Ocultos

V | 1

G L O S S Á R I O

Burksalão

Ya'd ghutred pilech?: você se feriu?

Ya'ga shröembr: eu estou bem.

Fena gandala/vaugaleno

Ma surdei sie mói bulredei móiach: ele perguntou se você se feriu

Ma/Maé: Ele/Ela

Fena gandala: idioma geral

Vaugalath: Vale do Fogo

Vau: vale

Tá: do/dos/da/das/de

Galath: fogo

Uma vez dentro do quarto, Calendra enfim teve a dimensão de sua exaustão. Em pé diante do espelho, observou a si mesma com um fascínio horrorizado. Sua aparência era a de quem não se banhava há dias. O traje estava todo enlameado, o cabelo eriçado tinha folhas secas acumuladas nos cachos, terra se agrupava como manchas de bolor nos braços — e liberava um aroma igualmente adocicado e enjoativo. Apesar disso, não era o aspecto molambento o que mais a incomodava, não mesmo.

Rohden fizera um bom trabalho ao lavar a camada mais grossa de sangue de sua pele, mas seus vestígios ainda se faziam presentes em alguns pontos da face. A tez pálida fazia um contraste gritante com o marrom da sujeira, e mais ainda quando se observava de perto. Ela mal conseguiu acreditar quando viu as escleras refletidas no espelho, com riscos vermelhos se alongando em torno do violeta das írises.

Quanto mais olhava para a sua imagem, menos se reconhecia nela. Aquela que a encarava com um semblante inexpressivo tinha um rosto diferente, do qual a leveza e a beleza não faziam parte. Tornavam as marcas ao redor de seus olhos mais evidentes, como se ela fosse muito mais velha do que os seus dezenove anos. Aquele era um rosto sobre o qual ela não se permitia pensar com frequência, pois maculava sua ilusão de normalidade. Em verdade, Calendra lutava para fugir dele a todo custo. A menina cuja faceta mantinha oculta abaixo de tanta amargura gostava de se revelar em momentos assim. A única coisa que poderia fazer, então, seria fugir dela com rapidez.