Eda vs Serkan (parte 3)

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Ocupava a cadeira mais distante do homem ao centro da mesa, com sua imagem imponente e seu jeito arrogante. Teve tempo para estuda-lo enquanto a sala se enchia, hora ele bufava impaciente, hora tamborilava seus dedos sobre a mesa, talvez a observação que ela fez a seguir fosse um pouco incoerente considerando o fato de que ela o odiava vagamente, no entanto, o seu último ano não foi fácil e ela se pegou observando as mãos dele por tempo demais, talvez ainda estivesse presa nelas se ele não tivesse se levantado e as escondido no bolso de sua calça social.

O homem que ocupando a cadeira frente a ela a esteve encarando nós últimos vinte minutos.

Ela o tinha estudado quando ele entrou, alto com cabelos escuros e bem alinhados, realmente muito bonito, chamava-se Kaan e era arquiteto e sócio da Art Life. Mas o motivo pelo qual ele tinha passado os últimos minutos a encarando era desconhecido.

— Se Piril não entrar por aquela porta em dois minutos, começaremos sem ela. — O ruivo disse visivelmente sem paciência.

Eda ergueu as sobrancelhas encarando as próprias mãos, não falará muito no tempo em que esteve ali com os outros funcionários, preferia estudar o ambiente.
A loira, Ceren, estava duas cadeiras depois da dela e conversava com o homem que havia conhecido mais cedo, Engin. Os dois pareciam muito íntimos, assim como do ruivo soltando fogo pelas ventas.

Ao lado de Kaan, um homem um pouco mais magro e com uma postura elegante mexia em seu celular com devoção, ele levava um suéter pendurado nos ombros e a fez recordar do estilo mauricinho que Cenk costumava adotar para impressionar os clientes. Como ela havia perdido tanto tempo com aquele homem, era um mistério.

Arrumou sua postura na cadeira quando uma ruiva elegante cruzou a porta da sala de reuniões, distribuindo pedidos de desculpas e colocando alguns papéis sobre a mesa.

— Está atrasada, Piril! — O Sr. Gelo proferiu com as mão na cintura coberta pelo tecido branco de sua camisa slim.

— Eu sei, estava tendo problemas com a impressão.

Ele avaliou as folhas de longe e soltou um suspiro irritado.
— Resolveu?

Ela assentiu. — Ótimo, podemos começar.
— Falta Selin! — Ferit, o homem com o celular nas mãos disse suas primeiras palavras.

O ruivo revirou seus olhos verdes puxando a cadeira.

— É uma reunião para resolvermos as questões da construção, a equipe está aqui. O que Selin tem a ver com isso?

—Eu não sei, mas ela disse que estaria aqui.
Engin diz deixando o corpo cair para trás na cadeira.

— E onde ela está? — Ombros se agitaram e rostos se contorcem. — Que seja, vamos começar sem ela.

A porta se abriu mais uma vez e uma mulher de pernas longas atravessou a sala balançando seus quadris e jogando os cabelos dourados para trás, os olhos presentes na mesa a seguiram indo em direção ao homem que cravou um pouco mais os seus dedos no encosto da cadeira.

Ela ostenta grandes olhos em um tom de azul que lhe traz a vaga lembrança do menino de cachos ruivos, sua postura é pedante o que faz Eda arrastar seus olhos e soltar um suspiro baixo quando ela abre sua boca para se explicar e cobre o ombro dele com as mãos delicadas, os dedos são preenchidos por anéis e algumas peças de ouro se agitando em seu pulso.

— Desculpem! — Ela distribui alguns sorrisos, forçados, na opinião de Eda, e se volta totalmente para ele.

Os dois trocaram algumas palavras em um tom baixo demais para que ela  conseguisse decifrar, logo os olhares estão voltados para si, a loira volta armar um sorriso amarelo no rosto perfeitamente simétrico antes de lhe dirigir algumas palavras.

A voz era excessivamente melosa ao dizer seu nome. — Selin! — E parecia dona de todo o lugar.

Talvez ela estivesse sendo precipitada em sua conclusão final sobre a senhorita atrasada, mas para ela pareceu que ela a estava olhando de cima.

Esnobe!

Ceren, a loira simpática deixou sua cadeira próxima ao ruivo e veio até ela ocupando uma das cadeiras vagas ao seu lado.

— Acho que fica melhor para respirar daqui.— Eda não soube dizer se as palavras deveriam ter sido ouvidas por ela devido ao tom quase mudo. — Se importa? — Ela perguntou.

— Fique à vontade. — Respondeu oferecendo um sorriso.

Logo todos ocupavam seus lugares, inclusive a loira esnobe, sentada como uma rainha ao lado do trono real.

O rei no caso seria o ruivo arrogante.

“Belo casal”, ela pensou.

Eda tentou prestar o máximo de atenção nas pontuações sobre o projeto, no entanto, sua cabeça vagava hora ou outra para as pessoas a sua volta. Pareciam personagens de alguma série americana, perfeitos em suas abordagens, falas, o jeito gracioso com que se moviam, suas roupas impecáveis. Não estava acostumada com aquilo, precisava de algo um pouco mais real para se agarrar.

Ela era levemente desastrada, e suas roupas não eram de marcas caras, costumava usar o roupas confortáveis que combinavam com o clima despojado da empresa em que trabalhava, ela estava acostumada a cores vivas e ali nada passava de preto, bege e branco. A coisa mais colorida naquela mesa era a camisa de franela de Engin. E foi por isso que ela decidiu que gostava dele.

Não se passavam cinco minutos completos sem que a loira interrompesse alguém, pelo que Eda tinha entendido, ela era RP da empresa, mas parecia a própria presidente. Foi por isso que ela não parou de revirar seus olhos e se manteve calada a maior parte do tempo, seu chefe por outro lado pareceu um pouco exaltado quando bateram a porta da sala de reuniões para que ele verificasse alguns projetos "rapidamente".

Ela teve déjà vu, não uma, mas três vezes quando ele começou a gritar com alguém do lado de fora, e logo depois voltava a entrar na sala com o rosto imparcial.

— Pobre da alma que terá que lidar com esse homem hoje. — Sussurrou entre dentes para si. Ceren a olhou de canto com os olhos verdes apertados em seu rosto.

Tinha dito aquilo alto?

Provavelmente não, porque ela voltou sua atenção para o slide parado em um terreno aberto e grande sobre o qual Engin discursava.

Aquilo era chato, sentia falta das reuniões divertidas e animadas da Itália, e de sua equipe e de seu chefe legal e não babaca.

Passeou seus olhos pela sala contraindo-se na cadeira ao se separar com o olhar mordaz dele sobre ela. A quanto tempo ela o esteve vigiando?

Não importa, ele desvia para o homem usando camisa de franela e ela pode continuar sua expressão.

Pelas divisórias de vidro avista uma moça brigando com a máquina de café, talvez o Sr. Gelo desconte nela sua raiva de hoje, ou no cara engraçado fazendo absolutamente nada.

Seu olhar é capturado pela mulher de cabelos curtos segurando a mão pequena do ruivinho.

“É, ela será a vítima! Quem trás o filho para o trabalho quando seu chefe era aquele homem? ”

Leva seu olhar desdenhoso para ele, Leyla inrrompe a sala parando diante do olhar frio dele.

Eda se prepara para a explosão e pensa em no mínimo cem coisas para por ele em seu devido lugar, mas então, SURPRESA!

O menino com cachos acobreados atravessa a sala com um carrinho nas mãos pequenas em direção a ele.

"Sim, ela definitivamente será demitida." É a única coisa que ela consegue pensar.

Os pequenos braços se abrem e ela luta contra a vontade de agarra-lo pelo pulso e puxa-lo para longe do Iceberg, no entanto, ele profere palavras que não fazem o menor sentido em sua cabeça o que a faz cair um pouco na cadeira.

O senhor Gelo, Serkan Bolat se levanta para recebê-lo e sua feição dura amolece no mesmo instante.

— Papai! — O menino diz ao alcança-lo sendo erguido pelos braços fortes dele.
Ela deixa seu queixo cair em descrença.

COMO ASSIM?”

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