Vinte e Nove: Perguntas

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Ânimo. Essa palavra tendia a descrever o estado de espírito em que eu me encontrava por aqueles dias. Animada. Esse sentimento poderia ser flexionado para repassar qualquer mensagem através do meu sorriso estampado no meu rosto ou qualquer outro sinal de que eu estive feliz. Algumas coisas contribuíam para esse estado de espírito de animação, contudo outras, nem tanto.

Haviam coisas que eu tentava deixar de lado, tentava não pensar e, de certa forma, conseguia não pensar durante um bom tempo. Mágica? Talvez... na verdade, duvidava muito. Haviam sentimentos que eu estava aprendendo a disfrutar novamente em mim: a paz. Talvez saber filtrar o que pensar e o que não pensar no momento era a parte da mágica que eu gostaria de poder explicar - e de ter aprendido antes como acontecia. Mas... havia mais uma coisa que me deixava assim, em um estado quase que de êxtase, e, talvez, eu estivesse demorando um pouco para perceber. 

O.k., talvez mais do que eu pensava que estaria...

Todas as vezes que ele me dirigia um sorriso calmo ou confiante ou um olhar sereno ou intenso eu sentia tudo se acalmar mais e mais. Tinha como ter uma sensação melhor? Sempre achei que a resposta fosse não (ao menos até o dia seguinte e sentir aquela mesma, contudo parecia sempre ser mais forte). Aquilo parecia esvair minha mente de preocupações que eu sempre tinha. E eu o agradecia com o olhar todas as vezes em que sentia minha mente muito mais calma do que tendia a ser. Ele me transportava paz e eu era muito grata por isso.

Thiago e eu estávamos conseguindo progredir nas aulas, um progresso contínuo desde que eu ameaçara a dizer que Manuel seria meu aluno favorito caso sua distração fosse atrapalhar todas as aulas. Sempre que eu me lembrava disso o humor invadia em minha mente. Ele levara a serio algo que eu fiz apenas para uma brincadeira, com medo de perder o posto (secreto, devo ressaltar) de aluno favorito. 

Eu gostava muito das aulas com ele. Na verdade, gostava de todas as aulas que tinha com Manuel e Thiago, mas as com meu melhor amigo eram um pouco mais especiais. Não entendia bem o porquê, mas as aulas com ele eram os melhores momentos das minhas terças e sextas. Fazíamos sempre entre trinta minutos e uma hora, porque sim, era cansativo. É difícil conseguir aprender a tocar o piano e torna-se um pouco cansativo, ainda que você esteja engajado, ainda que você queira, é normal se cansar.

E, no fim de cada aula, eu ainda o cobrava sobre as aulas de basquete. Ainda que estivesse o convencendo aos poucos, ainda tinha que treinar muito meu poder de persuasão. Às vezes eu pensava que ele não me deixava jogar juntamente à ele por pensar que poderia me superar, visto a primeira e última vez, até o momento, que eu tinha jogado com ele.

Sorri com a memória, lembrando daquele dia. Aquele tempo tendia a me inspirar nostalgia e uma tristeza, melancolia, algum sentimento profundo que eu não gostaria de sentir. Mas lembrar de tudo o que eu vivi numa antiga vida e comparar com o que vivia naquele momento me deixava com esse sentimento mais melancólico.

Thiago: Sabe que eu não gosto de te ver com um sorriso triste no rosto - havíamos recém encerrado a aula quando minha mente vagou novamente pela memória que muitas vezes batia repetidas vezes em minha mente.

O fitei após chacoalhar a cabeça. Seus olhos sobre mim, como se analisasse meus mais profundos sentimentos, do jeito como havia feito nos últimos tempos. E então meu sorriso aparentemente triste se dissipou, dando o sentimento de conforto que eu sentia ao seu lado.

Os últimos dois meses foram quase sem novidades, tanto para ele quanto para mim. Ainda estava naquela intenção de passar o máximo de tempo que conseguia na residência antes de me encontrar com as pessoas naquela casa. Eu tinha um certo receio de voltar, todavia, mas não mais um medo que pudesse me consumir. 

A investigação que Thiago estava fazendo (e tentando me envolver o mínimo possível, pude perceber) não parecia receber muitas atualizações. Ele recebia algumas mensagens sobre pontos e pesquisas em andamento, mas nunca me dava uma resposta e, eu podia perceber, que era bem porque ele se fazia as mesmas perguntas que eu. 

El Destino | ThianaOnde histórias criam vida. Descubra agora