Vinte e Três: Promessas

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Uma boa companhia pode definir se um momento realmente foi especial, ou apenas mais um como tantos outros que podem se repetir no seu dia a dia. Parando para analisar, há várias pessoas que tendem a fazer seus dias ficarem mais chatos e repetitivos do que você está acostumado a enxergar. A questão ideal é sempre tentar se separar dessas pessoas para ter sempre uma novidade para contar quando for um momento adequado de conversa. Embora... para mim era um pouco mais difícil fazer do que era falar (na verdade, pensar, visto que falar também já não me era muito fácil àquela altura).

O mesmo comportamento estranho que Antônio tivera na noite anterior, ele estava tendo naquele dia. Aliás, eu não fui a única que havia notado essa mudança drástica de atitudes. Paula comentava, aos cochichos, comigo que "as curtas férias em Buenos Aires o haviam feito muito bem". Bom, eu concordava. Embora para mim e para ela também houvesse sido um grande alívio essas duas semanas mais que passamos apenas as duas na casa.

Víctor parecia estar ligado no "modo" amor, naquela hora. Parecia tentar puxar alguns assuntos que achava que eram do meu interesse, mas, na realidade, eu não estava com muita vontade de conversar naquele momento. Na realidade, ao bem de todos os fatos, eu queria entender o que acontecia com o pai dos meninos e por que ele estava tão estranho.

Ele parecia tentar demonstrar apoio, carinho e respeito com cada um de nós 4 - eu, Alex, Víctor e Paula -, algo que eu nunca o tinha visto fazer em todo o tempo em que eu estava por ali. Tempo esse que não era pouco. Queria demonstrar que, talvez, fôssemos unidos, para mascarar a realidade que sempre tendia a vir à tona com alguns comentários do Alex ou da Paula.

O Manuel parecia estar menos deslocado do que no dia anterior, mas ainda estava calado e não parecia muito a vontade com àquela realidade mascarada (poderemos chamar assim), sabia que Antônio estava forçando demais aquela barra.

E a Paula... estava estranha. Ainda que fizesse aqueles comentários mais leves sobre como estávamos com um pouco de paz e menos peso enquanto estávamos sozinhas, parecia que algo a incomodava. A percebi, várias vezes, tentando não encarar nem Antônio e nem o Manuel nos olhos, o que eu não entendia bem o porquê.

Naquele momento, estávamos na sala. Seus olhos se perdiam em algum lugar fixo no chão, mas seus pensamentos iam para muito mais longe do que gostaria de demonstrar, com certeza.

Ana: Paula? Tudo bem? - A questionei, preocupada. Estava dispersa demais para que eu não notasse que havia algo errado.

Não obtive respostas, de forma que me aproximei mais ao seu lado e segurei sua mão. Ela logo se assustou virando o rosto para mim. Seus olhos estavam quase sem brilho e algumas outras feições me indicavam que não, não estava tudo bem.

Ana: Aconteceu alguma coisa? - Tentei parecer serena, mas não sei muito bem se consegui passar essa sensação de tranquilidade. Ela me pareceu se esquivar de algumas respostas que rondavam sua mente.

Paula: Não, não, querida! Eu só estou pensando... - pareceu deixar a frase pender no ar, de forma que fiquei esperando sua conclusão por alguns segundos.

Ana: Mas pensando no quê, se isso parece te incomodar como nada mais te incomoda? - Tentei entender. Eu sabia que ela não queria me olhar nos olhos, porque desviou seu olhar rapidamente após minha pergunta, mas não entendia o porquê.

Paula: Eu tive uma conversa com o Antônio, mas não foi nada demais - meus olhos se arregalaram sem que eu pudesse controlar bem. Eu entendia, realmente, tudo o que acontecia quando ela usava esse tom de voz ao se referir a uma conversa que havia tido com aquele homem. E, normalmente, ela usava essa tonalidade para se referir ao que não acabara muito bem.

Ana: O quê? Ele te fez algo? Ele te machucou? - Perguntei com a preocupação se estampando a cada palavra em minha voz e em meu rosto a medida que ela não me respondia. - Paula... o que ele te fez?

El Destino | ThianaOnde histórias criam vida. Descubra agora