Capítulo 9 - Coronel

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Antonella

Não sei por que eu senti vontade de rir.
Eu estou sendo intimada por um homicídio, em outro País e corro o grande risco de ficar presa. Pedro espancou um homem até a morte e só com muita sorte não vai estar na mesma posição que a minha. Porém, a única coisa que eu consigo pensar agora é em como o Kaio está suando frio e com as mãos trêmulas. Eu conheço o meu irmão, e esse sorriso nervoso em seu rosto. Posso jurar que ele vai chorar de desespero a qualquer momento.

Encolho os lábios e mordo. Não posso rir agora, meu pai está tão vermelho que parece uma bexiga cheia. Fico aliviada ao ver a Gabriela segurando a risada assim como eu.

O que eu posso fazer? A minha família é problemática.

- Não é hora para brincadeiras, Kaio. - Marco chama a atenção, mas o que ele realmente está querendo é que tudo seja uma piada.

- Você sabe quem é a menina? - Pedro questiona e a nossa mãe o fuzila com os olhos. - Ué, estamos falando do Kaio, não é?

- Lógico que eu sei, ela me mandou uma mensagem super educada mais cedo. - Respondeu incomodado. 

- Sua mãe falou o que? - Nosso pai pergunta e se inclina na mesa. Coitado, mal consegue falar. 

- Então... - Ele provavelmente ainda não disse nada a ela. - Não sei ao certo se vou contar. 

- Uhum, pode embalar e entregar pra ela no Natal. - Pedro da os ombros e levanta a mão para fazer um pedido - Na carta você escreve: Parabéns, vovó. Ho Ho Ho. 

Eu odeio o meu irmão por eu ter dado uma risada tão alta.
Alta o suficiente para as pessoas da mesa ao lado olharem pra nós. 
Meu corpo enverga pra frente, e eu tento rir mais baixo, contudo quanto mais eu tento, mais alto a minha risada sai. Gabi não aguenta e se rende a uma alta risada, e é como se nós estivéssemos feito uma piada em um velório, de tão feio que todos estão nos olhando. Todos quero dizer: Marco e Amélia. 

- Ora, Amélia. Você não pode julgar - Gabi acusa - Ou se esqueceu da festa super bacana da qual você providenciou o Pê?

- Como se isso tivesse sido uma ótima atitude... - Retruca.

- Aunt. - Pedro finge ser golpeado no peito.

- Não se faça de bobo, você é bem grandinho e entendeu. - Nossa mãe adverte e ele solta uma piscadela pra ela. - Estamos falando de uma vida, uma criança. Não é fácil e a responsabilidade é enorme.

- Acho que o Kaio vai desmaiar. - Helena alerta, e segundos depois o rosto do Kaio cai duro na mesa, fazendo um barulho oco da madeira contra a sua testa.


{...}

Mexo a colher dentro do copo cheio de água e açúcar.
Lembrar do rosto do Kaio batendo na mesa ainda me faz querer rir. Depois desse episódio icônico tivemos que vir embora e além de irritado, meu pai também está faminto. 

Jogo a colher dentro da pia, e carrego o copo até a sala do apartamento do meu irmão. Minha mãe está sentada no sofá e Kaio está deitado em seu colo. Gabi e Eduardo foram embora, a minha mãe praticamente expulsou a Gabi depois de inúmeras piadas - muito engraçadas. 

Pedro está com o nosso pai do lado de fora, a conversa parece ser intensa, então prefiro não olhar muito para que eles não notem a minha presença e se lembrem dos meus problemas para jogar na cara. 

Sento próximo aos pés do meu irmão e ele se levanta.

- Toma, espero que você não desmaie de novo. - Entrego zombeteira e minha mãe me encara séria. 

- Eu estava com fome, foi só isso. - Pega o copo e vira de uma vez, mandando tudo pra dentro. - Minha vida acabou. - Finaliza.

- Não - Amélia garante - Se a vida de alguém fosse 'acabar' seria a da garota. Afinal, quem é? E como você soube?

- Eu não consigo repetir as palavras dela - Fuça o bolso - Eu vou mostrar. Tudo começou quando ela me mandou um teste de gravidez positivo e eu perguntei se era termômetro.

- Você não sabia que era um teste? - Questiono indignada.

- Lógico que eu sabia. Mas o que eu ia falar? 

- É! Melhor do que perguntar se é teu, né?

- Eu perguntei. - Desliza o dedo e aperta um áudio do seu whatsapp.

"- Não, Kaio. Estou te mandando a merda desse teste positivo porquê você é obstetra! Você acha que é hora para piadas, seu idiota? Eu.Estou.Grávida. E a culpa é sua, seu bêbado! Você falou que tinha colocado camisinha. Kaio, eu vou fazer picadinho de você, eu vou arrancar seu pau fora e tostar na churrasqueira, sabe o que vou fazer depois? Comer, Kaio. Comer! - Grita a última palavra."

Transfere para o próximo audio.

"- Desculpa, tá bom? - Ela parece mais calma - Eu estou nervosa. Eu estou com medo. Ora, nós estamos juntos há anos, e bom, sei que somos solteiro e eu te entendo. Mas nós sempre usamos camisinha. Sabe, Kaio? Eu não quero seu dinheiro e nem estar nos holofotes junto com você e a sua família...- Silêncio - Eu vou matar você Kaio Ferraz, eu vou matar você! - Grita."

Meu irmão bloqueia o celular e continua olhando a tela apagada. Eu tenho certeza que se eu rir agora a minha mãe me mata, mas surpreendentemente quem está rindo é ela. Kaio a encara tão horrorizado quanto eu.

- Todos menos você, tia. - Ele avisa - Eu esperava isso de todos, menos você. Cadê a parte de que isso é uma responsabilidade muito grande?

- Ai meu amor. - Ela respira fundo - São os hormônios da gravidez, ela só está assustada. Primeiro você vai ligar para a sua mãe...

- Aiiii... - ele resmunga incomdado.

- É, a parte fácil você fez, agora é a difícil.

- Ela vai surtar, tia. 

- Eu sei. E com certeza vai, mas também aposto que ela vai te ajudar e acolher muito bem a situação. Sua mãe é uma das mulheres mais maduras que eu conheço, então garanto que vai ficar tudo bem. A tempestade vai vir, mas o Sol brilha também.

- Quem é a menina? - Pergunto, curiosa. Lógico que estou curiosa, é a mãe do meu sobrinho.

- Raquel. - Sussurra.

- A Raquel? Tipo, a Raquel? - Abro a boca em um 'o' perfeito.

- Quem é a Raquel?

- Meu Deus, você tá fodido. - Gargalho.

- Quem é Raquel?

- É da Raquel? - Pedro aparece e pergunta. Eu afirmo com a cabeça e ele começa a rir.

- Quem diabos é Raquel? - Minha mãe indaga curiosa.

- A filha do coronel. - Pedro responde e volta a rir.

- Coronel? Você engravidou a filha de um coronel, Kaio? - Marco coloca as duas mãos na cabeça - Meu Deus. Meu Deus. 

- Não é 'a filha' - corrijo - é a 'única filha'. 

- Ele vai enfiar o cassetete no seu...

- Pedro! - Minha mãe interrompe e franze o cenho.

A porta do elevador abre e Helena sai apressada. Meu coração gela com seus passos rápidos, mas uma faísca se acende quando ela sorri.

- A Summer vai depor! - Solta a novidade eufórica.


O Império VasconcelosOnde histórias criam vida. Descubra agora