Capítulo 24

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Zahara

Naiha está sentada no tapete fofo do meu quarto há alguns minutos, rindo de algo que está vendo no tablet Ela adora os jogos estilo "Vista a Barbie", "Vista a Susan" ou qualquer coisa assim. Outro dia baixei para ela um com modelos com todos os tipos de corpo e ela adorou. Corre nas veias dela o sangue estilista Calabazas. No meu também, eu acho. Meu amor por shorts e malhas de meia estação pode ser uma herança genética.

Van Gogh está na varanda, aproveitando o vento fresco da noite. Eu o chamo com um assobio e ele vem, muito preguiçoso e desconfiado sobre minhas intenções. Se eu der sinais de que vou agarrá-lo para dar alguns carinhos ele sairá correndo como um louco.

— Quer comer? — pergunto para o gato, sacudindo a lata de ração.

Ele balança o rabo e eu entendo isso como um sim. Encho os potes com ração e com um pouco de água fresca da minha garrafa e ele já vai enfiando a cara para beber. Deixo Van Gogh comendo e vou para o computador onde eu havia deixado um e-mail escrito pela metade.

Releio com atenção e volto a escrever.

" Caro Sr. Santino

O senhor não me conhece, me chamo Zahara e estudo Artes na Universidade de Santa Clara, Espírito Santo.

Não sei se o senhor já esteve no nosso campus ou nas suas proximidades, mas ele está localizado em uma área tranquila. Só é um pouco longe do comércio em geral, mas para fins educativos acho que escolheram um bom lugar para construir o que hoje é a USC.

Encontrei o seu contato em um site comercial e de empreendedores. Vi que o senhor trabalha no ramo editorial e é responsável pelo selo juvenil de uma editora local. Acho essa área muito interessante! Editar livros deve ser tão trabalhoso quanto escrevê-los.

Pensei em ligar, mas por algum motivo achei melhor escrever. Acho que o senhor, assim como eu, deve preferir a palavra escrita. E falar ao telefone me dá um pouco de ansiedade, eu confesso.

Ao lado do nosso campus tem um terreno público aparentemente abandonado. Nós o chamamos de penhasco devido a um rochedo enorme – mais ou menos três metros de altura – e muito velho que parece mais ter sido colocado ali por alguém do que ser resultado de algum fenômeno natural.

O senhor consegue imaginar uma pedra desse tamanho em um terreno comum, cercado por árvores e muros? Não sei, é um pouco estranho, e eu sempre me interessei por coisas estranhas e misteriosas porque eu sei que no fim elas vão ter uma explicação. É só questão de procurar. E é isso que eu estou fazendo agora.

Junto com um amigo, descobri que o terreno em questão foi propriedade de alguém chamado Salvador Santino. A probabilidade de essa pessoa ser o senhor é de uma em oito mil (literalmente), mas eu precisava tentar.

Sei que o senhor, respondendo ou não esse e-mail, vai se perguntar o motivo do meu interesse. Bom, além da minha natural curiosidade, eu tenho um pressentimento. Talvez seja só o bom e velho achismo, mas eu tenho a impressão que algo bom vai sair de tudo isso. Algo especial. A chance de eu estar certa sobre isso é de uma e um milhão, mesmo assim eu quero tentar.

Ficarei muito feliz e agradecerei muito se o senhor me responder mesmo que for para dizer que não é a pessoa certa! Obrigada por ter lido tudo isso.

Zahara Calabazas"

Envio e olho para Van Gogh. Ele se deitou de barriga para cima, as patas abertas e os olhos fechados. Comeu até o último grão de ração e deve estar cheio demais para correr de mim. Aproveito e o beijo na barriga, coisa que se minha mãe visse, desmaiaria de horror. Naiha se arrasta até nós e começa a fazer carinhos na cabeça dele. Esse gato é muito mimado por nós duas.

Brilho e EspumaOnde histórias criam vida. Descubra agora