Capítulo 14 - Acabou

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Pedro

Primeira coisa que faço é aguardar a Antonella na porta.
Meus sentimentos estão confusos, não sei ao certo o que estou sentindo, mas garanto que a raiva parece transparecer muito mais. 

Minhas mãos não param quietas, e por mais que eu queira parar de mover os pés, é praticamente impossível. O relato daquela garota ainda está na minha cabeça, e é doloroso pra caralho. 

A vejo andando ao lado da Helena e a aguardo ansiosamente.

- Pê! - Ela fala chorosa quando sai. - Me perdoa.

A abraço no mesmo instante. 
Sinto o cheiro doce que sai do seu cabelo, lembro-me das nossas tardes de sábado das quais eu a provocava incansavelmente. Dos dias na piscina que a ensinava a nadar, das noites das quais ela foi ao meu quarto de madrugada pois tinha tido um pesadelo. A embrulho em meu abraço, a seguro forte contra o meu peito. Ela é a minha garotinha, e estou estraçalhado por perceber que eu não consegui a proteger de toda a maldade instalada nessa bosta de mundo.

- Linda! - Seguro em seu rosto - Não peça desculpas por um erro que você não cometeu. 

- Eu não deveria ter bebido do copo dele, papai e você sempre me disse isso e eu errei... Eu enganei os seguranças, se eles estivessem por perto...

- A culpa não é sua. Você não fez nada de errado, você é a vítima. Você não tem culpa por uma sociedade machista e nojenta, você só estava em uma festa. Isso acontece até com mulheres casadas, você sabe, Helena acompanha vários casos assim... A culpa não é sua!

Helena passa por nós em silêncio. 

- Vai falar com ela. Está estranha... - Antonella sussurra e beija a minha bochecha - Acho que a audiência mexeu um pouco com ela. 

Chamo o Pablo, meu guarda-costas e peço para que ele não tire os olhos da Antonella e a proteja de qualquer pessoa que se aproxime. 

Aumento os passos procurando pela minha mulher, depois de poucos minutos a encontro perto do bebedouro. Seu corpo está completamente encostado na parede e os olhos fixos no teto.

- Amor. - Chamo baixo, para não assusta-la.

- E se eu errei? - Move a cabeça na minha direção - E se eu disse algo errado? Esse desgraçado acha que é difícil carregar um trauma, deixe-o experimentar perder um caso para uma das pessoas que você mais ama no mundo. Ela é inocente, Pedro. - Trinca os dentes. Seus olhos marejam, uma mistura de ódio e indignação - Ela não fez nada errado! Ela não se ofereceu, ela não se insinuou, ela não estava com roupa curta... Se é isso que as pessoas justificam o estupro, como vão justificar a Antonella estar vestindo um agasalho e calças naquele dia? Como vão justificar o álcool sendo que ela foi drogada? Que maldita desculpa eles vão usar para livrar aquele estuprador maldito? Eu trabalho com isso a minha vida toda, mas nunca foi tão difícil conduzir um caso. A minha vontade é de gritar na cara do Juiz para prende-lo. 

- Ei! - Seguro seus braços -  Você fez o que estava ao seu alcance, você deu um show lá dentro, estou orgulhoso de você como sempre fui, independente do resultado. Você está revivendo memórias das quais Parker fez questão de traze-la, ele quer desestabilizar você. 

- Eu não consigo olha-la, Pedro. - Abaixa a cabeça para chorar - Eu sinto tanto por ela, que eu não consigo olha-la. 

- Tudo bem. - Abraço a minha mulher, ouvindo o seu choro baixo - Ela sabe que você esta fazendo o possível. 

O Império VasconcelosOnde histórias criam vida. Descubra agora