Capítulo 4 - Feridas

708 90 16
                                    


 Antonella 

Grandes garotas não choram.
É o que normalmente escutamos. É como os meninos quando são crianças e os pais dizem: homem não chora
Se essas pessoas soubessem  como é a dor de guardar para si o que quer gritar para o mundo, não falariam isso com tanta facilidade. Talvez se desde pequenos pudéssemos nos expressar, hoje em dia a ansiedade, depressão e a crise de pânico seria melhor, será? Quem sabe.

Meus pais foram ótimos pais, não tenho do que reclamar. Porém, olha o Pedro que teve uma temporada como Henry, voltou transtornado e com medo do fracasso, como se isso fosse matá-lo. Pessoas fracassadas não são as que erram, mas aquelas que fodem a própria saúde mental para acertar. Me desculpa, mas isso nunca foi o tipo de coisa que eu achei saudável, muito menos a minha mãe e o meu pai que por muitas vezes foram contra, contudo o Pedro dizia que precisava ser assim. 

Hoje em dia ele não consegue controlar a própria raiva e é uma pessoa extremamente ansiosa. E digo mais, não confunda a ansiedade como aquela que da frio na barriga antes do primeiro encontro com a pessoa que você gosta. Essa ansiedade te sabota, ela faz da sua mente a pior inimiga, e junto com todo o seu corpo ela tenta fazer da sua vida o próprio inferno. É doloroso.

Olho para a imensidão do quarto de hóspedes e o que vejo é a minha bolsa, a televisão ligada, a porta do closet e a do banheiro. Vazio. 
Não posso culpar ninguém por esse vazio que estou sentindo, ninguém tem culpa de que eu tenha acreditado piamente no: Grandes garotas não choram. 

Elas choram sim, porra. E choram pra caralho.
Grandes garotas tem cicatrizes, por isso elas são grandes! 

Deslizo o dedo no meu celular e vejo a mensagem da Gabi, é duas e meia da manhã e ela acabou de chegar na casa dela, me avisa e pergunta se eu estou bem. 

Depende do que é estar bem. 
Estou saudável. Minha conta bancária está cheia. Meus pais estão felizes. Minha família é incrível. Viajo o mundo aos vinte anos. 
Eu estou bem?

Não! Eu não estou. Olha só que ironia, a "princesinha" como dizem os tabloides está deprimida. E ainda vão dizer nos comentários: Ora, com todo esse dinheiro, como alguém está triste? 

Por essas e outras que eu nunca me envolvo em polêmicas relacionada ao meu nome. Desde que o Pedro virou o crush da maioria das adolescentes e a nossa vida uma novela, eu prefiro não responder aos comentários. As pessoas não querem saber o que eu tenho para falar, o que elas querem apenas entretenimento, e se for necessário soltar farpas a uma pessoa que nunca lhe fez mal, elas fazem.

Pessoas são cruéis.

Respondo a minha prima que estou bem e bloqueio o celular novamente. 
Ela não é desse tipo de pessoa que não liga para o que você diz, mas não quero incomoda-la com os meus problemas, eu já a incomodei o suficiente. 
É melhor eu dormir, amanhã pelo jeito vamos ter um dia longo já que saiu em todos os canais de fofoca sobre o meu encontro com o Pedro, ou seja: barulho.

Amanhã meus pais ligam, e finalmente o que eu temia começa a acontecer: o circo pega fogo.

x x x

Há três dias estou no meu irmão, não que seja ruim, o problema é que todos os dias acordo assustada pensando no que houve com Taylor, por essa história estar inacabada e a qualquer momento ser intimada, mas hoje é sábado, então não vou me preocupar com isso. Praticamente arrasto o meu corpo até a cozinha, nela eu encontro a Helena e o Pedro. 
Eu paro os passos antes que eles percebam a minha presença. Ela está tentando ensinar valsa ao Pê, óbvio que é sem sucesso, meu irmão não tem controle nenhum. Os dois estão de pijamas e cabelos amassados, porém sorriem um para o outro e quando ele pisa no pé dela, solta um ruído irritado. 

O Império VasconcelosOnde histórias criam vida. Descubra agora