52|tipsy

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tipsy(adjective): slightly intoxicated or drunk.

                                                        /CAPÍTULO 52/

Os meus olhos abriram-se ao sentir a luz da manhã penetrar nas minhas pálpebras. Fui obrigada a levantar as pestanas, cansada da dor de cabeça que se formara com os raios matinais. Senti um peso exagerado no meu peito e por mais que tentasse respirar com facilidade, a cabeça de Harry era suficientemente pesada para bloquear o ar dos meus pulmões. Pousei a minha mão no topo dos seus cabelos e afaguei os seus fios acastanhados, fazendo um esgar ao lembrar-me do tempo em que estes eram roxos.

Harry tinha a sua cara pressionada contra o meu peito. O seu braço estava espalhado pelo meu estômago e o outro pelo lado abandonado da cama - uma indicação de que está habituado a dormir sozinho. Pergunto-me como chegamos a esta posição. No início da noite eu é que estava sobre o seu tronco. Roncos saiam dos seus lábios entreabertos, que pareciam estar mais carmim que o normal. Fiz outra careta ao lembrar-me dos piercings que adornavam a sua cara, mas que ele acabara por não os voltar a pôr. Sinto saudades desse velho Harry, mas amo este novo.

Estávamos no dormitório dele. Depois da nossa viagem ao hospital e do aviso de Chalk, decidimos passar o resto das nossas férias no colégio - primeiro porque queríamos estar sozinhos e segundo porque sujeitar as Irmãs e as crianças a um possível ataque de Chalk e companheiros, era algo que eu jamais farei. Sendo assim, acabámos por passar todos esses dias fechados no dormitório, aproveitando os dias chuvosos para os passar enrolados nos cobertores - a conhecermo-nos um ao outro ainda melhor.

Hoje era dia 31 e ainda não tinha a certeza de como passaríamos o Ano Novo. Talvez devêssemos passá-la dentro do dormitório mais uma vez, tendo em conta que nenhum de nós tem propriamente uma família para onde ir. Mas ao ver o Sol intenso matinal, começo a achar que não seria má ideia dar-mos um passeio e fugirmos deste espaço. Por mais que Harry não admita, sei que apenas estamos fechados na escola porque ele tem medo que o Chalk apareça e nos leve; mas eu própria começava a ter um sério caso de claustrofobia. Afinal já se tinham passado quase cinco dias.

"Acorda, belo adormecido." eu dei uma palmada suave na cara dele. "O teu telemóvel está a tocar."

Olhei para cima da mesa-de-cabeceira e estiquei-me o suficiente para conseguir pegar nele, cansada - não só da música irritante - como do barulho irritante que a vibração fazia contra a madeira.

Fiquei chocada ao saber que Harry possuía um IPhone. Mas ao ser questionado sobre isso, ele defendeu-se dizendo que apesar de eu não saber, ele trabalhava. A mãe de Louis conseguira convencê-lo a frequentar uma comunidade de jovens com Sinestesia como um dos instrutores principais, falando-lhes do seu próprio distúrbio e da forma como lida com ela (espero que Harry tenha consciência que é suposto falar bem da Sinestesia). Ele fá-lo uma vez por semana e a razão pela qual eu apenas descobrira agora é porque as sessões são sempre há sexta-feira de manhã, que me é preenchida com aulas intensas. O que ele ganha não é muito, mas chega para as suas "mínimas despesas".

"Quem é?" ele grunhiu, não abrindo os olhos.

"Louis." eu disse-lhe olhando para o ecrã.

"Atende e deixa-me dormir." Harry rosnou, enrolando os seus braços a volta da minha cintura.

Encolhi os ombros e sorri com a sua expressão sonolenta: "Como tu desejares."

Arrastei o meu polegar pelo visor e levei o telemóvel à minha orelha, ouvindo o grande barulho de fundo. Ao sentir o dispositivo contra o meu ouvido senti a necessidade de arranjar um para mim também, seria muito mais fácil contactar com todas as pessoas e assim as Irmãs não teriam de telefonar para a escola. Terei de pensar seriamente nisso.

DARK JEANSOnde histórias criam vida. Descubra agora