Capítulo 26

1 0 0
                                    


Zahara

A água fria envolve o meu corpo e eu vou descendo como um pedaço de rocha que foi jogado do topo de um prédio de 100 andares. Espero sentir o chão sob os pés, mas ele nunca chega. É só água, muita água. Em cima, embaixo e entrando no meu corpo.

Quando começa a doer e o desespero começa a me aterrorizar, eu subo, içada pela cintura por mãos que podiam me envolver de uma vez só. O ar entra dolorosamente nos meus pulmões e eu tusso um pouco antes de abrir os olhos e ver Isaque.

Ele está bravo. O rosto está molhado vermelho e os olhos brilhando de uma maneira ruim. Mas ele estava dentro da piscina então estava feito.

— Você entrou! — Cuspo um pouco de água.

— Claro que eu entrei. Você não sabe nadar! Eu não acredito que você fez isso.

Ele está me segurando ainda e eu sorrio para acalmá-lo.

— Certas situações pedem medidas drásticas. — Isaque solta um grunhido baixo e me arrasta até a raia mais próxima onde eu me seguro. Ele me solta tão rápido que eu fico frustrada. — Agora você pode ser você de novo. Não precisa fugir e ter medo.

Minha animação começa a diminuir porque Isaque não responde. Apenas se encosta na parede mais próxima e encara o outro lado. Noto seus ombros e os músculos do peito dele e quero tocá-lo. Ele está sem roupa.

— Eu sinto muito — Não foi uma boa ideia e agora parece óbvio que ela nunca seria uma ideia boa. — Quis ajudar.

Quis ajudar, mas estraguei tudo. Não que isso seja uma novidade, mas é esse lugar, essa água que faziam Isaque ser um pouco como eu. Elas o fazem recuar, se esconder como eu. Não quero que Isaque seja assim, então pulei atrás dos medos dele, porque queria que ele os vencesse e fosse feliz. Diferente de mim.

— Não me lembrava dessa água ser tão fria assim. — Isaque diz me olhando. — Desligaram o aquecedor.

Não tinha notado que estava tão frio, mas começo a tremer. Não estava frio assim do lado de fora da água.

— Lá embaixo é tão silencioso. Parece que não existe nada no mundo além de você mesmo.

— É por isso que eu gosto de treinar sozinho.

Ele se aproxima e me pega pela cintura de novo. Não me entrelaço a ele, pois não preciso. Ele e água estão me levando como se eu fosse um plástico flutuante.

— Respira bem fundo quando eu falar — ele diz e eu presto bem atenção no seu rosto. Está mais leve agora, mais calmo. — E não solta a minha mão.

Ah, Akin. Não tem graça isso, não mesmo.

Eu espero e puxo todo o ar que consigo até ouvir meus pulmões gritarem. Isaque me carrega para baixo e eu sumo no breu. Deixo os olhos abertos e eles ardem com o cloro, mas não se fecham. Eu vejo tudo. É um mundo diferente, vazio e escuro que combina comigo. Isaque solta a minha cintura e entrelaça os dedos nos meus quando estamos fundo o suficiente. Ele está logo ali, na minha frente, com os olhos abertos parecendo um peixe. Um ser mágico da água que está onde deveria estar: no meio dela.

Ele me guia, fazendo meu corpo nadar com os braços dele. Não estou fazendo nada além de bater os pés e me deixar levar. Ele é minha extensão agora, me puxando pela mão.

Quero ficar olhando mais para ele ali dentro e para nossos dedos entrelaçados, mas o ar que guardei começa a faltar e eu aperto a mão dele. Isaque entende e me puxa para cima de novo.

— E então? — ele pergunta

Seguro de novo na raia, mas agora Isaque não me solta. Deixa a mão na minha cintura e ela queima tão forte que eu acho que vai ficar a marca.

Brilho e EspumaOnde histórias criam vida. Descubra agora