Capítulo 2

12 4 0
                                    


Zahara significa "luz" ou "brilho", segundo o Google. Alguns lugares também apontam o termo "a mais linda flor" como um dos significados. Nunca tinha ouvido esse nome e por algum motivo decidi pesquisá-lo na Internet assim que a vi pela primeira vez.

Ela chegou no começo do semestre, há menos de um mês, transferida de uma faculdade de uma cidade vizinha. Uma semana depois ela já estava sendo chamada de Zara por todo o campus e havia conseguido uma coluna no jornal da faculdade. Já perguntei para Hugo o que essa garota fez de tão bom para ele ser tão rápido em deixá-la escrever para o jornal.

— Ela pensa. Não é todo mundo que faz isso nos dias de hoje. — ele respondeu.

Já ouvi alguns boatos pesados sobre ela, como por exemplo ela ser louca com direito a atestado e tudo mais, e sobre com quantas pessoas do curso dela Zara se envolveu sexualmente. Não faço ideia de onde tudo isso surgiu, mas é o que dizem. As pessoas gostam muito de fazer isso no pavilhão C da Universidade de Santa Clara. Falar uma das outras.

De tempos em tempos aparece uma figura nova para dividir a atenção com ela, alguém que fez alguma besteira e que acaba virando assunto nas rodas de fofoca entre uma aula e outra, mas Zara nunca perde o posto de estrela. O nome dela é sempre dito com a mesma conotação surpresa e com um tom um pouco debochado no meio de uma explicação de algo absurdo que aconteceu no campus. Sempre com uma nota de curiosidade, porque por mais que as pessoas queiram torcer o nariz para toda a esquisitice dela, não conseguem. Porque com ela surgiu uma nova categoria de estudante. Ela é popular pelos motivos errados, mas não é estranha o suficiente para ser considerada uma aberração. Ela é o meio termo.

Zara é a estudante revolucionária, ativista, considerada mais ou menos problemática. Quando algo está errado, ela reclama. Se reclamar não resolver ela dá outro jeito de fazer a coisa acontecer e isso não é bom. Quando Zara quer dar um jeito, piscinas são interditadas, folhetos listando os problemas na gestão dos cursos surgem em todas as salas, votações acontecem para pedir mudanças no regulamento interno, meus treinos são interrompidos e tudo mais.

No começo era interessante acompanhar as coisas acontecerem, mas agora é só chato e todo mundo se pergunta como ela ainda está aqui. Não que quisessem que ela sumisse − foi ela e seu grupo de estudantes engajados que conseguiu, por exemplo, abaixar em um real o valor da comida do refeitório. Nunca vou esquecer esse dia. – Porém é estranho ela não ter sido suspensa ou expulsa.

Ela estuda Artes Plásticas e sempre carrega um bloco gigante de papel A1. Então ela é uma artista, mas esse é o seu lado menos conhecido. Ninguém liga para o que ela estuda ou para o que suas mãos podem fazer com um pouco de tinta. Ninguém liga para a coluna que ela mantém no jornal da faculdade, mesmo que escrever não tenha nada a ver com o curso que ela escolheu. Ninguém liga para o que ela é por baixo de tudo aquilo. Não faz diferença. Todo mundo está ocupado demais com si mesmo para realmente se importar com alguma outra coisa.

Brilho e EspumaOnde histórias criam vida. Descubra agora