Brooklin, Nova Iorque
Cinco anos depois.
A neve se espalhou embaixo de seus sapatos, uma camada branca já havia se formado por seus ombros, por cima do tecido grosso do casaco. Se não fosse pelas luvas seus dedos estariam congelando agora mesmo. Mas incrivelmente ele não se importou.
Serkan segurou mais apertado a mão da mulher envolvida por um casaco que quase alcançava seus joelhos a guiando pela rua iluminada por luzes de natal. Acima de suas cabeças as luzes flutuavam como vagalumes no céu noturno, Eda o puxou o fazendo parar abruptamente diante de uma das muitas barraquinhas espalhadas por ali.
— Seus filhos estão com fome. — Serkan procurou pelas duas crianças que juntavam a neve com as mãos logo atrás dele e arrastou seu olhar para ela novamente.
— Eles não parecem com fome. — Disse, descendo a mão pelas costas dela. Uma pequena fila se formava na frente deles para a carrocinha de cachorro quente.
— Eu sou a mãe deles, eu sei quando meus filhos estão com fome. Eu vi a fome nos olhos deles Serkan.
— Não está usando os dois como desculpa para que você possa comer pela terceira vez?
Eda abriu a boca em uma expressão indignada. — Eu jamais faria algo assim... e não foram tantas assim, foi um e meio. — Serkan apertou seus olhos nela com desconfiança. — Kiraz e Emir arrancaram muitas mordidas do meu primeiro por isso precisei de um segundo.
Ela fez um biquinho manhoso para ele. — Entendi, quer dizer que este filho. — Serkan levou a mão até a barriga que começava a se arredondar sob o casaco pesado e sorriu. — Está com fome.
— Ele está. — Eda virou o rosto para o dele, a camada fina da barba se acentuando pelas luzes. — E isso quer dizer alguma coisa sobre ele, não acha?
Serkan inclinou a cabeça para frente, para encará-la melhor. — O que exatamente isso quer dizer?
— Quer dizer que desta vez você perdeu. — Ela sorriu em satisfação. — Esse se parece comigo. Ele vai ser exatamente como eu e você não vai corrompê-lo como fez com a minha Cerejinha.
Serkan ergueu uma de suas sobrancelhas para ela. — Eu corrompi a sua Cerejinha?
— Sim, olha para ela. — Ambos levaram o olhar para a menina de pé com uma bola pequena de neve nas mãos.
— O que tem de mais? Ela está brincando. — Eda riu dando um passo curto para acompanhar a pequena fila.
— Ela está calculando mentalmente qual o melhor ângulo para atingir o irmão. — Serkan afastou seu comentário com um aceno. — Ela é como você... sua filha. — Eda apontou. — Kiraz Bolat.
Eles caminharam mais um pouco, as risadas das duas crianças os alcançaram. Emir se aproximou deles com uma bola de neve desfeita em seu gorro. — Eu disse.
— Um deles deveria se parecer comigo não acha? — Eda contorceu o rosto dando de ombros.
Ele a puxou para um abraço de lado enquanto seus filhos se aproximavam, Emir segurava a mão de sua irmã que a agitava sem parar. Eda tinha razão ao menos um deles deveria se parecer com ele.
Afinal, Emir era um espelho para as ações de Eda, mesmo que fisicamente se parecesse a ele sua personalidade era um reflexo fiel da mãe. Enquanto Kiraz mesmo sendo uma perfeita cópia de Eda, com seus longos cabelos e olhos castanhos havia herdado toda a personalidade metódica de Serkan. Ela ainda era doce como Eda e gentil como Emir, mas em seu todo exalava a inteligência e altivez do homem que agora se curvava para ergue-la em seu colo.
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À segunda vista |✅|
Fiksi PenggemarSerkan Bolat tem a vida devidamente sob os trilhos e tudo a sua volta em perfeito controle. Controle dele, é claro. Seu filho está saudável e sua empresa de arquitetura nunca esteve melhor. Mas algo acontece e seu melhor paisagista precisa partir...