga e eu me imagino por fim respondendo o que ele me disse semanas atrás no meu quarto da faculdade.
Eu estou apaixonada.
— Nenhuma garota merece.
Eu o beijo e a sensação que tomou conta de mim antes volta quando eu sinto os dedos dele na minha cintura, escorregando por baixo da camiseta que me cobre. As reações do meu corpo não me intimidam e eu o toco também.
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Brilho e Espuma
RomanceTudo na vida de Isaque parece ser normal. A faculdade, os amigos e até a sua obsessão pela natação são coisas com que ele está acostumado e consegue lidar. Mas ninguém é perfeito, todo mundo tem pelo menos uma partícula de loucura e talvez tenha sid...