El Destino | Thiana

Dez: A dor de uma verdade

Eu poderia fingir que tinha conseguido dormir à noite. Eu poderia fingir que as perguntas que rondavam minha cabeça não me tivesse me atordoado desde o momento em que me deitei na cama. Eu poderia fingir que não havia visto o nascer do sol da janela do meu quarto porque a insônia não me deixava dormir. Eu poderia dizer que estava feliz pelo o que me diziam. No final... ninguém se importava com o que fazia ou deixava de fazer do mesmo modo.

Algo me chamou a atenção me tirando do devaneio. Quando chacoalhei a cabeça, percebi que havia divagado novamente. A cabeça atordoada não me permitia ficar com a mente por perto nem se me obrigassem.

Thiago: Está bem mesmo? - Neguei. Eu não poderia mentir para ele. Já me haviam escondido tanto, não queria fazer o mesmo com quem amava. - Me conta. - Pediu olhando o horizonte onde algumas crianças brincavam de correr e outras com alguns brinquedos que se emprestavam.

Eu havia levado a Bia para uma praça perto de casa após mandar uma mensagem para o Thiago dizendo que não o encontraria naquele dia. Ele fez questão de me contrariar, me surpreendendo ao me encontrar ali.

Obviamente, quando o apresentei para Bia, minha irmã foi sensata e não ficou o enchendo de perguntas pouco delicadas da parte dela e logo foi brincar com algumas amiguinhas da escola que encontrou logo que chegamos.

Helena: Não quero te chatear. - Vi as amigas de Bia se aproximarem dela, que desenhava em seu canto quieta. A amiguinha loira (Chiara, se não me engano) começou a arrancar risada das duas que a acompanhavam.

Thiago: Não vai me chatear nem que me diga a coisa mais horrível do mundo. - Me mirou, isso pude ver pelo canto do olho, já que eu me recusava a encará-lo. Não iria conseguir não lembrar da última coisa que eu disse à ele.

Helena: Como eu poderia dizer que você é a pessoa mais chata que eu conheço? - Brinquei com ironia. Ele percebeu do que se tratava e se fingiu de ofendido me tirando uma risada que tentei ocultar, mas muito mal me sucedeu. - Não, sério. Não quero ser chata e te aborrecer com meus problemas. - Suspirei fitando o chão coberto de grama e dentes-de-Leão que perdiam as pétalas conforme o vento soprava com mais força.

Thiago: Por mim pode ser o quão chata quanto quiser. - Seus dedos apertaram minha bochecha, justamente como queremos fazer ao ver uma criança fofa, me tirando um sorriso.

Helena: Eu só acho que tem alguma coisa muito errada. - Coloquei a mão sobre o peito como se aquilo me ajudasse a ouvir meu coração mais fielmente. Realmente me ajudava a clarear alguns achismos que tinha e entender sensações que pressentia. - Meu pai me contou sobre uma dívida que ele tem com a família do Víctor. Mas toda vez que eu lembro de meus pais discutindo isso, meu nome era citado. - Talvez essas não fossem todas as minhas preocupações, mas eram as que eu me lembrava na hora.

Thiago: E você acha que isso não é uma coisa boa? - Segurou minha mão entrelaçando os nossos dedos como se passasse sua força pra mim. Concordei com a cabeça, sentindo a visão embaçar com as lágrimas que brotavam em meus olhos. - Pensa que... eles queriam te manter longe dessa família por medo de alguma ameaça envolver você. - Tentei me convencer sobre isso. Realmente fazia sentido, mas essa possibilidade não me acalmava.

Helena: Não quero ser pessimista e nem nada parecido, Thiago. Mas... Eu não creio que seja isso. Se fosse uma coisa simples como o que ele me falou ele teria me dito antes, não? - Eu sei que não era tão simples o quanto eu estava falando, mas se fosse realmente o que o Thiago havia pensado meus pais iriam querer me proteger apenas enquanto eu namorava com o Víctor, não? Por que demorariam mais de duas semanas para contar isso?

Thiago: Eu estou tentando ver tudo pelo lado mais fácil, Lena. - Segurou mais firme minha mão. Pela primeira vez virei minha cabeça para olhar seus olhos. O brilho carinhoso e afetuoso de sempre estava ali. Ele me compreendia. Eu poderia contar sempre com ele.