Oito: os Kunst

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Sim. O sorriso no meu rosto me dedurava. Eu sentia que minhas bochechas não queriam que eu desfizesse o sorriso imenso que tinha no meu rosto. Muito embora ele tenha me beijado só na bochecha, seria um belo começo.

Mas, bem, o que eu estava pensando? Eu não gostava dele da mesma maneira que eu gostava do Víctor no início, quando éramos apenas amigos, antes de tudo. Sentia uma forte conexão com Thiago. Isso era bom, não?

Eu poderia dizer que gostava dele?

Mesmo em meio ao mar de perguntas, meu sorriso de orelha a orelha me denunciava a quem me visse.
Constatei isso ao me olhar no reflexo do celular antes de entrar em casa. Meu olhar estava como o de uma boba adolescente apaixonada das séries americanas que passavam na TV. Eu tentei ocultar meu sorriso, curvando meus lábios para baixo, mas ao tentar isso sempre escapava uma risadinha de contentamento e eles voltavam a posição inicial.
Não teria jeito. Constatei. Teria que encarar perguntinhas desanimadoras dos meus pais a todo custo. Sem hesitação, girei a maçaneta e entrei em casa.

A casa estava mais iluminada do que o comum. Demorou alguns segundos, mas logo me acostumei com a claridade do local. Haviam muitas luzes desnecessárias acesas e, com isso, constatei que meu pai não estava em casa pois ele sempre fica reclamando do gasto desnecessário de energia.
Não julgo, é ele quem paga as contas.

Ri com meu pensamento e apaguei a luz do primeiro cômodo.

Estava seguindo o corredor que levava até meu quarto quando passei por uma porta (a do quarto de Bia) e a vi tentando dedilhar as cordas do pequeno instrumento.

Me encostei no batente da porta sem que ela me percebesse. Sua concentração ao tentar - sem sucesso - tocar o ukulele era estranha para uma criança e fofa ao mesmo tempo.

Seus dedinhos pequenos não tinham força o suficiente, por isso não conseguia que os acordes tivessem um bom som. E, quando conseguia fazer certinho um acorde, não tinha coordenação motora o suficiente para que pudesse logo fazer outro e outro. Era incrível sua perseverança. Creio que qualquer pessoa da idade dela já teria desistido, já que Bia treina já há semanas.

Bia: Ah eu desisto - jogou o instrumento sobre a cama e cruzou os braços fazendo biquinho.

Helena: Ei, ei, ei! O que foi isso? - Eu a repreendi me aproximando mais dela. - Você sabia que os instrumentos também tem sentimentos?

Bia: Mas ele deve estar brincando comigo, não consigo tocar nada direto - Virou o rosto para não ter de me encarar nos olhos. Seu olhar baixo revelava sua frustação por não conseguir realmente tocar o instrumento.

Helena: Ei, maninha! - Sentei-me ao seu lado para que pudesse abraçá-la lateralmente. Ela virou a cabeça para mim, mas não levantou o olhar. Prossegui assim mesmo - Você tem que ter muita paciência e dedicação com qualquer instrumento que possa pensar em aprender, em conhecer, em tocar - Segurei a mão com dedos marcados pelas cordas de nylon que há pouco seguravam com muita força as mesmas para marcar um acorde. - E... bom, se você me pedir algum conselho eu talvez possa dar - Seu olhar finalmente se levantou para o meu.

Bia: É sério que você me ajudaria? - Fiz uma careta pensativa para brincar com ela.

Helena: Claro, maninha!! - Concordei com fervor a abraçando mais forte - Música é um compromisso, e eu adoraria dividí-lo com quem eu mais amo.

Seu rosto se iluminou e seu sorriso fez meu coração se aquecer. Sempre que ela sorria tão doce pra mim, com um olhar tão vibrante e contente, eu me lembrava do porque a amava tanto: porque não tinha como não amar! Bia era tão pequena e tão especial. Meu mundo inteiro era ela. A parte mais especial de meu coração pertencia à minha irmã (mas essa não era uma informação que eu dizia à todos, obviamente).

El Destino | ThianaOnde histórias criam vida. Descubra agora