Capítulo 21

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Nunca imaginei que isso aconteceria. 

Nem que por muitas vezes eu tenha pensado nisso com fervor e raiva. Mesmo que por dezenas e inúmeras vezes, tenha sido o meu maior desejo.

Tenho certeza que o remorso e a dor vão me acompanhar pelo resto da minha vida, que em meus pesadelos serei castigado. 

Minha mãe me sacode enquanto grita o meu nome, mas ainda tudo está lento, e repetidas vezes a imagem do Henry caindo no chão se faz na minha mente. 

Me afasto da Amélia enquanto alguns seguranças se aproximam, observo o peito do Henry subir e descer com dificuldade e o sangue se espalhar pela sua camisa cara, vindo da bala alojada em seu peito. 

Seus olhos estão quase sem vidas, mas vem de encontro ao meu quando me abaixo ao seu lado. Mesmo que os meus movimentos ainda pareçam estar lentos, pressiono com força as mãos acima do ferimento para estancar o sangramento, para salva-lo.

- Não chore. - Ele diz, tentando não se engasgar com o próprio sangue. - Você só fez isso porque sua mãe...sua mãe estava...você...você é bom garoto. - Coloca a mão acima da minha com um sorriso triste. - Eu me...matei... - Suspira, tentando manter-se vivo enquanto as lagrimas escorrem - há muitos anos, filho. 

- Eu sinto muito. - E mesmo que eu não controlasse ou ao menos fosse avisado, meu corpo se debruça contra o dele em um choro incontrolável. 

- Não sinta. Você...me salvou. - Respira fundo, ou pelo menos tenta - Não aguentava mais viver dentro...da minha mente. Estraguei tudo, mas você...olhe pra mim. 

Levanto a cabeça e pela primeira vez em toda a minha vida, consigo enxergar os olhos do Henry de uma outra forma. Consigo vê-lo. 

- Você consertou. 

O barulho da ambulância anuncia que o resgate está a caminho, viro para olhar por cima do meu ombro e vejo Amélia aos prantos no telefone. Foi ela que pediu ajuda. 

- Garoto.  - Ele me chama com a voz ainda mais fraca. Eu o encaro. - Cuide dela. Me dê...a arma. Pegue...a...minha.

Faço o que ele pede, mesmo sem entender. Talvez entenda, mesmo ao leito da morte a mente dele ainda funciona, e insiste em tentar ludibriar os policiais que estão chegando.

- Por quê você foi tão cruel? - Entre os meus dedos o sangue já se espalham e sei que nem os médicos vão conseguir salva-lo. 

- Desde que... o seu avô - Fecha os olhos e mais lágrimas caem - Eu deixei os meus...remédios.

- Remédios? Que remédios?

- Ah não, Henry! - Amélia se abaixa do outro lado. - Por quê?

Ele da os ombros, por não ter respostas ou por não conseguir mais falar. Divido a minha atenção com os dois que se encaram tristes.

- Eu...não deveria ter...apagado aquela luz...naquela noite. 

- Não se esforce, a ajuda está chegando. - Amélia pede.

- Deveria ter...ficado.

- Você deveria não ter parado os remédios, Henry.

- Ficar pra..que? pra quem.

- Pra mim. - Falo magoado - Deveria ter se cuidado por mim, pelo Théo. 

Ele assente com a cabeça. 

Somos afastados por paramédicos e policiais, vejo cortarem a camisa do Henry, colocarem oxigênio em seu rosto, observo a correria com equipamentos médicos, macas.

- Sem pulso. - Uma paramédica grita. - Desfibrilador.

Outro coloca fios no peito do Henry.

- 3,2,1...afastar. - Ela grita e todos afastam as mãos. 

O Império VasconcelosOnde histórias criam vida. Descubra agora