Sonho

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Se meu sonho não fosse contido,
Se um invólucro suficientemente forte
Não lhe fosse admitido, 
Evolar-se-ia a vida antes da morte!
 
Ah! Se eu apenas sonhasse
Para este sonho desfazer a realidade, 
Sem nem saber para onde eu voltaria 
Como estrangeiro que não pertence a nenhuma parte...
 
Mas meu sonho precede o despertar,
Como minha essência, à minha vontade!
E eu o quero fielmente ao que se me dá
Sonhando o tanto que me cabe… 
 
Que não há de haver fruste tão grande
Quanto  a alguém que  rejeita seu quinhão,
Pois o Fado redobra em pena infame 
O que seria a trivial dor de uma paixão…
 
Aceita, pois, a tua sina em resignação!
Sonha teu ser em ti apaziguado,
Sonha na efemeridade de tua estação –
E que o Inverno te encontre bem agasalhado!
 
Somos esta cria precária dos deuses
E o sonho em nós contido é sonho apenas.
Sonhamos à noite em breve deleite 
Para poder viver a realidade em toda sua estranheza...
 
E por que então da loucura de querer se aviltar
A ponto de perder-se de si mesmo,
Se de todo sonho bom hás de despertar
Como também dos pesadelos? 
 
E por que então manchar-se de veneno
E embotar teus transitórios dias? 
Despetalar a Rosa rara de teu peito 
Para trazer onírica fera a esta vida? 
 
Há de equilibrar-te a haste que carregas
No fio fino sobre o abismo em que trilhamos. 
Sabedores de que é dos deuses que sonhamos
Enquanto a realidade crua é o que nos resta!

Prelúdio às VisõesOnde histórias criam vida. Descubra agora