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Sob a escuridão da noite, um pássaro negro planava suavemente com suas pequeninas asas estendidas

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Sob a escuridão da noite, um pássaro negro planava suavemente com suas pequeninas asas estendidas. Quem o mirasse desde baixo não seria capaz de enxergá-lo, uma vez que sua plumagem se camuflava ao céu como se dele fosse parte. Nem mesmo os afiados olhos da estranha figura errante que perambulava pelos caminhos obscuros de Nurim Juraruinm-dê foram capazes de vê-lo; razão pela qual ele seguia de perto seus passos, observando e aguardando.

A figura era um pontinho diminuto no solo da floresta, arrastando-se furtiva pela trilha enquanto os animais noturnos produziam sua cacofonia e a rotina de criaturas tão antigas quanto a própria terra se avivava. Ela não queria chamar a atenção de ninguém, não até seu trabalho estar concluído. Depois que soubessem, não lhe importaria mais. Pelo menos saberia que seu encargo estava cumprido e que não devia mais nada a ninguém, ainda que a única pessoa capaz de lhe cobrar a dívida estivesse morta há muito tempo.

Sua capa negra se balançava pela brisa, junto de seus cabelos cinzentos, cujos fios escapavam do nó frouxo que pendia da cabeça. O esforço da caminhada já cobrava seus efeitos, mas continuou seguindo em frente. Ao se aproximar do destino, sentiu, com cada vez mais clareza, a força da canção emanada pelo Ancião, seu chamado constante e tentador. Mesmo que estivesse acostumada com aquela voz doce e suave, ainda lhe custava manter a concentração.

Enfim alcançou o local. A vastidão de água era como um espelho que refletia as estrelas do firmamento. Ao longe, soou um coaxar de corvo, sobressaltando-a. Os olhos luminosos da figura surgiram de baixo do capuz e esquadrinharam as sombras em busca de sua origem, porém nada tocaram. Com um dar de ombros, retomou seu caminho, enfim se deparando com o enorme lago, em cuja profundez se escondiam terríveis segredos. Vê-lo em plena glória, belo, poderoso e imponente, fazia-a se sentir menor e mais insignificante que uma formiga... isso que estava adormecido. Por enquanto.

Havia um silêncio incomum e macabro ali, além de nenhum tipo de movimento que não fosse o leve alvoroço dos galhos ressecados das árvores, provocado pela brisa gélida. Sua pele tremia muito e a respiração se agitava conforme os pés tocavam o terreno pedregoso, tomando cuidado para não escorregar. Aproximou-se da água com um misto de temor e repúdio, esticando a mão sobre a superfície para sentir a frieza de seu toque.

— Acordais, agora. — Disse a figura, cerrando as pálpebras e exalando uma longa respiração que provocou uma onda de vapor ao redor. — É chegada a hora de despertar. A jovem está preparada. E vós também deveis estar. Erguei-vos de vossas profundezas e enfim renasceis para cobrar a jura que uma vez fora feita.

Por um instante, nada aconteceu. Sua mão estava fria como gelo, mas a deixou pairar sobre a água por apenas mais alguns momentos. De súbito, a partir do lago, uma densa bruma começou a se levantar desde as profundezas. A brisa outonal imediatamente a engolfou, levando-a para longe. Como se despertadas por aquela ação, as criaturas silenciosas das redondezas deram início a uma balbúrdia que agitou o Reino inteiro e, com ele, sua fúria. Porém, estava feito.

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