Dois: Ciúmes

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Escutei meus pais falando algo. De início não consegui assimilar o que eles falavam com a ligação, mas uma coisa me chamou a atenção. Duas, ao bem da verdade. Dois nomes. Helena — que não me surpreendia ser o meu — e Gutiérrez. Gutiérrez...

Porque a família do Víctor estava cobrando uma suposta dívida que eu nem sabia se era real?

Mas o que mais me intrigou foi a frase em si.

"Não podemos deixar a Helena saber do segredo e da dívida que temos com os Gutiérrez!" esta foi a frase dita pelo meu pai. Foi notório o peso que sua voz carregava.

Tentei ouvir mais, mas percebi passos em direção à porta do quarto, então rapidamente entrei no meu e fingi estar concentrada estudando. Logo minha mãe batia à porta do meu quarto, perguntando se estava bem.

Helena: Sim. Eu estou estudando para uns testes que terão essa semana. - Menti, algo que eu não costumava fazer, pedindo que ela não tenha notado a ponta de culpa que se estampou em minha testa.

Ela fechou a porta, retornando ao seu quarto. Eu tentei estudar. Mas minha mente estava tão intrigada que nem me concentrar consegui. Não era fácil você saber de uma coisa pela metade ou até menos. Eu precisava descobrir.

...

O dia estava completamente nublado, muito diferente do dia de ontem que não se via uma nuvem no céu. Uma neblina comum de inverno estava presente no céu, quase não se via o topo do prédio. Não se enxergava muito além no horizonte e era isso que eu temia.

Sempre ia de moto com o Víctor e sei que ele era um pouco atrevido ao acelerar mais do que o recomendado pelas placas de segurança. Não nego que às vezes gostava de sentir a adrenalina - e às vezes a morte - na veia, mas não naquele dia. Principalmente pelas coisas que eu havia escutado.

Suspiro agradecida por nada ter acontecido assim que coloco meus pés sobre o chão do estacionamento atrás  do prédio da faculdade. Ao pegar meu material suspiro com dificuldade. Coisas me pesam a cabeça de tanto pensar.

Víctor: Ei, garota avoada - chamou minha atenção provavelmente porque não escutei algo que ele me disse. Estava tão perdida em pensamentos. - Acho que não vai ter aula aqui no meio da rua.

Helena: É... tem razão. - eu ri um pouco sem graça. Mais tarde, ele perceberia que tinha algo errado comigo. - Vamos entrar. - Apesar de não ser uma pergunta e nem ter soado como uma, ele respondeu murmurando algo como um "sim".

Adentrando nos corredores da faculdade, logo nos separamos, como sempre. Víctor ia ter com os amigos e colegas de classe e eu... bem, normalmente ficava sozinha no refeitório escrevendo letras de músicas que eu me lembrava num caderno aleatório.

Quando percebi, já estava lá novamente. Sempre ficava num canto afastado, onde ninguém se atrevia a chegar. Eu gostava muito daquele lugar. A solidão ali não era uma simples solidão, mas sim uma paz que eu gostaria que fosse eterna. Sempre que eu me sentava num dos bancos mais afastados da movimentação sentia uma calmaria inigualável. Haviam sempre outras pessoas ali. Normalmente calouros ou góticos anti-sociais, e tenho certeza de que sentiam o mesmo que eu.

Numa mesa do refeitório cabiam até seis pessoas, mas, não sei como, tinham grupos que faziam caber até doze. Era comum nos intervalos das aulas - e até mesmo durante a aula - ver grupos de alunos por aqui. Normalmente matando aula, mas algumas vezes com uma vaga.

Peguei meu caderno de anotações e comecei a riscar algumas letras no papel. Era sempre assim. Letras iam e vinham da minha cabeça como meu celular dentro de casa (que eu perdia e achava a todo momento).

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