Teu *ismo.

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Tua exclusiva, pessoal, versão do fascismo.
Puseste um nome novo ou um velho?
Adicionaste a ele o teu infatigável *ismo
À guisa do que está por vir (ou do eterno)?
 
Por um futuro que não se perca do que tem sido,
Por um presente não oprimido pelo passado,
Pelas mães que choraram pelos seus filhos,
Pelos órfãos, pelos velhos e exilados.
 
Pós teu nome (ou de outrem) um *ista.
Ah, isso também é uma pista.
Na contradição nasce o teu inimigo, 
Na imitação lhe reside o risco. 
 
Branco, preto, vermelho, amarelo, 
Obtuso, opressor, engajado, moderno.
Um ritmo de dança, solene credo,
Um soldado marchando, um louco... decerto!
 
Pelo quê, senão por ti mesmo?
Quem tem fé te condena de incréu,
Quem tem repulsa se lambuza de fel.
 
Quem de ciência lastima a burrice,
Quem do novo recusa a mesmice.
 
Quem da noite zomba do dia
E quem do dia no sono não vê valia.
 
Quem vende explora quem compra,
Quem suspira se ri de quem ronca.
 
Uma tosse, a tísica, nos invalida
E a saúde a quem tem lhe dá vida!
 
Mas depauperam tudo com  nomenclaturas,
Por decreto é que querem outro mundo,
Um que melhor se ajuste à sua amargura.
 
Ressentimento, punição, culpa...
A roda do carma, o miasma, o carrasco.
O que foi feito pelo pai não se escusa
Até o filho ter pago.
 
Dívida de sangue, herança maldita,
Dívida histórica...e quem é culpado?
Retórica das classes oprimidas, 
Burguesia e proletariado.
 
Um mundo de direita,
Do braço forte e coração desalmado.
Um mundo de esquerda,
De joões sem braço
 
Um mundo do quê que serve ao egoísmo,
À vanglória de se estar certo,
Ainda que se fira outrem com isso.
 
Um argumento que cala a resposta, 
Que cesse o diálogo, que se apague do mundo
Qualquer coisa oposta 
Ao teu belo e cioso discurso.
 
Fanático, crédulo, cretino, xiita,
Arrogante, cético, materialista, 
Infiel, desertor, denegado, herege 
Pseudocientista, hipócrita, escapista...
 
Alta ciência, alta literatura, 
Cultura de massa, erudita, de rua,
Arte clássica, artesanato, indústria,
Marionetes, mamelungos, manufatura...
 
Autótone, migrante, expatriados, 
A serviço da nação, a serviço do estado, 
Primitivo, civilizado, dizimado,
Missigenado, dominado, assimilado...
 
Letrado, analfabeto, funcional ou de fato,
Diplomado, ordenado, investido,
Condecorado, concursado, nomeado
Amador, profissional, promovido.
 
Com a intensidade com que te olhas no espelho,
Se reflete em ti o que condenas.
E julgando a outrem com seus argumentos,
Para que futuro acenas?
 
Só se divide se se quer sobrepujar
E por desprezo a uns é que os distingues.
Se a verdade deste é mais salutar,
A do outrem é a perfídia que finge...
 
E que mundo melhor nasce disso?
Surgirá das mútuas ofensas Shangrilá,
Voltarás acaso ao paraíso perdido
Ou ao vosso antigo lar?
 
Serás uma adão redimido, 
Um homem evoluído,
Um número nas estatísticas,
Um santo, um pária, um possuído?
 
Serás o que aparentas, 
O que queres ser,
Conforme tua natureza, 
Conforme tua fantasia?
 
Serás o servo de que *ismo?
Serás definido por que *ista?
Um mero caso de casuísmo
Ou da mais vil vilania?
 
 
 

Prelúdio às VisõesOnde histórias criam vida. Descubra agora