29|ambush

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ambush(name): an act or instance of attacking unexpectedly from a concealed position.

/CAPÍTULO 29/

A minha consciência decidiu voltar para o meu corpo; a mente que antes estava enevoada com imagens do rapaz de cabelo encaracolado clareou por uns segundos fazendo-me volta à realidade. Senti, pela pressão que as minhas pálpebras estavam a fazer, que o pouco sono que tive era pouco para me sustentar.

Comecei a sentir o meu braço ficar dorido e rodei para o lado, ficando com este por cima do meu tronco. Não é propriamente fácil dormir com um braço partido. Com força, abri os meus olhos cuidadosamente e deixei a pouca luz que pairava no ar invadir os meus sentidos. Tinha todos os lençóis e cobertas até ao meu pescoço e abracei-os mais contra mim ao sentir o cheiro característico do Harry.

Elevei o meu olhar para a cama à minha frente ao lembrar-me dele.

Para minha surpresa ele estava bem acordado; as suas costas estavam pressionadas na cabeceira da cama enquanto um livro estava nas suas mãos. Involuntariamente a minha visão focou-se no seu tronco nu, era a primeira vez que o via assim. Camadas de tinta estavam imprimidos pela sua pele, uns tinham símbolos estranhos e outros palavras e frases desenhadas de forma artística. Ainda que estivesse com o sono espalhado nos meus olhos conseguia perceber bem uma das palavras: Sozinho.

"Hei!" os meus olhos foram desviados para a voz suave e sonolenta dele.

Respirei fundo e estiquei-me na cama antes de responder:

"Não consegues dormir?"

O rapaz encolheu os ombros: "Alguma coisa desse género."

Harry voltou a focar a sua atenção no livro que tinha em mãos; reparei então que o seu pulso recentemente tatuado e queimado estava ligado. Provavelmente ele foi tratá-lo enquanto eu estava a dormir; ainda assim não parece que seja muito tarde.

"Que horas são?" eu perguntei, não me querendo virar para olhar para o relógio de parede.

"Quase quatro e meia." ele anunciou sem levantar o olhar do seu livro.

Isso significa que apenas dormi cerca de uma hora e meia; bem me parecia que não tinha dormido o suficiente para me satisfazer. Bocejei prolongadamente sentindo vontade de voltar a dormir; era Domingo e podia descansar até às horas que quisesse, por este andar ficarei na cama o dia todo.

"Não tens sono?" eu questionei depois de o ver bocejar.

"Eu aguento-me." Harry respondeu.

Suspirei e abanei a cabeça. Lembro-me de ver as olheiras enormes e escuras que estavam por baixo dos seus olhos e o ar cansado que este tinha. Como poderia ele aguentar-se?

"Pareces-me cansado." eu fiz questão de apontar. "Porque não tentas dormir?"

Algo pareceu suscitar no rapaz pois ele fechou o livro com um grande suspiro e pousou-o no armário ao seu lado. Harry olhou para mim de relance.

"Porque não dormes tu?" ele ripostou.

"Eu vou dormir; mas não enquanto tu não fizeres o mesmo." eu teimei.

Ele grunhiu em frustração e passeou a sua mão pelo seu cabelo freneticamente. Já começo a perceber os seus sinais de irritação; um deles é precisamente o abanar do seu cabelo ou o morder do seu lábio inferior, colocando o seu piercing por entre os seus dentes. Eu não tenho muitos tiques nervosos, para além do bater do meu pé no chão.

"Eu não preciso de dormir muito." ele disse exasperado.

"Tu não gostas de dormir?"

Harry respirou fundo e ficou calado por um segundo; observei a forma frenética como os seus dedos lutavam um contra o outro, mais uma vezes criando uma batalha na sua mente. Sei que há perguntas muito difíceis para ele; e provavelmente está é uma delas.

DARK JEANSOnde histórias criam vida. Descubra agora