Vinte e Sete: "...Pouco Tempo"

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Foi frustrante, sim. Não vou negar que foi um pouco incômodo ter que segurar a curiosidade. Mas eu não estava tão ansiosa assim por descobrir. Era algo que eu nem sabia o que era. Mas... ah, quem eu queria enganar com a atuação horrível? Era claro que eu estava um pouco mais nervosa para descobrir sobre essa investigação. Thiago não me havia dito muitos detalhes, até porque nem ele sabia de muita coisa. Contudo, sabia mais do que eu. Ou não... Era fácil pensar que não. Talvez ele soubesse de coisas que eu não soubesse e estava esperando o momento ideal para confirmá-las, porém eu também sabia de algumas coisas que não o contava para não preocupá-lo. 

Coisas como o que acontecia na casa de Antônio...

Sabe quando as coisas estão estranhas e você apenas consegue se perguntar o que está acontecendo e nada muito além disso? Caso a resposta seja não, imagine a seguinte situação: uma professora de matemática começa a te explicar um conteúdo novo e você desvia a atenção por dois segundos para anotar o que ela explica e, quando volta a atenção, nota o quadro negro cheio de equações que não se faz a menor ideia de como resolver. Eu me sentia assim. Um grande "Quê?" se fazia presente a cada segundo em minha mente e eu tentava entender tudo no início e no fim das contas. 

Havia alguma coisa muito errada naquele ambiente e, tinha a certeza de que, Paula e Antônio (e talvez Víctor) sabiam que eu pressentia alguma coisa muito errada e pareciam querer que eu não desconfiasse de nada. Embora não me dissessem nada, o comportamento dos três era mais estranho do que o de costume, se isso já não parecesse um pouco impossível.

As únicas pessoas que não me pareciam estranhas naquela casa eram Manuel e Alex, embora eu nunca estivesse com os dois ao mesmo tempo. Isso me deixava um pouco para baixo. Alex e Manuel não se davam tão bem quanto aparentavam, tinham certas desavenças e, mesmo que estivessem os dois presentes, tendiam a não se falar muito. Muitas vezes Alex me ignorava e eu não entendia o motivo desse ciúme todo.

Ele dizia que não era, mas eu sabia bem reconhecer quando realmente a pessoa se sentia trocada e, automaticamente, com ciúme. Tentava me aproximar dele e conversar, mas mesmo quando Manuel não estava por perto ele parecia me evitar.

Está bem... talvez só o Manuel não estivesse estranho dentre todos ali. Eu esperava que isso durasse por um bom tempo. Não estava com muita vontade de me sentir sozinha novamente.

Manuel era um grande amigo. Realmente, um grande irmão. Embora parecesse estranho eu nomear qualquer um dos garotos assim (principalmente Víctor, visto o passado que eu tinha com ele), com Manuel parecia ser mais fácil. Desfrutávamos de uma amizade sincera e eu amava passar uns tempos com ele, principalmente quando era na residência, mas não reclamava se fosse naquela casa.

Aliás, o garoto conseguia fazer algo que eu nunca havia conseguido: chamava aquele lugar de casa. Ele se sentia bem lá, não poderia julgar. Mas eu não conseguia fazer o mesmo. Chamar de lar um lugar onde você não se sente confortável e faz de tudo para passar o mínimo tempo possível... não, não era para mim.

Íamos para a República logo pela manhã e eu sempre podia perceber seu cansaço. Eu sabia que ele não tolerava toda a minha energia tão cedo. Eu não sabia o que me fazia ficar tão animada para acordar e levar o dia com leveza, mas encontrava a resposta quando punha os pés dentro da residência. Sabe o verdadeiro significado de lar? Eu sentia que o meu era ali.

No decorrer do dia eu dava as "aulas" de piano para Manuel e para o Thiago. E, sim, poderia ressaltar que os dois tinham um grande e rápido desenvolvimento, embora, com Thiago, as aulas sempre terminassem da mesma forma: muitas risadas.

Eu amava quando isso acontecia. Me sentia muito mais leve do que já estava. Preocupações? Onde? Eu nem lembraria qual seria o significado dessa palavra. E essa era a mágica dali. Me fazia sentir que, independente de como fora meu dia, eu era realmente feliz.

El Destino | ThianaOnde histórias criam vida. Descubra agora