Dezesseis: Queria entendê-la

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Quando todos os sentimentos de perda e peso se alojam dentro de você ao mesmo tempo e parecem te corroer, você sabe que está perdendo uma grande batalha interna. Era difícil para mim assimilar aquelas informações que meu cérebro recebia enquanto meu coração palpitava forte e errava algumas batidas. O que havia acontecido? Eu já pedira para repetir diversas vezes e ainda não tinha entendido.

Aquele aperto no peito antes de ligar para ela realmente não tinha sido em vão. Eu sentia que algo ruim iria acontecer, mas de qualquer jeito não impedi que ela seguisse em frente. Oras! Precisava fazer isso pela irmã dela, pelo o que havia entendido de toda aquela situação.

Mas eu nunca teria imaginado que algo daquele contexto aconteceria. Meu coração apertava mais apenas por pensar. Eu já não dormia há dias esperando uma resposta positiva sobre ela. Passava as noites em claro buscando as mínimas informações possíveis. Mas não achava nada além do que todos já sabiam...

A princípio foi muito difícil assimilar a situação à realidade. A Helena não tinha sido encontrada e ninguém sabia nada sobre ela. Não tinha vestígios de que ela houvesse fugido do local do acidente porque ninguém a tinha visto em nenhuma das cidades próximas. A estrada em que o Mariano, pai da Helena, dirigia era pouco movimentada, então era muito provável que ninguém tenha visto ela e isso me tirava algumas esperanças.

Tudo o que eu sabia foi o que a polícia deixou escapar na mídia, não que tivesse outra forma para que eu soubesse, e não era muita coisa. Pelo o que os investigadores criminais do Brasil descobriram, não foi um simples acidente. Me doía pensar isso, mas era a realidade. Encontraram perfurações de tiros na carroceria do carro quando foram analisar, e isso me deixou muito nervoso.

Eu tinha recebido a notícia de que os pais de Helena estavam na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), estavam fora de perigo, mas ainda assim não poderia ser transferidos para o quarto. Eu os tinha ido visitar algumas vezes, muitas delas com minha mãe. Alice gostou de me conhecer e, principalmente, de falar com dona Emily. As conversas eram curtas, visto que minha mãe não gostava muito de hospitais e o estado de Alice, embora não fosse grave, não a permitia conversar por muito tempo.

Mariano também era gente boa, embora eu percebesse que tinha um pé atrás comigo. Embora, não sei se por impressão ou não, seu rosto parecesse sempre cansado, abatido, preocupado, ele dizia que tinha esperanças de que Helena estivesse bem. Eu também tinha, mas algo lá no fundo me dizia que ela precisava de mim.

Contudo, mesmo passando um bom tempo com cada um dos dois na UTI, eu realmente passava mais tempo com a outra membra da família Urquiza.

Logo no início, Bia tinha ido para a UTI infantil, mas logo foi transferida para o quarto, por não haver tido lesões muito serias. E era com ela que eu passava a maior parte do tempo.

Ela parecia abatida enquanto estava lá. E quem não estava? Era a questão de maior pontuação. De verdade, todos estavam muito preocupados uns com os outros, e eu com todos. Principalmente com um certo anão de jardim - meu Anão de Jardim!

Thiago: Me diz de novo? - Digo tentando amenizar a névoa de preocupação que rondava a cabeça da pequena. Ela era realmente muito esperta. Tanto quanto Helena enfatizava. Era uma criança especial.

Bia: A Helena sempre me prometia cantar até o Sol nascer... ou se pôr? Eu não me lembro. - A melancolia invadiu seu olhar e apertou meu coração. Ela não deveria ficar assim.

Thiago: Eu sei que ela te adora muito. - enfatizei o sentimento. Embora a pequena não percebesse o que eu queria dizer com esse sentimento no presente.

Eu a via passar a maior parte do tempo desenhando. Era incrível seu talento, visto que na maca não tinha muito espaço para deixar os lápis de cor e as folhas de sulfite que a enfermeira trazia a cada dois dias. Sim, ela acabava rápido com as folhas.

El Destino | ThianaOnde histórias criam vida. Descubra agora