57|torment

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       torment(verb): to afflict with great bodily or mental suffering; pain

Este capítulo contém conteúdos que podem ser  desencadeantes de ações depressivas. Por favor, sabe que a auto-mutilação não é algo correto. Se algum de vocês se sentir na necessidade de o fazer ou conhecer alguém na mesma posição, por favor procurem falar com pessoas que vos ajudem. Tudo melhora.

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                                         C A P Í T U L O  5 7

        Estava satisfeito pelo simples facto de Chalk ter saído do local, não conseguia assistir nem mais um segundo à sua cara asquerosa assim como ao desespero que se formou na sua cara ferida. A única janela no lado direito do laboratório mostrava o quão rápido a luz do sol estava a desaparecer, deixando-nos com nada para além da escuridão da área. Não sabia à quanto tempo estavamos aqui, se dormiramos durante dias ou simplesmente horas, mas era a que certamente não obteria resposta tão cedo.

Eu acredito que nos venham salvar. Não por mim, mas pela Blue. É nestes momentos que aprecio o facto de existir alguém perdidamente apaixonado por ela no lado de fora, pelo menos sei que ele fará os possíveis e os impossíveis para a resgatar. Eu não precisava de ir. Eu aguentaria passar por todas estas experiências e torturas mais uma vez na vida. Eu não tenho medo de morrer, eu não me importo de o fazer. Morrer por alguém que amámos parece-me ser a coisa certa a fazer.

Não aguentava mais ver a expressão de dor e cansaço plantada nas suas feições arranhadas. A sua cabeça estava descaída para baixo enquanto tentava controlar os soluços de tempos a tempos. O silêncio angustiante pairava no ar deixando-me zangado e cada vez mais irritado com o mundo. Porque raio isto me tinha de acontecer a mim?

"O que estás a fazer?" a sua voz rouca e débil, quase inaudível.

Parei os meus movimentos e olhei-a atentamente querendo mostrar-lhe o mínimo de conforto: "A tentar soltar-me. Não aguento ver-te assim."

Voltei a exercer força nas minhas mãos. Sentia o sangue escorrer pelas minhas mãos devido à ferida que se formou com a fricção da minha pele com as cordas grossas. Estava determinado a soltar-me deste aperto, estava determinado a abraçá-la e confortá-la mesmo que isso me destruísse os pulsos - e possivelmente a cabeça, caso Chalk me apanhe.

Ouvi o barulho da minha mão estalar quando fiz um movimento menos apropriado e tranquei os olhos, absorvendo a dor aguda que preenchou o meu corpo. Tentei movimenta-la - certificando-me que nada ficara partido - e suspirei quando apenas senti o ardor do local. Respirei fundo e tentei causar a quantidade de fricção suficiente para os meus pulsos deslizarem pela abertura mínima das cordas.

"Merda." eu balbuciei quando senti a minha pele ser rasgada mais profundamente.

"P-Para com isso, Harry." ela murmurou. "Estás a m-magoar-te."

"Não quero saber." eu praguejei.

Talvez estar a sangrar não fosse uma desvantagem, a forma líquida da substância permitia que a minha pele deslizasse mais facilmente contra as cordas. Amaldiçoei este lugar repetidamente enquanto continuava a alargar as linhas grossas que me mantinham fixo à cadeira. Lágrimas decidiram aparecer no canto dos meus olhos ao sentir a pressão do tecido esfarrapar a minha pele cruenta. Eu era forte mas não era masoquista.

"Harry, por favor para." ela persistiu num sussurro. "Eu não q-quero que te aleijes."

A forma como as suas palavras acariciavam dolorosamente os seus lábios gretados elevou a vontade de me soltar daquela cadeira e beijar suavemente a sua expressão dolorida, afastar os demónios e fantasmas que obviamente a torturavam neste lugar. Grunhi uma última vez e preparei-me para fazer o impensável, aquilo que eu sabia que iria magoar totalmente os meus pulsos e possivelmente destruir o mínimo bem-estar físico que ainda existia. Um, dois, três.

DARK JEANSOnde histórias criam vida. Descubra agora