Capítulo 4

7 1 0
                                    


Terceiro andar, quarto 32.

Eu com a camiseta nas mãos e com calor devido ao vapor do banheiro que está invadindo o quarto. Ela com o rosto virado para a paisagem do lado de fora. Está escuro, mas da janela dá para ver o movimento na rua e o topo da capela do campus.

— Você tem uma boa vista daqui — ela diz, os braços cruzados sobre o corpo e os olhos grudados no lado de fora. — Do meu quarto não dá pra ver nada.

Não me culpo pelo tempo que demoro a reagir, primeiro pela parte óbvia: ela é uma garota que está em um lugar que não poderia estar. Segundo: por ela ser Zara.

Ao invés de parecer surpresa por ter sido pega no meu quarto, ela apenas sorri ao me olhar e seus olhos passam pelo meu rosto e descem para o meu peito. Duas vezes em um dia. Eu estou tendo uma overdose de Zara.

— Como você entrou aqui? — pergunto com a voz controlada.

— Lucas me deixou entrar.

Respiro fundo e coloco a camiseta.

— No prédio. Como você entrou sem ser anunciada?

— Da mesma forma que você entra no meu algumas noites. — Ela ri. — Já te vi por lá algumas vezes com a Raquel. Eu moro lá também sabia? _ ela diz se referindo ao prédio do lado.

— Ok. Por que você está no meu quarto?

— Eu disse que falaria com você depois, lembra? Você sumiu então eu vim aqui.

Ela diz como se estivesse mais do que claro o motivo de ela estar parada entre a cama de Lucas e a minha. Não está.

— Não precisava de tudo isso.

— Eu sei que treinar deve ser um momento importante pra você então me senti na obrigação de te dar uma explicação.

Se isso é um teste para provar como alguns dos boatos sobre ela estão certos, está funcionando. A parte da loucura está praticamente confirmada a esse ponto.

— E você sempre soube onde eu durmo ou foi só um caso de sorte você parar aqui?

Ela vira de frente para mim, encostando-se ao parapeito da janela semiaberta. O cabelo está solto, emoldurando o rosto dela.

— Eu perguntei por aí. Não foi difícil. As pessoas te conhecem, sabem quem você é.

— Você sabe?

Zara concorda avidamente.

— Aluno de Direito, estrela dos broncos e campeão de natação nas regionais universitárias em algum estilo que não lembro. Bonito — ergo as sobrancelhas porque aquela última parte tinha me pegado desprevenido —, tem alguma coisa com aquela menina Raquel, meio caladão, faz bico naquela loja de esportes do centro de vez em quando. Espécie de nerd da água.

— É...se parece comigo.

— É isso o que falam de você por aí quando cansam de falar sobre mim.

— Só que eles nunca se cansam de falar sobre você.

Os braços dela se descruzam e se soltam ao lado corpo. Não noto nela sinais de incômodo pelo o que eu falei, os olhos continuam em mim com ar de interesse. Ela sabe melhor do que ninguém que é verdade. Nunca param de falar sobre Zara.

— Tá, vamos lá. O que você tem que fazer para continuar nadando?

— Ficar vivo.

Ela gosta de sorrir porque seus lábios se esticam mais, mas eu noto que não é sempre que seus olhos acompanham o sentimento mostrado na boca.

Brilho e EspumaOnde histórias criam vida. Descubra agora