Afrontamento (Parte 1)

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Istambul,
Antes.


Havia ignorado seu celular por mais de cinco vezes, não era algo proposital, era necessário. Precisa se concentrar no que estava a sua frente e não em roupas e móveis, aquilo poderia esperar.
Porém na sexta ligação sua capacidade de ignorar a esposa estava no limite. Yasemin sabia que ele estava se preparando para uma reunião importante, uma reunião que colocaria sua empresa no mapa da arquitetura de vez ou afundaria sua existência em lama para o resto de suas vidas.
Mas ainda assim ela insistia em ligar para ele no meio do expediente.

Suspirou forte agarrando seu celular entre os dedos.
— Achei que não iria me atender. — A voz dela era passível de raiva, mas não o surpreendia ela estava sempre com raiva nós últimos meses.

Não que ele a culpasse, não era isso. Sabia que para ela era difícil viver em casa na maior parte do tempo  sendo assistida por alguém a cada instante.

Em uma quadro como o dela, todo e qualquer cuidado era pouco.

— Eu disse que estaria ocupado, não disse?

— Você disse, mas também disse que estaria aqui para a consulta. — Ela estava prestes a chorar, ele sabia. — Serkan, eu te esperei por duas horas.

— Eu não confirmei que iria, eu disse que tentaria. E eu tentei.

— Está mentindo!

— Não estou, e sabe que odeio quando faz isso.

— Quando faço o que? Digo a verdade? — Sua voz está um pouco mais embargada, e ela limpa a garganta antes de continuar. — Não se importa comigo ou com esse filho.

— Não, me referia a supor coisas quando sabe que não são verdades. E de todo modo você não estaria sozinha, sua prima iria acompanhá-la.

— Ceren não é o pai do meu filho Serkan! Você é, e era a sua obrigação estar comigo, não a dela. — Ele deixa seu ar fugir.

As discussões não era novidade no casamento deles, na verdade eram comuns desde o fim do primeiro ano. Engravidar foi a solução que a esposa encontrou para tentar salvar um casamento a beira da falência, mas lidar com as tentativas frustradas por três abortos seguidos os tinha consumido muito. Ele já havia desistido, para ele seria mais fácil lidar com uma vida sem filhos ao ver a esposa definhar na busca ferrenha de gerar algum.

Mas ela não desistiu. E surgiu um dia com mais um teste entre as mãos, dessa vez positivo. Ele não criou qualquer expectativa, era também a razão pela qual não queria fazer parte daquilo, machucava vê-la sangrar durante a noite, ou chorar no box do banheiro, machucava ainda mais o desgaste emocional que ela apresentava nas semanas seguintes, de negação e luto após a perda precoce de um de seus bebês.

Ele queria um filho, mas não se importava se teria ou não seu sangue, existiam métodos muito eficazes que garantiriam a eles uma criança, não necessariamente precisariam passar pelos transtornos de gerar uma. Mas ela não aceitava isso.

Yasemin não aceitava que talvez nunca chegasse a ser mãe de modo tradicional, mas para ela e sua família, o sangue era imprescindível.

Então na quarta vez ele viu todo o processo de longe, não suportaria ver mais um filho perder a vida antes mesmo de se desenvolver. Mas a verdade é que ela nunca tinha chegado tão longe, estava no final do seu terceiro mês, e mesmo sabendo que ainda possuia riscos estava lotando um dos quartos com roupas, já tinha escolhido todos os móveis e não dormia sem ler um capítulo do livro sobre recém nascidos.

Aquilo o afligia.

— Está me ouvindo? — Ela gritou o trazendo para a realidade. — Meus pais tinham razão. Eu não deveria ter me casado com você...

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