Capítulo 7 - Velha Guarda

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Minhas pálpebras ficam agitadas, e a claridade faz com que os meus olhos fiquem espremidos. Estou cansado e não quero levantar, pela primeira vez em anos, eu não sinto vontade de acordar e colocar o meu paletó. A única coisa que eu quero é continuar aqui. 

Menciono virar o corpo, mas um peso no meu tórax impede. Não preciso abrir muito os olhos para ver os cabelos castanhos espalhados no meu peito, um cheiro doce e genuíno. E mesmo que estar aqui é confortável, o meu coração aperta agoniado e dolorosamente triste. Suspiro e vejo sua cabeça descer e subir junto com a minha respiração, Antonella está em um sono profundo e tranquilo, fico feliz por isso, há dias suas olheiras estavam gritando o quanto ela estava exausta. 

A televisão está desligada, presumo que tenha sido a Helena, lembro-me de que estávamos assistindo filme ontem a noite e de repente eu apaguei. 

Levanto delicadamente e envolvo as pernas da minha irmã em um braço e o seu pescoço em outro, levantando-a no colo e como nos velhos tempos levando-a para o seu quarto. Como antigamente ela está aninhada no meu corpo e com o semblante sereno. Há anos atrás ela fingir dormir só para que eu a levasse para a cama no colo, e óbvio que eu sabia pois suas pálpebras estavam agitadas, mesmo assim eu a levava com o maior prazer do mundo. 
Deito seu corpo na cama e cubro até os braços com o lençol aconchegante e cheiroso. Fecho a porta silenciosamente para que ela não acorde, e de soslaio vejo um corpo ao meu lado. Salto assustado e vejo Kaio segurando a risada pelo meu susto.

- Calma, princesa. Sou eu. - Fala.

- Sh! - Levanto o indicador até os meus lábios, pedindo silêncio. Ele concorda com a cabeça e descemos.

Odiava quando ele fazia isso, e o que mais me irritava é que eu sabia que sempre é propositalmente. 

- O que você faz aqui ás oito horas da manhã? - Questiono, tirando a camisa social. 

- Deixei a gata em casa e vim. - Da um sorriso malandro. - E você? Trabalhando até tarde ou está indo agora? 

- Não vou hoje. - Respondo, jogando a camisa no sofá, ficando sem camisa. 

- Está doente?

- Não.

- Quem morreu?

- Ninguém. 

- E quem te bateu? - Riu, zombeteiro. Em seguida fica sério. - Quem te bateu? 

- Matteo. - Passo a língua no corte ao lembrar do episódio violento do dia anterior. 

- Você está um caco, ele te deu uma surra. Não, é? - Cruza os braços, segurando o riso.

- Preciso ver se ele está vivo. - Massageio as têmporas e passo o olho pela sala para ver onde está o meu celular.

- Da pra você me atualizar? - Senta um pouco irritado. - Como assim? 

- Você quer começar por onde? Por eu ter quase matado o Matteo ou pela nossa irmã ter sido estuprada? - Sinto o sangue correr mais rápido ao dizer essa frase.

Mesmo que essa palavra estivesse cutucando a minha mente a noite inteira desde que a Antonella me falou, eu ainda não tinha dito em voz alta e foi como farpas entrando por todo o meu corpo. Kaio continua me olhando, suas narinas dilatadas mostram o quanto ele está irritando, mas tentando manter a calma.

- Não. - Ele afirma, balançando a cabeça. - Não, cara.

- É. É o mesmo filha da puta que denunciou ela, por isso a intimação. - Minhas mãos inquietas passam pelo meu rosto e cabelo, a dor é tanta, que chega a se tornar física. 

O Império VasconcelosOnde histórias criam vida. Descubra agora