56|aghast

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aghast(adjective): filled with sudden fright or horror:

/CAPÍTULO 56/

Eu nunca me vira num estado assim. Os meus músculos estavam enfraquecidos, o meu coração batia sem força e precisão - não permitindo que o sangue aquecesse o meu corpo -, os meus pulmões não transportavam ar necessário para eu respirar devidamente - e culpava o sucedido aos longos minutos que passei à chuva e ao frio com apenas uma t'shirt vestida. Para juntar a isso não aguentava a tosse forte que teimava em magoar-me o peito, acrescentando-se à dor da culpa que perfurava o meu corpo imóvel.

Ambos os meus braços estavam presos atrás da cadeira de madeira firme tal como os meus pés, presos a cada perna da mesma. A minha visão estava enevoada com as lágrimas que escorriam pelos meus olhos verdes - elas não paravam, continuava a cair como uma cascata desde o momento em que a consciência voltou a abençoar a minha mente. Sentia-me fraco, desamparado e com uma dose acrescida de remorsos que faziam questão de me enfraquecer ainda mais.

Não precisava de olhar em volta para saber que estava de novo nos laboratórios do Chalk. A bancada metálica em forma de L continuava presa na parede lateral, preenchida com tubos de ensaio e da quantidade absurda de drogas e medicamentos que já tiveram a felicidade de trabalhar no meu corpo assim como todas as pinças e agulhas trancadas nas gavetas. Do outro lado encontravam-se as cadeiras onde as análises de sangue ou as injeções eram feitas.

Mas aquilo em que os meus olhos estavam focados, fixados, colados era na minha bonita e magoada menina. As minhas pupilas molhadas e sonolentas não conseguiam afastar-se da cara adormecida em frente a mim, também presa a uma cadeira da mesma forma que eu, imobilizando-a.

A sua cabeça pendia para baixo, não encontrando força suficiente para a manter inerte no seu estado de inconsciência. Os seus cabelos, agora secos, estavam encaracolados à frente da sua cara bloqueando a lateral esquerda da sua cara. Ainda assim, conseguia ver o grande corte da sua bochecha, o olho negro que se começava a formar - claramente feito quando ela lutava contra eles e os seus lábios arroxeados com o frio.

Dava o céu e a terra por conseguir soltar-me desta cadeira. Não por mim, porque neste momento eu odiava-me mais do que nunca, mas por ela. Desejava poder agarrar a sua cabeça dorida e deixá-la deitar-se no meu peito para continuar a dormir descansada e não naquela posição desconfortável. Queria limpar o sangue seco da sua cara e desinfetar aquela ferida que pelo ar parecia ser dolorosa. Mas mais que tudo queria abraçá-la e pedir-lhe perdão por tudo.

Os meus olhos movimentaram-se finalmente quando observei a sua cabeça mover. As minhas pestanas elevaram-se e os meus lábios secos entreabriram-se, pronto para murmurar alguma coisa mas infelizmente apenas uma tosse seca saiu. Reparei na forma como o seu pescoço rolou para trás e fechei os olhos quando ela soltou um soluço angustiante, junto de um grunhido de dor.

Blue abriu os olhos e pelo meio de lágrimas observou o que a rodeava. A sua expressão aterradora foi o suficiente para eu saber o seu próximo ato. Ela ia gritar.

"N-Não." eu tossi violentamente, deixando as palavras sair pelos meus lábios de forma arranhada. "Por favor, bebê. Não grites."

Tinha a plena noção que eles ainda achavam que nenhum de nós estava acordado ou de certeza que já nós estariam aqui a torturar. Se a Blue gritasse, algum dos seus guardas iriam aparecer e os nossos momentos de mínima paz desapareciam.

Ela piscou os olhos repetidamente, focando a visão em direção a mim e fechou a boca depois do meu súbito pedido. Quando finalmente ela reparou a cem porcento em mim, as lágrimas foram inevitáveis. Eu próprio estava a chorar. A pior parte de estarmos totalmente amarrados contra uma cadeira é que nenhum de nós consegue exprimir emoções de outra forma.

DARK JEANSOnde histórias criam vida. Descubra agora