Vinte e Um: Sincera

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Deveria haver uma forma de esconder o brilho radiante que a felicidade nos dá no olhar. Poderia existir uma forma de fugir das perguntas um pouco invasivas que as pessoas faziam referente a à sua felicidade, não poderia? Eu queria tanto que tivesse um modo...

Entender que tudo aquilo era real, que sua presença, no final das contas, era, sim, realidade, fez meu coração saltar do peito e desenfrear em batidas loucas. Entender que eu tive alguns minutos de contato com uma pessoa que eu não via há anos, principalmente por ser com alguém que eu amava, fez meu estado de espírito passar de bom para excelente.

Eu queria que tivesse um jeito de ocultar esse brilho que meus olhos exalavam por meu excelente humor, para que eu não precisasse fingir e escapar das perguntas que, muitas vezes, eu não queria nem pensar em responder. Mas não havia, de modo que Paula percebera essa felicidade mais rápido do que eu presumia que fosse.

Paula: Acho que desde que você chegou, não tirou esse sorrisinho do rosto - Chamou minha atenção enquanto eu terminava de guardar os pratos na prateleira do armário suspenso da cozinha. Meu olhar desviou para a sala, onde a mulher estava, tentando não compreender o motivo de seu comentário, mas não foi possível. Eu sabia perfeitamente ao que ela se referia.

Ana: E isso tem algum problema? - Acabei por fechar a porta do armário e caminhar lentamente até a sala, me sentando na poltrona branca em frente ao sofá onde ela estava. Apoiei minhas mãos sobre os joelhos ainda com meu olhar fixo em em Paula. - Eu apenas estou feliz. - Evidenciei ainda mais o meu sorriso, deixando-o um pouco forçado, e a vi consentir com um fraco.

Paula: E qual o motivo de tanta felicidade, eu poderia ter alguma ideia? - Pareceu se interessar cada vez mais para qual seria minha resposta, como se investigasse cada detalhe com firmeza. - Talvez tenha acontecido alguma coisa em especial naquele lugar que você tenha me falado ontem, não?

Ana: A Residência? - A vi concordar com a cabeça. Seus olhos estavam fixos em mim, como se insinuasse algo com seu olhar. Algo que eu não estava muito disposta a descobrir. - Não, não. Mas acho que tem uma certa contribuição daquele lugar, sim!

Paula: Não sei se entendi. - Uma sobrancelha sua se arqueou enquanto se inclinava para frente, apoiando os cotovelos próximos aos joelhos, num completo sinal de interesse.

Ana: Meu dia foi bem mais leve do que todos os outros, eu deveria ressaltar. - Pude me sentir em alerta sobre tudo o que eu iria dizer. Embora eu confiasse em Paula, gostava de me lembrar que não poderia ser inteiramente assim. Infelizmente... - Sem muita pressão sobre mim e com tempo para respirar o suficiente, me entende? - Seu sorriso fora seu consentimento na hora. Eu entendia que, para ela, era o mesmo. - E ficar alguns minutinhos do meu dia na República também me renovou os ares. Então eu poderia dizer que foi o combo perfeito de acontecimentos em vinte e quatro horas. - Pude concluir, por fim.

Paula: Eu acho que você não sabe como eu te entendo, querida. - Talvez eu soubesse. Sabia que, para ela, era muito mais difícil o convívio, a princípio por serem tantos anos que nem ao menos se pode levantar a voz sem ser intimidada, e também por me ter como mais um desafio em sua vida. Ainda que ela não aceitasse que eu me denominasse assim, ambas sabíamos que era a realidade.

O convívio naquela casa era quase impossível, principalmente nos primeiros anos. Enquanto eu não podia sair do quarto (aquele momento em que me sentia numa prisão) eu não notava o quanto isso era estranho, mas, conforme o tempo ia se passando e eu ganhava a possiblidade de não estar apenas presa a um só cômodo daquele lugar eu notava isso. Ninguém poderia dizer um simples comentário sem que fosse ignorado ou repudiado. Isso era estranho. E horrível. Não entendia como todos ali - onde poucas vezes incluía Paula, mas existiam essas vezes - poderiam ser tão rudes e ignorantes uns com os outros.

El Destino | ThianaOnde histórias criam vida. Descubra agora