Capítulo 5 - Fracassos

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Pedro

Acendo a luz do quarto de hóspedes e observo a Antonella adormecida, seu rosto está relaxado no travesseiro e na televisão ainda passa um filme que ela provavelmente não aguentou assistir inteiro. Ela sempre faz isso. 
Entro silenciosamente, não quero despertá-la, ainda mais depois desses últimos dias dos quais ela não consegue nem se alimentar direito, aquela intimação na semana passada mexeu com todos nós. Assumo que fico feliz ao vê-la em um sono tão profundo.

Mesmo que ela esteja com vinte anos, olha-la assim dormindo ainda faz eu ver aquela menininha encrenqueira e insistente que eu costumava trancar para fora do meu quarto. Éramos um time e tanto, e ainda somos. 

Irmãos mais velhos sempre vão cuidar dos mais novos, por mais que prometemos não nos preocupar, nós somos capazes de colocar o mundo de ponta cabeça para a felicidade deles. Então, não é difícil adivinhar como está o meu mundo sendo que o dela está despedaçado. 

x x x 

Enquanto o motorista dirige, aproveito para conferir as últimas mensagens do Antony, das quais eu sempre demoro para abrir. Eu odeio notícias sobre a mídia. Prefiro começar o dia bem para que o restante continue, o que não está acontecendo nesses últimos dias, definitivamente essa é a primeira vez que os tabloides conseguem um prato cheio sobre nós, e por isso está gerando um burburinho maior do que deveria. 

Dessa vez a caixa de notificação está com mais números que o normal. Sinto uma leve falta de ar, um incomodo no meu peitoral e penso em afrouxar a gravata, contudo ainda estou indo ao trabalho e não deveria chegar lá todo amassado. 

Antonella, a desistência dos casos da Helena, Kaio com mais frequência no meu apartamento. Coisas fúteis, mas que pela primeira vez eu não evitei de acontecer, já que o problema é muito maior do que isso. Sou interrompido de deslizar para olhar mais notícias quando uma chamada aparece na tela.

Eu não deveria ficar receoso de atender, eu já tenho vinte e cinco anos, sou casado e independente, mas não há um dia em que a dona Amélia não me intimida. Eu sou o homem mais poderoso do País, e ainda sim, minha mãe me apavora.

- Alô. - Atendo.

- Alô? Você tem a cara de pau de falar: alô? - Indaga do outro lado.

Fecho os olhos e respiro fundo: ela sabe que algo está errado.

- O que você quer que eu diga? "Olá, mamãe?" - Ironizo, com uma última gosta de esperança de que ela não saiba sobre Antonella.

- Eu quero que você me ligue quando acontece algo aos meus filhos! - Curta e grossa.

- Não aconteceu nada.

- Nada? - Da uma risada cínica - Nada? Jura? Então porque diabos todos os meus filhos estão nesses sites? Porque saiu um vídeo amador seu batendo na mesa de um restaurante enquanto conversa com a Antonella?

- Ela me irritou só isso.

- Como eu não sei que a minha filha voltou de Londres?- Seu tom de voz é alto o suficiente para eu afastar o telefone do ouvido. 

- Não grita. - Ordeno irritado.

- Olha aqui...

O Império VasconcelosOnde histórias criam vida. Descubra agora