O Império Vasconcelos

Capítulo Final

A praça da cidade estava animada e cheia de vida, em contraste com o turbilhão de pensamentos que assombrava Pedro Vasconcelos. Era o aniversário de Amélia e a praça, com sua história cheia de momentos importantes, fora escolhida para celebrar essa data especial. A decisão de realizar a festa ali foi uma homenagem ao passado, um reconhecimento dos eventos que moldaram a família. Mas para Pedro, aquele lugar carregava um peso muito mais profundo, um peso que parecia intensificar-se a cada ano.

Ele observava o cenário ao redor, com os sons das conversas, risadas e música enchendo o ar. Helena, sua esposa, estava há alguns metros, radiante com a barriga grande, enquanto Antonella, tentava fazer o bebê chutar, rindo e conversando com ele. Amélia e Marco estavam próximos, suas conversas apaixonadas e olhares trocados evidenciando a profundidade de seu relacionamento. A avó de Pedro estava sendo mimada por Kaio, que a rodeava com afeto.

No entanto, para Pedro, o ambiente festivo parecia distante. As memórias e os conflitos internos o mantinham à parte da celebração. Ele se lembrou do que ocorreu naquele mesmo lugar anos atrás, quando seu pai, Henry, ameaçou Marco com uma arma. Pedro tinha apenas alguns anos na época. A ameaça, o grito de desespero de sua mãe e o impacto emocional daquela cena moldaram o seu entendimento sobre a família e sobre o próprio pai.

Pedro também carregava o peso da morte de Henry, a quem ele havia matado em legítima defesa depois de uma discussão intensa. A descoberta de que seu pai estava doente, com o cérebro mais danificado do que o coração, apenas adicionava uma camada de culpa e confusão. A justiça não havia encontrado provas concretas, e a família Vasconcelos, conhecida por seus métodos discretos, pagou pelo silêncio. "Foi legítima defesa", repetia Eduardo, seu padrinho e advogado, tentando confortá-lo. Pedro sabia que a defesa era legítima, mas ainda se questionava se poderia ter ajudado Henry de outra maneira.

A culpa que sentia era um fardo pesado demais para ser carregado sozinho. O fato de que sua família parecia ignorar a existência de Henry após sua morte, como se o pai nunca tivesse existido, fazia com que Pedro se sentisse ainda mais isolado. O dinheiro recebido pelo silêncio não fazia o luto mais leve, nem tornava a dor menos real. Pedro odiava seu pai, mas a responsabilidade pela sua morte era uma carga emocional esmagadora.

Enquanto Pedro se perdia em seus pensamentos, Marco percebeu o afastamento dele em relação aos outros. Marco, sempre atento às necessidades da família, decidiu se aproximar.

— Pedro — começou Marco, com um tom suave e preocupado —, o que está te afligindo?

Pedro permaneceu em silêncio, um silêncio que era ao mesmo tempo educado e doloroso. Ele queria responder, mas as palavras pareciam impossíveis de serem formuladas.

Os olhos de Pedro marejaram. Ter Marco por perto era como ter uma âncora em meio à tempestade. Era reconfortante e seguro, e isso fazia com que ele se permitisse sentir. Marco era a pessoa que sempre estivera ao seu lado, um verdadeiro pilar de apoio.

— Eu não posso imaginar o que está passando na sua mente — disse Marco, a voz carregada de empatia. — Mas estou aqui para o que precisar. Se precisar de ajuda, de um ombro amigo, eu estou aqui.

Amélia, que havia notado a conversa entre os dois, se aproximou com ternura. Ela tocou o rosto de Pedro, sua expressão carregada de preocupação e amor.

— Pedro, querido — ela disse com suavidade —, por favor, converse conosco. Compartilhe o que está sentindo. Deixe-nos ajudá-lo a carregar essa dor. Não precisa enfrentar isso sozinho. Divida a carga conosco.

Pedro olhou para sua mãe e, por um momento, o desejo de abrir seu coração quase se tornou irresistível. No entanto, ele se sentiu preso, acreditando que jamais conseguiriam entender a profundidade de sua dor. Ele preferia lidar com a própria angústia sem uma plateia para julgar.